A convidada do programa CT Entrevista, com o jornalista Cleber Toledo, nesta terça-feira, 14, é a doutora em antropologia social Reijane Pinheiro da Silva, professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e do curso de Nutrição da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Ela é uma especialista na questão indígena e, como os demais estudiosos da área, avalia que a crise extrema do povo yanomami é um projeto deliberado de genocídio e etnocídio. “Nos últimos quatro anos, o que a gente viu, primeiro, foi um desmonte dos órgãos ambientais de fiscalização, das forças que poderiam inibir as invasões [de garimpeiros]. As forças de segurança foram desarticuladas, a própria Fundação Nacional do Índio viveu um processo de desmantelamento. A gente entende que isso é proposital”, afirmou.
SÉRIO DE INSEGURANÇA ALIMENTAR
No Tocantins, a professora disse que os povos indígenas também enfrentam um problema sério de insegurança alimentar. “Quando o território é afetado, a segurança alimentar também é afetada”, pontuou a especialista, lembrando que, com a criação do Estado, há pouco mais de 30 anos, houve um aumento da pressão sobre os territórios indígenas.
TUDO DESMATADO EM VOLTA
Sobretudo com o avanço do agronegócios, que cercaram as terras dos povos originários com grãos. “Há uma terra preservada, protegida, o que é importante para todos nós, mas no entorno dessas terras está tudo desmatado. A gente tem um processo de desertificação do cerrado muito acelerado”, lamentou a doutora em antropologia social.
QUAIS OS BENEFÍCIOS
Ela ponderou que não se está defendendo que se acabe com o modelo de desenvolvimento existente, mas que é preciso reconhecer “quais são os benefícios para a sociedade de um projeto como o agronegócio, que é fundamentalmente exportador”. “Quem é que produz realmente a comida que chega à mesa do povo brasileiro é a agricultura familiar”, observou.
EXTERMÍNIO E INTEGRAÇÃO
Reijane afirmou que a população indígena da região onde está o Tocantins, que atualmente conta com pouco mais de 13 mil pessoas, já foi “infinitamente maior”, mas acabou reduzida drasticamente, primeiro, por tentativas de extermínio e, depois, de integração dessas populações.
CONTAMINAÇÃO PROPOSITAL
A especialista disse que o antropólogo, historiador e sociólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) conta em sua obra que na região de Tocantínia as águas dos rios chegavam a ser contaminadas com veneno para que os indígenas tomassem e morressem. Houve casos de doenças deliberadamente disseminadas, como pela contaminação proposital por varíola, chamada de bexiga. “Eles deixavam roupas contaminadas nas cercas, os indígenas pegavam essas roupas e levavam para as aldeias. Em questão de dias, toda uma aldeia era exterminada”, afirmou a professora.
MAIS PERGUNTAS DO QUE RESPOSTAS
Sobre as propostas de desenvolvimento que vez ou outra surgem da política brasileira para os povos originários, Reijane defendeu que é importante ouvir o que as comunidades indígenas têm dito sobre a relação deles com a terra. “A forma como eles se relacionam com a terra é diferente da nossa, então, eu acho que, em primeiro lugar, a gente precisa é ter mais perguntas do que respostas”, defendeu.
ESPERANÇA
Apesar de toda as dificuldades, e das crises extremas, como no caso dos yanomami, Reijane avaliou que o momento é favorável para que o País “faça esse diálogo” e escute os povos indígenas. Ela apontou como bons sinais que dão esperanças a criação do Ministério dos Povos Originários, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e da Secretária dos Povos Originários, como a do Tocantins, no governo Wanderlei Barbosa, ambas as pastas comandadas por indígenas. “Não dá mais pra discutir sobre povos indígenas sem os povos indígenas, e é por isso que eu digo que tenho esperança neste momento. É porque a gente tem agora com mulheres e homens indígenas ocupando espaços estratégicos para pensar sobre políticas para esses povos”, afirmou.
Assista a íntegra entrevista com a professora Reijane Pinheiro da Silva: