A Polícia Civil convocou coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira, 29, para apresentar a conclusão do inquérito referente a morte de três membros da mesma família na zona rural de Paraíso do Tocantins. O caso trata de pai e filho que foram encontrados carbonizados em um dos cômodos da residência e a mãe no quintal da propriedade, degolada. A hipótese inicial era de triplo homicídio, mas a Delegacia Estadual de Investigações Criminais (DEIC) concluiu que houve apenas duas destas ocorrências e um suicídio.
De acordo com a Polícia Civil, o corpo da mulher, Ivani Ribeiro dos Santos, foi encontrado no quintal com um corte profundo na garganta, provocado por facão. Já os corpos carbonizados do filho Márcio Gonçalves de Souza, de 36 anos, e do marido, Acácio Gonçalves de Souza, estavam dentro de um quarto, que pegou fogo. Os homicídios seguidos de suicídio aconteceram na madrugada do dia 22 de setembro e os corpos foram encontrados na tarde do dia seguinte.
Filho é o autor dos crimes
Para o delegado Eduardo de Meneses, o autor dos crimes teria sido o filho, Márcio Gonçalves de Souza. Segundo informações, ele possuía desavenças constantes com o pai e teria sugerido na véspera do crime que os familiares teriam uma “surpresa em breve”. Para o delegado, após as análises de peritos oficiais da Genética Forense, órgão ligado ao Instituto de Criminalística da Secretaria da Segurança Pública (SSP), e depoimentos colhidos de testemunhas, foi descartada a participação de uma terceira pessoa.
Outra hipótese, a de crime com motivação por um possível conflito agrário, também foi rechaçada. “De plano o latrocínio foi descartado. O desentendimento envolvendo terra também foi descartado e com a tomada dos depoimentos de familiares e pessoas próximas, detectamos um clima de tensão e animosidade entre pai e filho, somado a um possível distúrbio mental do autor, que já teria informado que um dia iria colocar fogo na residência, que foi acompanhada por outros familiares”, afirmou Eduardo de Meneses.
O delegado informou ainda que, durante os depoimentos das testemunhas, foi identificado que Márcio Gonçalves possuía um possível comportamento agressivo com os pais. Desempregado, passava a maior parte do dia ouvindo música com fones de ouvido, assistindo à televisão e não contribuindo com o orçamento familiar.
Crime Premeditado
Durante entrevista coletiva, o delegado Eduardo de Meneses deu detalhes sobre o duplo homicídio seguido de suicídio. Para o delegado, horas antes do crime o autor teria informado aos familiares dos seus planos.
“No dia do crime, ele recebe a visita de familiares e chama a atenção um determinado comportamento que ele tomou ao dizer: “logo vocês vão ter uma surpresa!”. A fala do autor, assim como o encontro de uma corda enrolada no pescoço de um dos cadáveres, posteriormente identificado como o filho do casal, confirmou a hipótese de um duplo homicídio seguido de suicídio”, afirmou.
Ainda de acordo com o delegado, o automóvel da família, encontrado queimado em uma estrada próxima à residência familiar, indica que, após cometer os homicídios, o autor teria pegado o carro, mas, por não saber dirigir, teria realizado uma manobra irregular e saído da pista.
“Isso também era motivo de desentendimento entre pai e filho, uma vez que o senhor Acácio possuía muito ciúme do carro. Ao não conseguir realizar a manobra, ele retornou à residência, colocou fogo no quarto onde estava o corpo do pai e se enforcou em seguida”, ressaltou.
Reconhecimento
Em decorrência do avançado estágio de carbonização dos dois corpos (pai e filho), a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), através do departamento de Genética Forense do Instituto de Criminalística, encaminhou um perito oficial ao Estado do Maranhão para realizar a identificação dos corpos por meio dos exames de DNA, uma vez que a principal hipótese da investigação, posteriormente comprovada, necessitava da identificação dos corpos, já que um deles continha restos de produto semelhante a corda, o que causou a morte do autor por asfixia mecânica, tipo enforcamento.
Segundo a Diretora do Instituto de Criminalística, Dunya Wieczorek Spricigo de Lima, o exame de identificação genética dos corpos foi realizado por perito oficial do Tocantins em laboratório maranhense conveniado e a previsão é de que no segundo semestre de 2019 já possa ser realizado integralmente em nosso Estado.
“Temos profissionais tecnicamente capacitados em nossos quadros para a realização dos exames de identificação por DNA e, recentemente, conseguimos a aquisição dos equipamentos necessários para a realização de todo o procedimento no Tocantins, após a conclusão de suas instalações e treinamento de pessoal, com previsão para o próximo semestre”, ressaltou.
Antes da identificação genética, o Instituto Médico Legal do Tocantins buscou a identificação dos corpos carbonizados por meio de exames de odontologia forense, contudo, mesmo com a intensa pesquisa do Instituto e da unidade de polícia responsável pelas investigações para o levantamento de prontuários odontológicos de autor e vítima, não foi possível a conclusão dos trabalhos.
“A identificação via odontologia forense é realizada através de confrontação da arcada dentária submetida a exame pericial e o prontuário mantido por clínicas odontológicas e profissionais, mas neste caso não conseguimos êxito no encontro desses documentos, o que demandou a realização dos exames de DNA, em regra, mais complexos e que demandam maior tempo para sua conclusão”, destacou a diretora do IML, Georgiana Ferreira Ramos.
O traslado dos restos mortais de pai e filho está sendo realizado pela unidade do Instituto Médico Legal (IML) de Paraíso e a previsão é de entrega aos familiares ainda nesta quarta-feira, 20. O delegado ressalta que, antes da realização da entrevista coletiva, os familiares foram devidamente notificados do resultado das investigações. (Com informações da Secom/SSP)