O processo de concessão dos serviços turísticos dos parques estaduais do Jalapão, do Cantão, do Lajeado e do Monumento Natural das Árvores Fossilizadas foi tema de uma audiência promovida no sábado, 11, pela Arquidiocese de Palmas. Além do Arcebispo, Dom Pedro Brito Guimarães, a reunião contou com a presença dos líderes das Dioceses de Miracema, Dom Phillip; de Cristalândia, Dom Queirós; e de Tocantinópolis, Dom Giovane; bem como dos deputados estaduais Júnior Geo (Pros), Elenil da Penha (MDB) e Valdemar Júnior (MDB) e ainda do procurador Álvaro Manzano.
Igreja está com os mais frágeis
Como a Assembleia Legislativa já autorizou o Estado a realizar as concessões, Dom Pedro Brito Guimarães ressaltou a importância da mobilização e cobrou maiores explicações sobre o projeto, defendendo a ampliação da discussão e alertando para as possíveis ameaças ao bem coletivo. “Devemos nos preocupar com o bem das comunidades tradicionais e todos os que moram nas regiões dos parques estaduais. A Igreja se coloca ao lado dos mais frágeis e mais pobres que nesse processo, se não for bem realizado, serão os que mais sofrerão”, assegurou.
Processo está sendo feito de forma obscura
Padre da Paróquia Imaculada Conceição, em São Félix do Tocantins, Wagner de Las Casas contou que o sentimento do povo é de insegurança e medo. “O processo todo está sendo feito de uma forma muito obscura. Tudo feito às portas fechadas sem envolver nem ouvir a comunidade. O parque está dentro da nossa região, nós deveríamos ter sido ouvidos. Isso expressa a falta de respeito, invadiram nossa privacidade. A concessão é boa ou ruim? Pode ser boa e pode ser ruim. A questão é o diálogo. Nós deveríamos ter sido ouvidos”, queixou-se.
Artistas manifestam apoio incondicional as comunidades jalapoeiras
Além da comunidade católica, artistas tocantinenses também se manifestaram sobre a concessão do Jalapão. A carta aberta assinada por Dorivã, o Passarim do Jalapão; Cícero Belém, Everton dos Andes, Eva Pereira, Goianyr Barbosa, e corroborada por Elenil da Penha e o ex-deputado Paulo Mourão (PT), declara “total e incondicional apoio à comunidade jalapoeira, principalmente a quilombola”. O texto questiona a celeridade do projeto, a falta de discussão com os impactados e a falta de consideração quanto à questão fundiária da região. “O governo deveria se preocupar em proporcionar infraestrutura […]. Pedimos mais transparência, diálogo com a sociedade local, para que isso possa ser um projeto participativo, inclusivo”, defendem.
Leia abaixo a íntegra:
Após encontro com o ex-deputado Paulo Mourão e o deputado estadual Elenil da Penha, nesta quarta-feira, dia 15, decidimos publicar essa carta aberta, manifestando total e incondicional apoio à comunidade jalapoeira, em especial à comunidade quilombola.
Não entendemos a necessidade de tamanha celeridade do governo em impor um projeto, através de uma lei repleta de inconstitucionalidade e de tamanho desrespeito à sociedade como um todo, causando transtorno e preocupação às comunidades locais.
Questionamos porquê de uma hora pra outra seja tomada uma atitude de tamanha envergadura, sem haver discussão com a população, a fim de que as comunidades locais pudessem entender se são medidas viáveis ou não, benéficas ou maléficas.
Além do mais, a região do Jalapão padece há muito tempo de uma regularização fundiária. Todos os oito municípios que compõem a região, tem uma estrutura extremamente precária, assim como falta de infraestrutura urbana, rural e rodovias com segurança, para o deslocamento.
Quando ocorre um acidente ou alguém precisa de atendimento médico urgente a única alternativa é o fretamento de aeronave para salvar vidas.
Estivemos no Jalapão e as comunidades estão altamente preocupadas, por não se sentirem respeitadas e muito menos incluídas no modelo de desenvolvimento proposto pelo governo atual.
No nosso entendimento, o governo deveria se preocupar em proporcionar infraestrutura de educação, saúde, dos modais que ligam às cidades, de turismo, respeitando os micro empresários locais e operadores do turismo. As cidades não têm urbanismo, asfalto, sequer um hospital para atender a população e os turistas.
O Jalapão recebe por ano mais de 40 mil turistas, sem as menores condições de infraestrutura e apoio ao turismo.
Pedimos ao governo mais transparência, diálogo com a sociedade local, para que isso possa ser um projeto participativo inclusivo para que não cause prejuízo à sociedade como um todo, em especial aos nossos heróicos povos quilombolas, aos pequenos empresários locais, donos de pousadas, donos de restaurantes e operadores do turismo.
Também pedimos que o governo assuma sua responsabilidade de oferecer condições de infraestrutura ao Jalapão.
Reiteramos o nosso integral apoio aos povos tradicionais quilombolas, às comunidades locais, ao povo em geral, no posicionamento contrário à Lei 3.826/2021 e aos seus efeitos maléficos, ora apresentada pelo governo Mauro Carlesse.
Dorivã (Passarim do Jalapão)
Cícero Belém
Everton dos Andes
Eva Pereira
Goianyr Barbosa
Elenil da Penha
Paulo Mourão”