A reunião de segunda-feira, 20, da comissão da bancada federal tocantinense sobre a pandemia de Covid-19 contou com a participação de Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e que lidou com o início da crise epidemiológica no País até 16 de abril. O político democrata fez uma extensa explanação sobre como lidar com a doença em uma série de níveis, bem como comentou a falta de testes em profissionais da saúde denunciada por representantes da Medicina e Enfermagem no Tocantins.
Estado não tem protocolo de testagem de profissionais da saúde
A presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren), Emília Marina Reis, foi a primeira a falar sobre a situação da rede de saúde pública, e elencou como “maior desafio” a falta de testagem. “Não existe um protocolo interno para que o profissional faça este teste [para Covid-19] regularmente. Ele precisa apresentar sintomatologia e ter contato com um caso suspeito ou confirmado. Só depois disto que vai ser notificado, acompanhado pela segurança do trabalho e ser testado”, relatou a representante, defendendo a implantação de um sistema de diagnóstico dos profissionais pelo menos quinzenal. Outros gargalos citados pelo Coren foram a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) e a necessidade de maior capacitação dos trabalhadores.
Colegas trabalham doentes sem saber
Presidente do Sindicato dos Médicos (Simed), Janice Painkow falou em seguida e fez coro à Emília Reis em relação a falta de testagem. A sindicalista destacou em especial a falta de resposta da Secretaria de Saúde (Sesau) em relação a esta reivindicação, o que levou a entidade a entrar na Justiça para garantir os testes, mas o pedido foi negado. “Hoje nós temos colegas na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e estão contaminados e trabalham sem saber que estão sem contaminados”, alerta. Falta de capacitação e a promessa não cumprida do governo de bônus para os profissionais que atuam contra a Covid-19 também foram pontos citados pela representante. Sobre os leitos, o Simed afirma que o número não é suficiente, principalmente em um cenário de reabertura precoce no Tocantins.
Gestão de recursos humanos é um dos pilares no combate à Covid-19
Ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta (DEM) fez um longo resumo da evolução da doença no mundo e a chegada dela no País, a dificuldade na aquisição de EPIs, respiradores e demais produtos para combater Covid-19. Ao falar da testagem, o político destacou a importância da utilização dos testes rápidos para os profissionais da saúde, visto que a eficácia dele melhora a partir do 10º dia do contato com a doença, o que é compatível com a realidade dos médicos e enfermeiros que sempre estão em uma zona de alta probabilidade de infecção. “Ele [o teste rápido] tem que estar ali [hospital] à vontade. Começou a virar anticorpo, este pessoal tem que ser afastado. A gestão de recursos humanos é um dos pilares. Estes profissionais vão cuidar da gente. Eles a gente tem que blindar”, comentou.
Como se fosse uma guerra
Ainda sobre a gerência de pessoal da saúde, Mandetta também falou da importância da capacitação de médicos e enfermeiros, não apenas daqueles das áreas vermelhas, por prever a necessidade de rotatividade devido à contaminação. “A linha de montagem dos recursos humanos tem que ter o pessoal que vai na frente, a primeira linha, e imediatamente capacitar uma segunda atrás. Como se fosse uma guerra. Na hora que este pessoal cair doente, esta segunda linha tem que estar capacitada”, defendeu.
Ninguém na União assume responsabilidade frente à Covid-19
Ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro, Mandetta não deixou de criticar a atuação gestão do governo federal e demonstra preocupação com os impactos do ano eleitoral na postura dos gestores frente à pandemia. “O que estou vendo é que a União saiu da parte de gerenciamento técnico deste programa de coronavírus. Ninguém fala sobre isto, não tem coletiva, ninguém assume nada, e isto vai ficar na conta de governador e prefeito. Prefeito só pensa nas próximas eleições, porque está na boca e é duro tomar medida amarga. E muito governador lava as mãos. Mandar o dinheiro sem assistência técnica é igualzinho dar dinheiro para agricultor que não sabe o que vai fazer com calcário, com semente”, exemplificou o democrata para a senadora tocantinense, que é agropecuarista.
Recursos para o combate a Covid-19
No início da transmissão, a senadora Kátia Abreu havia feito um balanço de recursos direcionados ao Estado com o trabalho feito pela bancado federal. Segundo a parlamentar, o Palácio Araguaia recebeu R$ 732 milhões para combater a pandemia, podendo chegar a R$ 850 milhões se contar a suspensão de dívidas com a União. Os municípios tocantinenses receberam R$ 502 milhões, incluindo a prorrogação do débito com o governo federal.
Não acreditem em bruxarias
Henrique Mandetta ainda deixou mais uma alfinetada no presidente Jair Bolsonaro, defensor ferrenho de remédios sem comprovação científica de eficácia contra a Covid-19. “Não acreditem em bruxarias, duendes, fadas. Não tem remédio fácil. Se essa cloroquina funcionasse falei para o presidente que deveria se colocar para o prêmio Nobel de Economia e de Saúde, porque o planeta inteiro está procurando. Não é uma coisa que só nós sabemos no mundo. Não existe isto. Vai ter que ter paciência, garra foco. É duro”, prevê.
Mandetta presidente
Após o ex-ministro responder às perguntas dos participantes e espectadores, Kátia Abreu encerrou a transmissão lançando-o à Presidência da República. “Se for candidato a presidente, eu voto no senhor. Tem toda a condição”, disse a tocantinense. “A conta começa de um”, brincou Henrique Mandetta.
Confira a íntegra da reunião: