A educação emocional como um fator decisivo para a melhoria dos relacionamentos humanos, bem como as diretrizes obrigatórias vigentes na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), exigência na grade curricular das escolas de todo o País a partir de 2019, são temas da palestra que será ministrada pelo professor João Roberto de Araújo no IV Fórum Extraordinário da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime/Tocantins). A palestra vai acontecer nesta quinta-feira, 19, a partir das 14 horas.
João Roberto é mestre em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), professor visitante da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara (EUA), no Centro de Mudanças Educacionais. Fundador e orientador de conteúdo da Inteligência Relacional, organização pioneira em pesquisa, criação de material pedagógico e formação de educadores para a educação emocional e social em todo Brasil. Atualmente é comentarista da Rádio CBN Ribeirão, na coluna Educação para a Vida.
Para o professor João Roberto, é preciso sentir para aprender. Segundo ele, “não há emoções boas ou ruins”, pois “todas cumprem uma função importante”. “A questão é o modo como lidamos com elas”, defendeu.
Confira a conversa dele com o CT:
CT: O que é a Educação Emocional e Social?
Professor João Roberto: A Educação Emocional e Social é uma inovação pedagógica que surge da confluência de diversos ramos do conhecimento como a Pedagogia, a Neurociência, a Psicologia e as Ciências Sociais. No contexto mundial, especialmente no brasileiro, as questões de enfrentamento ao uso e abuso de drogas, do desempenho acadêmico dos estudantes, da evasão escolar e da construção de um senso de cidadania e responsabilidade entre nós mesmos e o meio ambiente tornaram-se improrrogáveis. As matérias ensinadas atualmente na escola, como Matemática, Linguagem e Ciências são fundamentais, porém, não têm sido suficientes para responder a esses desafios, pois são apresentadas separadas de seus componentes afetivos e emocionais, em uma lógica de prevalência da razão sobre a emoção. Ou seja, educar para as emoções é uma forma de prevenção que alcança vários âmbitos.
CT: Como as emoções influenciam na educação?
Professor João Roberto: As emoções nos acompanham todos os dias. São as emoções que nos fazem ter interesse por um determinado assunto e nos motivam a conhecê-lo mais e mais. Porém, também são elas que nos fazem querer fugir, quando o tema não nos é prazeroso ou quando nos causa ansiedade, angústias e frustrações. De qualquer modo, é preciso sentir para aprender. Não há emoções boas ou ruins, pois todas cumprem uma função importante. A questão é o modo como lidamos com elas, isto é, se, a partir delas, somos capazes de dar respostas construtivas ao invés de destrutivas.
CT: Como colocar em prática?
Professor João Roberto: Colocar a Educação Emocional e Social em prática implica o desenvolvimento de metodologias com materiais pedagógicos com consistente embasamento teórico, formação inicial e continuada, acompanhamento dos educadores envolvidos e avaliação dos resultados com instrumentos reconhecidos e validados. Por isso, a ação da Metodologia Liga Pela Paz nas escolas está estruturada em 5 pontos: Material Pedagógico, Encontro de Sensibilização e Formação Inicial, Acompanhamento Pedagógico, Formação Continuada e Avaliação de Resultados. Contudo, para desenvolver competências emocionais nos educandos, não basta ministrar conteúdos.
CT: A família é envolvida?
Professor João Roberto: A Inteligência Relacional desenvolve uma proposta de trabalho pedagógico que alcança escola, famílias e comunidade. A família, com certeza, aparece como grande “centro” do educando, por isso deve ser acolhida sempre. Os conteúdos desenvolvidos em sala de aula atuam, mesmo que indiretamente, no contexto familiar, gerando mudanças significativas.
CT: O que já temos de resultados?
Professor João Roberto: Em cinco anos, a Inteligência Relacional impactou, só na Paraíba, mais de 157 mil alunos, de 7 mil professores, de 180 mil famílias, sendo trabalhados conteúdos de Educação Emocional e Social em 650 escolas do município. Os números impressionam: 43% das famílias deixaram de ser negligentes com seus filhos, 40% dos pais reduziram o abuso físico com estes e 51% das famílias saíram da zona de risco. Entre os alunos da Paraíba, 78% conquistaram habilidades emocionais e sociais e aprenderam a lidar melhor com situações de violência; 51% ficaram mais interessados e participativos nas aulas e 52% diminuíram a impulsividade, apresentando menos atos violentos.