O infectologista Flavio Augusto de Pádua Milagres, professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e do ITPAC Palmas e ainda médico do Centro de Informações Estratégicas e Resposta de Vigilância em Saúde (Cievs) do Estado, afirmou em live no Instagram da Coluna do CT na noite dessa terça-feira, 31, que todos os serviços de saúde privados e públicos estão neste momento tentando compor as equipes para o enfrentamento à Covid-19, o novo coronavírus. Segundo ele, uns já têm número satisfatório e outros buscam reforços.
Enfrentamento breve
Milagres contou que o Hospital Geral de Palmas (HGP), onde também atua, está unindo força à UFT, através dos residentes que estudam e prestam serviço no Estado. “Estamos em certa tranquilidade [neste momento], aguardando força, nos energizando, estruturando as bases para um enfrentamento breve”, avisou.
Os serviços não dão conta
O especialista afirmou que, “infelizmente”, a demanda pelos hospitais do Estado será grande com o avanço da Covid-19 nas próximas semanas. O infectologista fez uma conta para que se tenha noção do tamanho do problema: considerando que Palmas, com 300 mil habitantes, tivesse só um terço desse total (100 mil) e 10% forem contaminados pelo novo coronavírus, teremos 10 mil pessoas infectadas. Se dessas, 5% precisarem de cuidados intensivos ou que evoluam com gravidade, já se está falando de 500 doentes ao mesmo tempo. “Os serviços não dão conta e é esse o problema”, alertou.
Estado já em saturação
Assim, Milagres contou que a preocupação maior é o acumulo imediato de pacientes e ele lembrou que os serviços de saúde do Estado já vivem em saturação. “As outras doenças não vão parar. Acabando a chuva, aumentam os casos de dengue. Teremos que manejar as duas [dengue e Covid-19], que exigem pronto-atendimento. A gente já está saturado”, reforçou.
Não é momento de flexibilizar
Por isso, ele repete o mantra das autoridades de saúde, o momento “exige impor isolamento”. “Não é momento de flexibilizar. É preciso muita cautela porque as perspectivas não são boas para esse enfrentamento”, disse.
Em parte
Dessa forma, sobre a flexibilização da quarentena que estão sendo promovidas pelos prefeitos, o infectologista disse que concorda “em parte”. Ele avaliou que inicialmente “houve comoção por falta de assessoria ou decisão política excessiva” e talvez foi “adiantada um pouco” a paralisação tanto em Palmas quanto no Tocantins. No entanto, o médico disse que essa antecipação vai gerar benefícios ao Estado no combate à doença.
Criar uma dinâmica
Para ele, ao afrouxar as medidas de quarentena, os prefeitos precisam criar uma dinâmica. “Não pode abrir tudo novamente. Se abrir um serviço essencial, não pode entrar mais de dez pessoas nem aglomerar gente na porta aguardando atendimento, como ocorreu num supermercado de Palmas”, alertou.
Muita moderação
Milagres defendeu que, se for retomar parte das atividades econômicas agora, isso deve ser feito “com muita moderação”.
Mais rigor
Ele reforçou que a pandemia está indefinida e, assim, se abrir e fechar estabelecimentos vai se criar uma dificuldade muito grande no combate à doença. “Entendendo que poderá ser necessária nova restrição. Daqui a semanas podemos ter que reconstituir o isolamento de forma mais rigorosa”, disse.
Sem sintomas
Sobre a falsa sensação de que o perigo não é tão significativo por falta de número elevado de casos, o médico afirmou que uma publicação cientifica mostrou que quase 75% das transmissões ocorrem sem sintomas num período de quatro a cinco dias. Assim, ele contou que, provavelmente, muitos contaminados estão transmitindo a Covid-19 para seus contatos e parentes, o que, defendeu, reforça a necessidade do isolamento.
Não acreditar na curva
Milagres lembrou que não há testes suficientes para diagnosticar os casos do Estado, por isso, que hoje o “Tocantins não tem como acreditar na curva” da doença, que conta apenas 12 confirmações. O médico disse que de 70% a 80% dos casos não são diagnosticados em realidades como a do Estado. Não há testes suficientes e muitos dos doentes [em 80% deles] a doença se apresentará na forma branda. Contudo, eles terão de 10 a 14 dias de transmissão da Covid-19. “Por isso que a expectativa é difícil, sempre temos que pensar a mais do ponto de vista da prevenção e ações de combate”, afirmou.
Fique em casa!
O especialista avisou que a palavra de ordem do momento é mesmo fique em casa. “Se eu pudesse ficaria, quem pode fica. Ainda mais idosos, que tem diabetes, hipertensão, doenças coronarianas, pacientes de câncer”, elencou. Ele orientou que os idosos precisam ter ainda mais cuidados e não ir a padarias supermercados. As famílias devem reforçar a higienização — trocar as roupas ao chegar em casa, lavar as mãos com água e sabão com mais frequência, com álcool em gel quando estiver nas ruas e lavar produtos antes de comê-los.
Não aposte nisso
O Tocantins tem alguns fatores que lhe são favoráveis para evitar uma explosão de casos, apontou o infectologista, como o clima mais quente — do qual o vírus não gosta — e a baixa densidade populacional. Mas avisou que não se deve apostar nisso para relaxar as medidas de prevenção.
Olhe para SP e Rio
O médico disse que, para se ter a noção da gravidade da doença, não é mais preciso olhar para Itália e Espanha, já que São Paulo e Rio, por exemplo, já começaram a experimentar os mesmos dramas, as mesmas tragédias. “Não quero ter mortes para justificar ‘olha o que estava falando’, ou ver hospital lotado de pacientes para dizer que deveriam ter evitado saída de casa. E não estamos falando de meses, mas de semanas”, alertou.
- A íntegra da live pode ser assistida pelo celular no stories da página da Coluna do CT no Instagram: