De origem latina, a palavra aniversário significa aquilo que volta todos os anos. Tem seu início no paganismo e relação com a magia e religião, as velas utilizadas nessas ocasiões são símbolo de ligação espiritual e proteção.
O Supremo Criador, o timoneiro do barco de cada um de nós, na sua infinita bondade nos intui a absorver a sabedoria contida nos pequenos detalhes da vida. Exemplo maior é a magia que o dia do nascimento exerce sobre cada um de nós. Duvido que exista alguém, daqueles que se acham poderosos, calcados na vã ilusão da materialidade, até os mais humildes de coração, que não passem o dia do aniversário meditando sobre os caminhos trilhados, os que estão sendo vividos e os que ainda virão.
Hoje, com certeza, pode ser o dia do ilustre leitor que neste momento lê as palavras contidas nessa minha mensagem.
Que o dia do aniversário sirva para reflexão e agradecimento pela jornada que foi confiada a cada um de nós por Aquele que sonda nossos corações e emoções e nos concede o milagre diário do tempo.
Para uns a vida apenas começando, para muitos outros, grande parte desta vida já se passou. No meu caso, bem mais que a metade e em cujo lapso de tempo e dentro do possível, procuro cumprir as tarefas que me foram confiadas nesse “dever de casa” que faz parte da grande lição da vida eterna. Que todos possamos constatar que bem ou mal, cuidamos para não sermos reprovados nessas provas a que nos submetemos.
Se não bastassem as inúmeras mensagens de felicitações que recebemos neste dia tão importante, que possamos antever, em cada uma delas, quer tenham sido pessoalmente, por telefone ou via rede social, o carinho e a certeza de que podemos contar com cada pessoa que nos cerca, mas sem esquecer a decepção contida na falta de mensagens ou cumprimentos de pessoas que demonstram amizades, mas nem sempre sinceras.
Complementando esta pequena crônica, parafraseio o inesquecível Jorge Amado, que em Navegação de Cabotagem – Apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei, insere colocações que tão bem se encaixam no contexto que tento transmitir. Escreveu ele: “Tenho horror a hospitais – os frios corredores, as salas de espera, antessalas da morte – mais, ainda, a cemitérios onde as flores perdem o viço; não há flor bonita em campo santo!
Possuo, no entanto, um cemitério meu, pessoal, eu o construí e inaugurei há alguns anos, quando a vida me amadureceu de sentimento. Nele enterro aqueles que matei, ou seja, aqueles que para mim deixaram de existir, morreram, os que um dia tiveram a minha estima e a perderam.
Quando um tipo vai além de todas as medidas e, de fato, me ofende, já com ele não me aborreço, não fico enojado ou furioso, não brigo, não corto relações, não lhe nego o cumprimento. Enterro-o na vala comum de meu cemitério – nele não existem jazigos de família, túmulos individuais; os mortos jazem em cova rasa, na promiscuidade da salafrice, do mau caráter. Para mim, o fulano morreu, foi enterrado, faça o que faça já não pode me magoar. Raros enterros – ainda bem! – de um pérfido, de um perjuro, de um desleal, de alguém que faltou à amizade, traiu o amor, foi por demais interesseiro, falso, hipócrita, arrogante – a impostura e a presunção me ofendem fácil. No pequeno e feio cemitério, sem flores, sem lágrimas, sem um pingo de saudade, apodrecem uns tantos sujeitos, umas poucas mulheres, uns e outras varri da memória, retirei da vida.
Encontro na rua um desses fantasmas, paro a conversar, escuto, correspondo às frases, às saudações, aos elogios, aceito o abraço, o beijo fraterno de Judas. Sigo adiante, o tipo pensa que mais uma vez me enganou, mal sabe ele que está morto e enterrado.”
Tem colocações mais apropriadas que essas?
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com