O dia 19 de maio de 1989 teve, sem dúvidas, uma das mais longas noites vividas pelo povo tocantinense. De um lado, o sonho, a esperança, a expectativa do amanhã. De outro, a incerteza, a desconfiança, a torcida contrária. Em meio à escuridão da noite estava Palmas, a Capital prometida. O então governador Siqueira Campos bradava com tudo e todos para não deixar nada faltar. Por dentro, não se cabia de felicidade, afinal, sob o seu comando, estava nascendo no meio do cerrado, a última cidade planejada do século 20.
Na data de 20 de maio – dia festivo que marcou o lançamento da pedra fundamental e o inicio das obras -, no raiar do sol, as mãos hábeis de Arnildo Gaúcho faziam o recorte final na madeira que formaria o cruzeiro, o marco nº 1 de onde brotaria a cidade de Palmas.
Pouco a pouco as pessoas foram chegando, vindos de todos os lados, de todos os jeitos. De avião (improvisou-se uma pequena pista), de caminhão, de pé e na garupa de cavalos.
Sonhadores e curiosos foram sem juntando, ouviram músicas, discursos e a benção de Dom Celso Pereira, bispo de Porto Nacional.
IMPROVISO
Um sol quente, nada de sombra, pouca água, pouquíssimos refrigerantes e a comida mais rara ainda. É que tinha muito mais gente do que o esperado. O que tinha muito era alegria de sobra e a poeira também – calcula-se que teve umas 10 mil pessoas. Gente de toda parte do estado. Muito seque sabia o que acontecendo, estava talvez por curiosidade ou movidos ansiedade.
Inspirado no “Catetinho” que Juscelino Kubstichek fez na construção de Brasília, o então governador Siqueira Campos também mandou construir o “Palacinho”, em um dos “morrinhos” de Palmas. Tudo aqui era em cima de um morro. O Palacinho, a Assembleia, o Palácio Araguaia. A sede da Prefeitura, uma casa rústica.
PRESSÃO
As pressões políticas de Araguaína, Porto Nacional e Miracema para inviabilizar Palmas, obrigaram o Governo a apressar o passo. Construíram-se então prédios de cimento queimado e madeirite, e todos os órgãos foram transferidos para Palmas. O Palacinho abrigou o Governo a partir da mudança, em 1º de janeiro de 1990.
A maioria dos servidores vinha de ônibus pela manhã e voltava ao entardecer. Uma pequena parte ficava em Palmas, abrigada de forma improvisada, dormindo em colchões “finíssimos” e sobre as próprias mesas de trabalho.
O terminal rodoviário de antes é um bom espelho da improvisação vivida pela comunidade. Poeira ou lama, não tinha muita importância. O palmense enfrentava tudo.
JÚNIO BATISTA DO NASCIMENTO
É historiador, mestre em geografia e autor dos livros “Palmas: sua trajetória e conquistas”, “Tocantins: história e geografia – questões de vestibulares e concursos”, “Cerrado: nosso bioma, nossa riqueza”; e “Tucuruí: conhecimentos regionais”. Ainda é Cidadão Palmense, com título concedido pela Câmara da Capital; e membro da Academia Palmense de Letras.