O Evangelho narrado por Lucas (cap. 18,1-8) fala sobre o poder da Fé e da oração.
Neste Evangelho Jesus nos traz a imagem de uma viúva. O que é uma viúva? Ora, viúva é uma mulher cujo marido tinha morrido. No Evangelho Cristo nos conta que numa cidade havia um Juiz, que era injusto, e uma mulher, que era viúva. Cristo conta uma história em que a mulher nada tinha, nem mesmo o marido! Sozinha para criar seu filho, ela procurou maneiras de sustentar-se, mas foi em vão.
Na lógica humana a viúva não tinha alternativa se não a de acreditar na própria sorte, pois sendo sozinha jamais o juiz lhe daria justiça. Entretanto, a viúva do Evangelho não se abateu, lutando por aquilo que era justo. A viúva deve ter batido não apenas uma vez na porta do juiz, mas pelo relato do Evangelho, bateu várias vezes, a ponto do Juiz se sentir com medo de ser agredido. Nada mais restava à pobre mulher, pois para viver uma vida digna era necessário buscar a justiça. Só que a justiça ficava a cargo do já citado juiz, o injusto.
[bs-quote quote=”A nossa fé precisa ser condizente com a vontade de Deus. O mundo pode até nos fazer chorar, mas Deus nos quer sorrindo, já dizia a canção. A fé deve vir acompanhada da paciência” style=”default” align=”right” author_name=”LUIZ FRANCISCO DE OLIVEIRA” author_job=”É promotor de Justiça de Dianópolis” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/10/LUIZFRANCISCODEOLIVEIRA-180.jpg”][/bs-quote]
Conta o Evangelho que, no final, mesmo sendo iníquo, o Juiz atendeu e fez justiça para com a viúva, eis que já estava cansado de ser aborrecido por ela. Apesar de ser iníquo, por vias oblíquas, o juiz acabou fazendo justiça. O que esperar então do nosso Deus que é a verdadeira Justiça?
Deve ser observado que o juiz ficou medo de ser agredido pela pobre viúva. Isto demonstra que a injustiça gera a opressão e a opressão é o fio condutor da violência
Ao final do Evangelho, Cristo faz uma pergunta preocupante “Mas o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar fé sobre a terra?”
Ora, às vezes o mundo parece sombrio. Às vezes, nossa fé é testada. Às vezes, sentimos que os céus estão fechados para nós. O que dizer de tantas tragédias que acabam ficando impunes? O que dizer de uma represa que arrebenta e inunda várias cidades com sua lama, levando morte em seu caminho de destruição? O que leva um ser humano, utilizando de bombas e armas, a aniquilar a vida de centenas de outros seres humanos, só pelo simples fato de divergência de ideias? O que leva uma pessoa a viver numa violência sem fim?
A pobre viúva uniu a oração com a ação. Pode ter uma fé sólida, ela acredita, insiste, vai à luta. Quando Cristo vier não haverá lugar para uma fé que nada constrói e nem agrega.
O mundo parece realmente sombrio quando o verdadeiro motivo da escuridão pode ser a nossa falta de fé.
A nossa fé está diminuindo porque em muitas ocasiões depositamos mais confiança em nós mesmos que em Deus. Muitos acham que a independência intelectual; a prosperidade; a aquisição de cargos políticos, cargos na igreja e na sociedade já basta. Tudo isso pode levar a pessoa a confiar em si mesmo, em vez de confiar no Senhor.
O próprio Cristo já acenava para uma diminuição da fé. Em Mateus 24.12 Cristo nos fala que o amor diminuiria nos fins dos tempos. Muitos, inclusive, falam que esse parece ser um dos sinais da iminente volta de Jesus: a falta de fé e a falta de amor. Na segunda Carta a Timóteo, Paulo nos fala que nos últimos dias os homens seriam amantes de si.
Portanto, a pergunta de Jesus continua viva, mas não devemos nos desesperar. Nunca devemos abandonar nossa fé. Não devemos perder a esperança.
A nossa fé precisa ser condizente com a vontade de Deus. O mundo pode até nos fazer chorar, mas Deus nos quer sorrindo, já dizia a canção. A fé deve vir acompanhada da paciência. “A paciência é amarga, mas seus frutos são doces”, já dizia o filósofo.
Devemos lembrar das palavras de Cristo: “Tudo é possível ao que crê”. Noutra parte, “aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas.”
Infelizmente, à medida que se aproxima da volta de Cristo, o mal se torna cada vez pior, de modo que muitos que vivem nas Igrejas se distanciarão da fé em Cristo. O que devemos sempre perguntar é: será que estou perseverando na fé? Será que estou firme na oração? Estou buscando a Deus para que a Justiça prevaleça sobre tudo? Lembram-se que a viúva do Evangelho só estava querendo justiça?
Agora vamos tentar responder à pergunta do Mestre. “Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na Terra?” Se realmente vivermos a Eucaristia a resposta da pergunta que o Salvador fez há dois mil anos será um retumbante: Sim, Ele vai encontrar fé. Isto porque a Igreja, enquanto depositária dos mistérios salvíficos de Cristo, tem a grande missão de fazer com que todos os homens e mulheres possam participar do corpo místico de Cristo.
Só que, para participar desse Corpo Místico de Cristo, precisamos da fé a cada instante, a cada momento. Devemos ter em mente a fé é graça de Deus, é dom de Deus. Gratia facit fidem, diz Santo Tomás. A graça cria e recria a Fé em cada momento.
Mas não nos esqueçamos das palavras do Mestre: “No mundo, tereis tribulações. Mas, tende coragem! Eu venci o mundo!”
LUIZ FRANCISCO DE OLIVEIRA
É promotor de Justiça de Dianópolis e mestrando em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos pela Universidade Federal do Tocantins
luizfrancisco.oliveira2011@uol.com.br