Estima-se que no estado do Tocantins, 35% da cobertura pedológica seja composta por solos pedregosos (INDE, 2018). Os chamados Plintossolos podem se apresentar de várias maneiras. As mais comuns são por cascalhos soltos, mas também podem se apresentar na forma de uma lâmina de pedra, não fragmentada.
O precursor do cascalho é a plintita, “uma pedra não endurecida” (mole), que uma vez seca por processos naturais, endurece e forma a petroplintita, que constitui o cascalho. Ela pode estar envolta por terra (argila, silte e areia) constituída em diferentes proporções.
Estes solos ocorrem de forma difusa na paisagem, no terço superior da paisagem (topos das áreas), no terço inferior da paisagem, outras vezes associados a presença da água nas cabeceiras de drenagem. Todas essas características o tornam importante quando percebemos que atualmente a agricultura tocantinense está se desenvolvendo sobre eles. A presença do cascalho, à primeira vista, inibiria seu uso, mas traz consigo uma vantagem fundamental: o preço da terra. A outra vantagem é o relevo, que favorece a mecanização.
Apesar disso, a produção sobre estes solos ainda não conta com informações científicas voltadas ao seu manejo, a despeito de os sistemas de aptidão agrícola não recomendarem o seu uso para cultivos agrícolas, embora o façam para pastagens. Apesar disso, frequentemente, esses solos têm apresentado níveis de produtividade bastante elevados.
Fato é que a presença de cascalho e calhaus diminui o volume ocupado por terra fina (parte do solo composta por areia, silte e argila). Mas afinal, o que isso quer nos dizer?
Que o produtor está fazendo agricultura em solos não recomendados, ou seja, toda a tecnologia empregada para o cultivo nesses solos é feita hoje sem nenhum respaldo científico. Pesquisas que envolvem estudos sobre Plintossolos são de fundamental importância, tanto na questão técnica, pois é sabido que é preciso ajustar o manejo desses solos para que o uso seja adequado a real condição dele, e sobretudo econômica, quando nos referimos ao uso de insumos, pois as recomendações de adubação e calagem é feita apenas considerando a terra fina, ou seja há uma superestimativa das doses de adubo e calcário. Isso significa que o produtor pode estar aplicando mais do que realmente deveria, atendendo uma questão econômica super relevante, principalmente considerando a eminência da falta de fertilizantes. Além disso, temos a questão ambiental que precisa ser repensada. Super dosagem de adubos e calcário significa mais perda de nutrientes, seja por lixiviação ou por escoamento superficial em decorrência da erosão hídrica, resultando em contaminação dos lençóis freáticos, rios e lagos.
Uma pesquisa recente feita com Plintossolos Pétricos no estado do Tocantins, comprovou a grande variabilidade desse solo. A proporção de cascalho em relação a terra fina variou de 20% até 77% dentro da mesma classe de solo. Em outras palavras, nos casos extremos, mais de 70% do volume de solo, não é solo, é cascalho (Castro & Ramos 2020). Será que isso significa uma perda de insumos (adubo e calcário)? Ou será que esses solos só conseguem produzir porque são super adubados e super calcariados?
Outras perguntas que ainda não temos resposta, a dinâmica da água nesses solos, como acontece? Qual o risco climático envolvido? A insegurança do agricultor em cultivar sob essas áreas e não conhecer o potencial de armazenamento de água, faz com que os produtores cultivem esses solos sem a segurança de que vai colher e ter bons rendimentos.
Para responder a essas perguntas, precisamos de mais pesquisas que permitam melhorar a compreensão da fertilidade química e biológica e a dinâmica da água nesses solos. Com o intuito de aprimorar as práticas agrícolas e obter maior rendimento das culturas fazendo o uso sustentável desses solos tão peculiares.
MICHELE RIBEIRO RAMOS
É engenheira agrônoma e docente no ensino superior na Universidade Estadual do Tocantins – Unitins
Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins – FAPT
ascom.fapt@secom.to.gov.br