O futebol brasileiro sempre foi uma paixão nacional, e as mulheres têm conquistado cada vez mais espaços nesse esporte. No entanto, é importante lembrar que entre 1941 e 1979, quase quatro décadas, as mulheres foram proibidas de jogar futebol no Brasil, resultando em um considerável gap em relação ao futebol masculino. Enquanto o Brasil celebrava três títulos mundiais, as mulheres nem sequer tinham o direito de competir.
Em 1969, ocorreu o primeiro torneio internacional de seleções femininas, conhecido como Campeonato Internacional de Futebol Feminino. Embora não fosse uma competição oficial, foi um marco na história do futebol feminino e pode ser considerado o embrião das futuras Copas do Mundo. Porém, somente em 1991, a FIFA, finalmente, oficializou a Copa do Mundo Feminina, realizada na China, proporcionando às jogadoras a oportunidade de competir em um palco mundial.
Agora, na Copa do Mundo Feminina de 2023, que teve início na Austrália e na Nova Zelândia, presenciamos vários avanços significativos. Com recorde histórico de ingressos vendidos e número de telespectadores, o torneio atraiu grande interesse. Estão participando 32 seleções, um aumento notável em relação à edição anterior, em 2019, então disputada por 24 equipes.
O futebol feminino no Brasil tem experimentado um notável crescimento em termos de qualidade das jogadoras. Talentos excepcionais têm surgido, com atletas habilidosas, rápidas e taticamente inteligentes. Elas demonstram comprometimento extraordinário com o esporte, provando possuir o mesmo nível de dedicação e habilidades técnicas que os jogadores masculinos.
Contudo, o preconceito e a discriminação ainda são obstáculos enfrentados pelas mulheres no futebol brasileiro. Elas são frequentemente subvalorizadas, recebem salários inferiores e têm menor visibilidade na mídia em comparação aos homens. A discrepância salarial é alarmante, com a média salarial das mulheres representando apenas 6% da média salarial dos jogadores masculinos, apesar da igual eficiência dentro de campo. O baixo investimento dos clubes no futebol feminino, a falta de interesse das empresas em investir em marketing e dar visibilidade às jogadoras, bem como a cultura que privilegia o homem em diversos setores, são fatores que contribuem para o atraso no desenvolvimento do futebol feminino e para a perpetuação de estereótipos prejudiciais à sociedade como um todo.
Ainda hoje, a disparidade entre as Copas Masculina e Feminina é notável, com diferenças significativas na infraestrutura, investimento financeiro, exposição midiática e premiações oferecidas para as jogadoras, refletindo uma desigualdade sistêmica no esporte.
Para reduzir essa disparidade, é crucial que as entidades esportivas e governamentais trabalhem em conjunto para promover políticas de igualdade, incentivar a participação das mulheres e garantir investimentos desde as categorias de base até a profissionalização.
Além disso, a mídia desempenha um papel fundamental na mudança de percepção do público. Uma cobertura mais abrangente e justa do futebol feminino pode ajudar a desconstruir estereótipos e aumentar o interesse do público por essas competições.
Em resumo, a Copa do Mundo Feminina é uma oportunidade para destacar a qualidade e o potencial das jogadoras, mas também para valorizar o potencial das mulheres, enquanto enfrentamos os desafios do preconceito e da desigualdade de gênero. Somente com um esforço conjunto da sociedade, entidades esportivas e governamentais, poderemos verdadeiramente alcançar a igualdade de oportunidades e o reconhecimento que o futebol feminino merece.
NILMAR RUIZ
É presidente do PL Mulher do Tocantins. Foi prefeita de Palmas e deputada federal.