Em reunião promovida pela Prefeitura de Araguaína há duas semanas para discutir as medidas de contenção à Covid-19, a infectologista Carina Amaral Feriani foi contundente: “Não tenham dúvida de que Araguaína já tem uma transmissão comunitária, não tenham dúvidas quanto a isso. Não só Araguaína, como Palmas, como todo o Brasil. Já difundiu”, avisou.
Conduta e conduta
A especialista reforçou que, para que se tenha “qualquer política de contenção ou liberação, nós precisamos saber qual é a real situação da nossa transmissão”. “Se tivermos uma transmissão baixa, a gente tem uma conduta; se nós percebemos que temos um número elevado, a conduta é outra”, explicou.
Ajustar a realidade
Assim, a infectologista defendeu que “primeiro de tudo precisamos ajustar a realidade protocolada internacionalmente para que possamos então fazer nossa classificação” em relação às fases de avanço da Covid-19.
Absurdamente contagioso
Carina ressaltou que a sociedade precisa entender que está lidando com um vírus “absurdamente contagioso”. “Tem uma transmissão pessoa a pessoa extremamente rápida”, disse.
80% sem sintomas
O problema de detectar o grau de disseminação da doença é que 80% das pessoas infectadas não têm sintomas. “Então, estamos indo na contramão. Se 80% não têm sintomas ou tem sintomas muito pequenos, não vão procurar as unidades básica de saúde nem o [Hospital] Regional nem lugar nenhum”, disse. “É preciso entender que as pessoas que não apresentam sintomas não fazem quarentena, elas circulam e contaminam com quem vai tendo contato.”
Pessoas vêm e vão
A médica avaliou que Araguaína e Palmas são cidades de maior circulação de dinheiro, “consequentemente, maior fluxo de pessoas”. “Então, onde há maior fluxo de pessoas, a gente acaba tendo uma exposição aumentada”, explicou. Ela afirmou que não é possível conter esse fluxo. “A gente não consegue bloquear fluxo. Independente do estado econômico, as pessoas vão e vêm.”
As três fases
No vídeo, ela discorda da interpretação que o município fez da nota técnica da Sociedade Brasileira de Infectologia, filiada à Associação Médica Brasileira, que trata de medidas para o enfrentamento ao novo coronavírus. Isso porque o documento define que cada região deve se adaptar à sua realidade epidemiológica. A nota é do dia 12 de março — um dos problemas apontados por Carina — e estabelece três fases epidemiológicas para o enfrentamento. A primeira é de “casos importados”, em que há poucas pessoas acometidas e todas regressaram de países onde há epidemia. A segunda é de transmissão local, quando pessoas que não viajaram para o exterior ficam doentes, ou seja, há transmissão autóctone, mas ainda é possível identificar o paciente que transmitiu o vírus, geralmente parentes ou pessoas de convívio social próximo. A terceira é a de transmissão comunitária, quando o número de casos aumenta exponencialmente e se perde a capacidade de identificar a fonte ou pessoa transmissora.
Entender a dinâmica
Carina disse que só com uma real levantamento do grau de disseminação do novo coronavírus é que se poderá concluir em que fase estamos e, então, decidir sobre a retomada ou não da economia. “É preciso entender essa dinâmica para chegarmos a uma melhor alternativa, a uma melhor resposta”, defendeu.
Não adoecer de uma só vez
A infectologista disse que não conseguimos conter uma infecção viral. “Então, não se iludam achando a gente vai paralisar a transmissão do vírus. Isso não vai acontecer. O que nós precisamos fazer é não deixar que todo mundo adoeça de uma vez. Se isso ocorrer, não tem sistema em lugar nenhum do mundo para dar conta do recado, como está acontecendo no mundo todo”, lembrou.
Contaminação em picos
A especialista insistiu que é preciso ocorrer picos de contaminação, distribuídos de uma maneira tal que o sistema de saúde consiga dar o devido suporte aos pacientes.
Assista a fala da infectologista Carina Amaral Feriani: