Do ponto de vista histórico, não há consenso de quando o ato de ensinar se estabeleceu enquanto profissão. Sabe-se apenas que, o reconhecimento de um grupo sobre determinada pessoa que possui habilidade de ensinar, fez com que essas habilidades se caracterizassem como profissão: surgia o professor, aquele que, por intermédio de conhecimentos obtidos seja por experiência ou estudo, possui capacidade de retransmitir seus conhecimentos aos demais.
Uma das primeiras menções à figura do professor e sua importância nos foi dada pelo filósofo grego Platão no livro A República. Discípulo de Sócrates de quem foi aluno, Platão, na antiguidade clássica já defendia o professor como instrumento indispensável para a construção da cidadania. Platão estava certo. Por que? Porque sem o professor, uma sociedade não tem condições de formar seus cidadãos, instruídos do ponto de vista intelectual para o exercício da sua autonomia.
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Ao longo dos tempos, concomitantemente à profissão de professor, foi incorporada uma outra dimensão a ela: a de educador. Mas o que é ser professor? Do ponto de vista hermenêutico, ser professor é ensinar àqueles que estão sob seus cuidados, os conteúdos a serem administrados na idade/série de acordo com pressupostos metodológicos antes estabelecidos, seja nos níveis fundamental, médio e superior.
O professor, nesse sentido, está encarregado da tarefa de administrar os conteúdos para o bom aprendizado dos alunos. E o que é ser educador? Educador, em síntese, é o professor que não se restringe apenas à tarefa de ensinar os conteúdos, ele vai além: ouve o aluno, busca entendê-lo em seu contexto social, psicológico e, sobretudo, em suas qualidades e principalmente, suas limitações.
As principais semelhanças entre professor e educador consistem no fato de que ambos se veem como os profissionais responsáveis pela tarefa de ensinar e, segundo, entendem que através do ato de ensinar, colaboram para a formação intelectual do aluno. Já as principais diferenças entre professores e educadores consistem no fato de que o professor se ver como aquele a quem lhe é atribuída apenas a tarefa de trabalhar os conteúdos, a dimensão humana do processo de ensino é relegada a segundo plano.
Mas a sociedade precisa de professores ou de educadores? Todas as sociedades, inclusive a brasileira, precisam do professor como condição indispensável para o progresso. Mas numa época em que as famílias, em grande parte, relegam à escola a tarefa de educar seus filhos, cresce sobre os “ombros” dos professores a necessidade de serem cada vez mais, educadores. O professor é importante, mas o educador é seguramente mais ainda.
O educador compreende que a sua função social está muito além de ensinar conteúdo. A sua função é de observar quem, numa sala, mais precisa dele como detentor do conhecimento, mas também como ser humano. Sim, porque o aluno também é ser humano, com suas qualidades, mas também limitações. O educador ouve, dá atenção, entende, busca ver o aluno como um mecanismo da engrenagem complexa que é a escolarização de uma sociedade.
Não é objetivo nesta breve reflexão desvalorizar os profissionais da educação que se veem apenas como professores, mas chamar a atenção para o fato de que ir um pouco além da tarefa de ensinar, mas observar, ouvir e entender o aluno em suas qualidades e necessidades, faz toda a diferença. Não consiste no fato de que o professor deva se transformar num “paizão” ou numa espécie de “psicólogo” para o aluno, mas ele se ver como aquele que precisa oferecer um pouco a mais do que ele sabe do ponto de vista do conteúdo, mas aplicar a dimensão humana no processo escolar.
Muito se diz que a tarefa de ensinar consiste em um dom. Mas ensinar não é dom, é resultado de um conjunto de habilidades que o profissional possui. Duas principalmente: facilidade em aprender (assimilação) e facilidade em ensinar (exposição), essa última, denominada de metodologia. Essas habilidades se completam com relevante significado quando o professor detentor dessas duas qualidades, se ver como educador, aquele que entende a educação também na sua dimensão humana, e não apenas na sua dimensão conteudista.
Ao término dessa breve reflexão, fica registrada uma homenagem a todos os bons professores, sejam eles educadores ou não. Mas sobretudo a esses últimos, que se reconhecem como mais do que detentores do saber empírico e prático, mas como mediadores do conhecimento e, como instrumentos eficazes na tarefa de construir a cidadania de um país, mediante suas habilidades que formam e transformam vidas de muitos que lhes ouvem: seus alunos, pois sem esses últimos, não existiriam nem professores muito menos educadores.
RAYLINN BARROS DA SILVA
É doutorando e mestre em História pela Universidade Federal de Goiás e professor de História da Rede Estadual de Ensino do Tocantins
raylinn_barros@hotmail.com