Preconceito é um dos termos mais invocados pela sociedade contemporânea. É combatido e criticado tanto o termo e a prática como quem o pratica. De início, é preciso pontuar que comete preconceito aquela pessoa que emite determinada opinião ou exprime algum sentimento sem fazer o devido exame crítico. Ou seja, opinar e julgar sem conhecer previamente o que está se julgando. É uma tomada de posição sem o conhecimento devido e prévio, o que torna o preconceito algo que, além de injusto, é antiético.
[bs-quote quote=”Seja no campo religioso, de gênero, social, racial, político, como em todas as esferas da realidade humana, julgar sem antes conhecer o que se está julgando é uma atitude reprovável e que deve ser combatida. Esse é o verdadeiro preconceito e que deve nos provocar repulsa” style=”default” align=”right” author_name=”RAYLINN BARROS DA SILVA” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2020/01/rallyn_barros_180.jpg”][/bs-quote]
Até aí, tudo bem. Todos concordam que o preconceito por configurar-se um julgamento sem conhecimento prévio, deve ser reprovado e combatido. Mas é preciso chamarmos a atenção para a relativização do termo preconceito. De forma que é preciso desmistificar esse termo, conhecê-lo primeiro, para depois sairmos por aí acusando um ou outro de praticá-lo. Na era das redes sociais em que impera a opinião livre e democrática, é lugar comum acusar com frequência pessoas de praticarem o preconceito.
Por exemplo, verifica-se na atualidade que praticamente qualquer tomada de posição de um indivíduo pode ser enquadrada como preconceito. Aí está o perigo. Por que? Porque o indivíduo tem todo o direito de discordar e criticar determinada realidade, comportamento, pensamento, pessoas. Ao emitir sua opinião ou sentimento, quando essa vai de encontro ao que se analisa, por si só não configura preconceito. Como dito anteriormente, preconceito é julgar sem previamente conhecer, mas se o indivíduo conhece a priori, ele possui plenamente o direito de emitir sua opinião, mesmo que contrária.
O filósofo irlandês Edmund Burke, no século XVIII, acreditava que todo ser humano dispunha de uma espécie de “reserva moral” dentro de si. Essa reserva moral faria com que o indivíduo diante de tudo que ele não conhecesse, fosse natural ele negar, não aceitar, criticar. Esse pensamento de Burke, tido como um dos filósofos basilares do conservadorismo ocidental, meio que “justificaria” a existência do preconceito. De fato, esse raciocínio de Burke pode até fazer sentido, mas com toda certeza não justifica o preconceito.
Seja no campo religioso, de gênero, social, racial, político, como em todas as esferas da realidade humana, julgar sem antes conhecer o que se está julgando é uma atitude reprovável e que deve ser combatida. Esse é o verdadeiro preconceito e que deve nos provocar repulsa. Mas um detalhe: se o indivíduo conhece a realidade, tem experiência ao lidar com ela, leu sobre ela, ele possui todos os atributos de analisar, julgar, emitir sua opinião, nesse caso ele não comete preconceito.
Tenho a impressão de que está em curso um processo de relativização, para não dizer vulgarização do termo preconceito. De modo que na pressa em condená-lo, qualquer postura ou crítica pode ser enquadrada como preconceituosa. Isso também é passível de crítica e reprovação. Ou seja, podemos dizer, com tranquilidade, que existe um preconceito sobre o termo preconceito. Haja vista que muitos pronunciam esse termo sem ao menos saber o que ele significa.
Finalmente, o indivíduo possui todo o direito de emitir sua opinião, sua crítica, seu ponto de vista, desde que tenha o mínimo possível de conhecimento do que julga e analisa, o que chamamos de conhecimento de causa ou, ainda, argumento. Pois se ele não tem esses atributos, ele certamente praticará o preconceito. Considera-se que tanto no fazer cotidiano como no pensar, o que deve prevalecer em primeira e última instância é o respeito. Respeito pelo outro, pelas opções do outro, pela vida do outro e suas escolhas. De modo que onde o respeito é colocado como prioridade, não sobra espaço para a prática do preconceito, essa última, tida como o julgamento sem um prévio conhecimento.
RAYLINN BARROS DA SILVA
É doutorando e mestre em História pela Universidade Federal de Goiás
raylinn_barros@hotmail.com