O caso de capacitismo que aconteceu na primeira prova do Big Brother Brasil, o BBB, foi muito significativo para vermos como estamos atrasados na discussão sobre inclusão.
Já participaram do programa outras pessoas com deficiência, se não me engano em 2017, quando outra atleta paralímpica estava entre os integrantes, a Marinalva de Almeida, e não teve tanta repercussão.
É de extrema importância a representação de pessoas com deficiência em programas como o BBB, afinal, segundo o IBGE somos quase 10% da população brasileira e ultrapassamos os 20 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil. E o programa tem muito a melhorar na questão de acessibilidade. É grande o despreparo de uma equipe que lucra milhões com patrocínio e com audiência.
Eu, como uma pessoa com deficiência, fico às vezes imaginando como seria a participação, como iria me comportar em provas mesmo sendo surdo, tira o aparelho, não tira, não precisa tirar, não precisa… Essas coisas… Isso é se sentir incluso, até nas dinâmicas da casa, confesso que tenho essa curiosidade.
A atitude de um participante chamado Maycon me chamou atenção. É revoltante e inadmissível que, em pleno 2024, tenhamos que tolerar e ouvir o próprio Maycon fazer piadas em relação àdeficiência do participante Vinicius, que é amputado e atleta paralímpico, nos mostrando que o BBB é o reflexo do Brasil e da maioria das pessoas que faz capacitismo a todo momento. E acha isso normal por pura insensibilidade ou até por ignorância, fazendo a sociedade se isentar totalmente de pensar nas pessoas com deficiência. Temos que ser abertos, procurar estudar e se adaptar.
Agora me vem outra preocupação, segundo informações, o participante Maycon trabalha em uma escola como merendeiro. Será que nessa escola não tem pessoas com deficiência? Como será que ele trata esses alunos? Como será que ele vai tratá-los de agora em diante?
O assunto capacitismo foi muito comentado nas redes sociais e está sendo. Falamos muito sobre ele aqui na Coluna do CT há muito tempo, e, se não me engano, foi o primeiro veículo de comunicação do estado a mencionar o capacitismo.
Me incomoda muito porque a sociedade acha que são as pessoas com deficiência que têm que se adaptar às barreiras e não as barreiras que devem ser revistas: as arquitetônicas, atitudinais, instrumentais, metodológicas, comunicacionais, programáticas e outras.
E até agora a emissora não fez nenhum comentário sobre o ocorrido e seguimos com os episódios de invisibilidade para com as pessoas com deficiência.
AGNALDO QUINTINO
É administrador, empreendedor educacional, palestrante, gago, surdo e feliz
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