Durante quatro dias de intensas atividades na comunidade quilombola Barra da Aroeira, o projeto Imersão Cultural Tocantins foi finalizado na última terça-feira, 2, com a caravana do Ponto de Cultura Itinerante Um Ponto Dois. Na bagagem do grupo de retorno a Palmas, muitos causos e histórias, compartilhadas em uma experiência de intercâmbio artístico com os moradores da comunidade local.
Dentre as atrações realizadas pela comunidade quilombola durante a programação estavam a Dança do Lenço, Maculelê, roda de música com a Viola de Buriti, pandeiro, caixa de folia, contação de causos e lendas locais.
A Dança do Lenço, uma apresentação artística cheia de simbolismos que homenageia os ancestrais que foram os primeiros habitantes da região, é composta por nove membros, três bandeiras e roupas com as cores que representam a comunidade. Precursora do movimento na região, Dona Ermina Maria Rodrigues luta há cinco anos para que a dança não caia no esquecimento e, junto com suas filhas e netos, ensaiam e apresentam a dança.
Para Ermina, a Imersão Cultural já deixou saudades e ela afirma já aguardar as próximas edições. “Achei muito bom, muito especial essa apresentação desses artistas, que deram muita orientação. Agora, muitos vão dar valor, a estrutura que vem para cá e eu quero que continuem vindo para mostrar ainda mais a cultura de lá e nós a de cá”, concluiu Dona Ermina.
Outra atração que impressionou a caravana foi o Maculelê, uma dança que utiliza em sua performance facões e bastões de madeira simulando uma luta. O grupo, liderado por Jaciney Rodrigues, tem hoje 24 integrantes ao todo, com idades entre 12 e 18 anos e teve início em 2012. Segundo ele, o objetivo das apresentações é mostrar sua cultura ao público. “Uma caravana muito animada e contagiante, eles trouxeram muitas novidades, muita coisa boa”, relata Jaciney Rodrigues.
Intercâmbio
Para o produtor cultural Diego Brito, a ideia de trazer as pessoas da cidade para conhecer a comunidade é a de mostrar um pouco da cultura tocantinense por meio de uma raiz profunda e bonita representada pela comunidade Barra do Aroeira. “Eu acho uma conquista para a cultura tocantinense como um todo, porque é necessário que quem hoje mora e foi acolhido por nosso estado, conheça o Tocantins raiz que já estava aqui há séculos e séculos”, defende.
Para encerrar o quarto dia de imersão, o Grupo de Teatro Um Ponto Dois apresentou para a comunidade o espetáculo As Histórias que Vou Te Contar, montado a partir das lendas das regiões amazônicas do Tocantins. Para o diretor do Grupo Um Ponto Dois, Lucas Justino Vettore, a imersão foi marcada pela troca de conhecimento e de culturas entre a comunidade e os artistas que integram o Grupo. “Muitas vezes, achamos que a proposta fosse importante só para os atores, mas foi relevantes para todos da equipe, para figurinista e cenógrafa que observou a costura com palha, para a fotógrafa que contou com o olhar sensível dos moradores de lá, para eu como dramaturgo e diretor e sem dúvida para os atores conferirmos de perto a contação de histórias feita pela própria comunidade e anfitriões, suas crenças em cada história vivida e contada, sem falar no afeto que a comunidade nos trouxe, a troca foi não só de conhecimentos, mas de sentimentos, da felicidade deles em nos receber e nossa por estar ali. É preciso democratizar o acesso às culturas e o Estado precisa se atentar cada vez mais a esta necessidade”, relata o diretor.
Projeto
O projeto foi contemplado pelo Prêmio Aldir Blanc, da Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa (Adetuc) e do Governo Federal – Ministério do Turismo – Secretaria Especial de Cultura e Fundo Nacional de Cultura.
Para o presidente interino da Adetuc, Jairo Mariano, a democratização do acesso à cultura tem início no intercâmbio, na conexão e na integração dos produtores culturais com as comunidades, a história e as tradições tocantinenses. “Esse convívio próximo com os grupos sociais e comunidades permite uma assimilação da arte com costumes, tradições, hábitos que caracterizam e formatam nossa cultura tocantinense”, destacou.
Ainda de acordo com o presidente interino, a recomendação do governador em exercício Wanderlei Barbosa é que as ações da cultura integrem as comunidades e sejam ramificadas a pluralidade e a diversidade da identidade artística do Estado. (Da assessoria de imprensa)