A vida, por vezes, foi e está sendo uma sequência de aventuras das quais sinto muito orgulho, mas não posso dizer que acertei em todas as minhas escolhas.
Todo profissional tem um período de ascensão, de batalhas, de opiniões e de experiências para se firmar. Depois, um platô onde constrói seu legado profissional. Após um período de professorado, surgem os Conselhos de Classes, Associações, Academias e, acompanhado do declínio natural da idade, a árdua e gratificante construção da narrativa com a qual desejo ser lembrado…! Ora, isto não é egoísmo!
É a hora da pena rugosa escrever, com suor, lágrimas e sangue, a ficção nua e crua da estória ou da história de como seremos lembrados e, o mais importante, o que dá (ainda) para fazer com humildade, ternura e paixão.
Teorias educacionais como as de Paulo Freire, Piaget, Vygotsky, Roger e Saviani entrelaçam em nossas vidas a avaliar competências cognitivas, atitudinais e operacionais, sempre a exigirem uma conduta mercadológica de eficiência e eficácia. Cabe, a cada pessoa, utilizar o seu castiço na dolorosa avaliação da efetividade.
A verdade é que o passo seguinte da experiência é o declínio. Idade é um número. Maturidade são atitudes. É o doce sabor de que a gente pode tudo, mas que nem tudo convém fazer e, outras, não se pode mudar.
Penso muito sobre isso ao acompanhar a “guerrilha”, tola e burra, dos grupos ideologicamente rivais nas redes sociais. Quanta insanidade, sim, quanta tolice. Uma antropofagia mental desvairada e estúpida. Infelizmente, alimentadora de negações e ativismo antagônico de modelos políticos arcaicos e improdutivos.
“ … Tire o seu sorriso do caminho / que eu quero passar com a minha dor / hoje pra você eu sou espinho / espinho não machuca a flor / eu só errei quando juntei minh’alma à sua / o sol não pode viver perto da lua…”
A composição de Nelson do Cavaquinho e Guilherme de Brito expressa o drama da maturidade. O olhar otimista para quem escolhe o sentido crítico social, a suportar a dor! Afinal, o sorriso e a paz podem, sim, aproximar a lua do sol, quem dirá um povo que fala, em todo o território, uma língua versátil, flexível e, há milênios, adaptativa.
Entre tímidos sorrisos, falsas alegrias, sonhos e esperanças de um porvir adocicado, pego-me a escrever crônicas de um cotidiano (infelizmente ocre, acre e sem pimenta). Vai passar. Hum, vai passar?
Apenas a certeza de que aprender é, sobretudo, descobrir. Devo viver isto!
EDSON CABRAL
É administrador e membro da Academia Palmense de Letras.
ecabral.to@gmail.com