Uma mescla de alegria, surpresa e emoção tomou conta dos meus pensamentos ao ler, saborear e viajar com A noiva e outros contos políticos do amigo Cleber Toledo.
São vinte estórias que na tessitura das suas narrativas evidenciam a figura do jornalista perspicaz, investigativo e criativo. Um profissional que transpira a política, suas estratégias e as artimanhas presentes na lida diária dos bastidores desse fantástico e misterioso mundo surreal, dinâmico e imprevisível; características presentes nos processos eleitorais dos calorosos rincões dessas terras banhadas pelo Araguaia e o Tocantins.
Baseado em fontes ou, possivelmente, em elucidações provenientes do salutar hábito da leitura, a narrativa cleberiana não poupa estilos para surpreender o leitor, como no conto: A deputada, o amante e a testemunha, onde utiliza-se, com extrema habilidade, do ritmo maroto, curioso e ardente do erotismo.
“Rodopiou na pista à meia luz da prestigiada casa noturna de Brasília, fechando a coreografia com uma gargalhada púbere e o corpo acolhido firmemente pelo parceiro. Nos últimos acordes da canção romântica, arqueou o tronco para trás, atirou uma perna à frente e manteve a outra na sustentação da ousada postura…As pálpebras cobriram os olhos e os braços retesaram-se. Ao final da carícia, sentiu-se atraída para um beco onde um leve e curioso sorriso desenhava-se numa boca à sombra.”
“ – Você é do Tocantins, certo?”
Para quem, como eu, já ultrapassou os sessenta anos, é sempre interessante conferir quantas teorias marcaram a evolução do pensamento e das “práticas políticas” nesses trinta e cinco anos de vida dedicada ao Tocantins. É como se nós reconstruíssemos nossa trajetória mediante o desenvolvimento das ideias de cada eleição. Às vezes reage-se, com certo conservadorismo, contra o que se apresenta como modismos que empolgam a superficialidade e passam sem deixar marcas. Mas, na crítica conservadora a novas teorias e abordagens, há também uma espécie de defesa de alguns, pelo não acompanhamento do movimento da história. É quase uma crítica às novas ideias. Há um descrédito nas novas propostas.
Afinal, dos “personagens” ocultos e fictícios das páginas da coletânea de contos, publicada pela Editora Veloso, quantos já eram conhecidos e acostumados no mundo eleitoral e nos debates anteriores a própria criação do Estado do Tocantins.
Ao que me parece, de forma hilária, instigante e perspicaz, o paranaense, paulista e hoje, Tocantinense Cleber Toledo, soube do seu fazer profissional, nesse difícil e pantanoso campo do jornalismo de bastidores políticos, exercitar e urdir textos curtos, com objetividade, clareza e amor ao que faz.
“- Por onde andava, Excelência! Por que demorou tanto? – recebeu-o, desdenhoso, o produtor com quem se associara num sítio em Miranorte desde o fim da safra política. – A madame aqui está esperando você levar uma carga de abacaxi até a Hilux dela…Pode ser? Sua Excelência teria tempo na agenda para atendê-la? – o velho lazarento dobrou-se numa gaitada e a bela mulher ao lado conteve o discreto risinho com a mão de dedos finos e unhas vermelhas.
Ao longo dos últimos cinco anos sem o partido, viu todo o patrimônio ir embora. Só restaram-lhe os abacaxis. E o asqueroso Mané.
Parabéns, Cleber Toledo.
Leitores! Leiam o livro e lembrem-se; no próximo ano os pleitos são municipais. Para alguns, já é momento de procurar os “Manés”.
EDSON CABRAL
É escritor e membro da Academia Palmense de Letras.