Aos que criticam sem conhecerem determinados assuntos, sugiro conhecê-los para assim procederem.
E mesmo porque nunca me esqueço do que dizia minha inesquecível e autodidata mãe: “Filho, quem lê mais pergunta menos.” Venho seguindo esse ensinamento e praticando o que mais gosto: a leitura.
Aprofundo-me, cada vez mais, nos assuntos que versam sobre a espiritualidade que ao meu ver contêm respostas mais lógicas sobre vários e acontecimentos que nos desafiam no dia a dia.
O certo é que depois de muitas leituras, aproveito sempre para refletir, em especial sobre o Novo Testamento com suas lições cotidianas para cada um de nós.
Trilhando esse caminho redescubro a cada momento a grandeza do Supremo Criador, Aquele que se manifesta, em especial, através da natureza e suas ocorrências, às vezes tão explícitas e outras nas entrelinhas das leituras ou nos acontecimentos diários em nossas vidas, sem contar fatos ocorridos através de pessoas especiais que buscam no bem estar do próximo à própria realização como ser humano.
Embora pareça um paradoxo, constato através do livre arbítrio com que fomos agraciados, que existe um pouco do Senhor na vida até mesmo naqueles que se locupletam nas funções que lhes são confiadas ou nunca estão satisfeitos com o que possuem de bens materiais e saem por aí à caça de mais lucros e dividendos, tirando dos que quase nada têm para satisfazerem a avareza, luxúria, orgulho e a vaidade pessoal excessiva, tornando-se verdadeiros déspotas de si mesmos.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem olhos que veja!”, disse o Mestre dos mestres e que deveria servir de parâmetro para todos nós. Embora pareça simples, a magnitude e a transcendentalidade dessa colocação incomparável, está em tudo que nos cerca; os fatos e circunstâncias, as pessoas que nos acompanham, as palavras que ouvimos e tudo que complementa nossa vida e que derivam das pessoas simples e humildes aos mais intelectuais. Se soubermos trazer tudo isso para o nosso dia a dia, veremos que somos apenas uma peça que se encaixada neste grande quebra-cabeças que nos cabe perscrutar minuciosamente.
A propósito do tema deste artigo, lembro-me que algum tempo atrás empreendi viagem à cidade de Belém do Pará, para visitar um membro da família que um dia fora padre. Muito apegado à religião, por vezes relutava em aceitar minhas colocações, sobre a espiritualidade ou a força do espírito sobre a matéria. Resolvi deixar tudo correr normalmente até que fomos, minha esposa, meu cunhado e eu, convidados por ele para conhecermos a Igreja Nossa Senhora de Nazaré e lá assistirmos uma missa. E, diga-se de passagem, na capital Paraense, encontrei luxo apenas nas igrejas que visitamos. Um contraste assustador com grande parte daquele Capital, em especial se levarmos em conta a pedra angular do cristianismo.
Pois vejam só o teor da primeira leitura que lá ouvimos: “Naqueles dias, o Senhor desceu na nuvem e falou a Moisés. Retirou um pouco do Espírito que Moisés possuía e deu aos setenta anciãos. Assim que repousou sobre eles o espírito, puseram-se a profetizar, mas não continuaram. Dois homens, porém, chamados Eldad e Medad, tinham ficado no acampamento. O espírito repousou igualmente sobre os dois que não tinham ido à tenda e eles profetizaram no acampamento.
Um jovem correu para avisar Moisés que os mesmos profetizavam no acampamento. Um ajudante de Moisés desde a juventude disse: – Moisés, meu Senhor, manda que eles se calem! Moisés respondeu: – Tens ciúmes de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse Profeta e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito!”
Se não bastasse, na leitura do Evangelho: “João disse a Jesus: – Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue. Jesus disse: – Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor…”
Aí lembrei-me quando fiz um curso de Teologia e na ocasião perguntei ao professor: – Por que o ser humano tende a acreditar em tudo que está escrito sobre a história da humanidade, até em fatos que ocorreram há milhares de anos antes de Cristo e muitos duvidam do que nos diz o Novo Testamento? Respondeu ele: É que os fatos inseridos no Novo Testamento, rebusca e atinge o âmago do nosso ser e desafia os nossos mais íntimos sentimentos e que por muitas vezes nos se apresentam quase como impossível de serem concretizados.
Como os acontecimentos diários falam por si, resta-me o silêncio e a certeza de que nunca foi e continua sendo tão patente a assertiva do Mestre dos mestres: “Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com