Quando residi em Palmas, Capital do Estado do Tocantins, no período de 2001/2011, era um costume meu nas noites deste belo mês de maio, transformar a minúscula sacada do meu apartamento e depois no pequeno quintal da casa onde residi, nos mais importantes observatórios astronômicos para meu deleite pessoal. A escura abóbada celeste, nos dias sem luar, ressaltava a beleza ímpar das constelações com suas estrelas, que mais pareciam diamantes lapidados ou um enorme jardim de margaridas fluorescentes.
Do meu ponto estratégico, começava a perscrutar aquela beleza infinita. Lembrava-me das estórias e histórias, lendas e mistérios que envolviam dois mundos tão distantes: minha infância e o universo.
Divagava na simetria perfeita das constelações visíveis a olho nu, tais como Orion (onde encontram-se as Três Marias) Cruzeiro do Sul, Ursa Maior, Ursa Menor, Capella e outras. Admirava o Caminho de São Tiago formado por bilhões de estrelas e começava a contá-las, mas lembrava-me que poderia nascer verrugas em minhas mãos. Parava de enumerá-las. Apreciava estrelas cadentes e tratava de fazer três pedidos urgentes. Lindos planetas Marte, Júpiter, Vênus e outros que lembravam tochas tremeluzentes servindo de balizas para demarcarem os limites do sistema solar com o sideral.
E naquelas viagens astrais, descobria que a cronologia do tempo não se conta em anos, meses, dias, horas, minutos ou segundos. O tempo ali é estabelecido pelos sentimentos e emoções que não exigem medidas matemáticas e, assim, como num passe de mágica, percebia que as estrelas ou as margaridas, como queiram, iam desaparecendo, se apagando, ou se escondendo para voltarem no dia seguinte, dando lugar ao brilho único da estrela matutina que anuncia a inexorabilidade da chegada do amanhecer.
Apagando o rubor da aurora e transformando o firmamento num azul infinito e puro, o astro rei vinha surgindo, trazendo consigo os segredos do outro lado do planeta e derramando sua luz feérica e criadora sobre a magia da natureza e sobre todos os seres que habitam nosso Brasil. (O território brasileiro está localizado, quase em sua totalidade, mais precisamente 93% do território, no Hemisfério Sul, ocupando apenas 7% do Hemisfério Norte).
Era a manhã do outro dia que despertava nossa bela cidade. Como é bom acordar bem cedo e vagar por seus bosques urbanos e bem cuidados, ver e sentir o seu despertar numa manhã morna de outono, como morno é o colo de uma mãe! Como mornos são os leitos que ainda não acordaram e resguardam os sonhos e amores do amanhecer, como se o dia de ontem não houvesse acontecido e se acontecido, não houvesse acabado.
Navego à vontade por suas largas avenidas, onde vejo um povo bom e amigo andando de cabeça erguida, acreditando no futuro e refrescando-se na brisa da manhã que chega inebriada e soprada pelos ventos nascidos no altiplano da Serra do Carmo. De bicicleta, carro ou a pé, todos saudavam-na como a uma jovem mulher.
Passava por uma feira popular e constatava que ali todos são afeitos ao trabalho e muito iguais. Palmas que me recebeu de braços abertos, a exemplo de tantos outros vindos de todo Brasil, cheios de sonhos e ideais. Palmas, foi, é e será sempre a concretização de planos e projetos para muitos sonhadores (e como sonhar vale a pena!).
Quando criança, aprendi ouvindo, vendo e vivendo que o mês de maio, é o mais belo inserido nesse calendário numérico gregoriano, onde matematicamente conta-se o tempo, embora no calendário de minha alma, onde guardo as recordações de minha infância, os números tenham pouco valor, por isso o fiz preferido entre os doze.
Para se chegar a essa constatação basta observar o ciclo mágico deste belo mês: As flores se abrindo e explodindo em cores em quase todas as plantas, colorindo e perfumando o mundo em cada canto. As quase desapercebidas flores do Cerrado, também, abrindo-se em belezas ímpares de incomparáveis simplicidades, a exemplo de lírios do campo, cujas vestimentas “nem Salomão em toda sua glória vestiu igual,” consoante ensinamentos do Divino Mestre.
Seria porque se trata do mês das flores, da abolição, ou dos amores? Mês das mães, mês de Maria? Ah, se todas as mulheres se chamassem Maria, os homens José e todas as cidades fossem como Palmas e todos os meses fossem assim! Certamente nada se complicaria tanto e o tempo seria um eterno mês de maio. “Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!!
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com