Spinoza e Einstein. O primeiro, filósofo holandês do Século XVII e o segundo, cientista alemão do Século XX, mostrando que quase três séculos que os separaram não mudaram o conceito que eles tiveram sobre quem é Deus.
Espinosa (ou Spinoza) viveu em época conturbada, durante a inquisição, que nada mais era do que um movimento político-religioso entre os séculos XII ao XVIII na Europa e Américas e que tinha o objetivo de buscar o arrependimento dos considerados hereges e condenar as teorias contrárias aos dogmas do cristianismo, atacando a todos que ousavam discutir os dogmas da Igreja Católica que exercia enorme poder sobre reis, imperadores e outros soberanos, muitos deles sendo excomungados ou mortos.
Naqueles tempos de tantas crenças, religiões, seitas e movimentos de caráter monoteísta que se espalharam pelo mundo, percebemos que todos buscavam compreender quem é Deus. Todos criaram a concepção de que existe o Céu para os justos que viveram na Terra praticando atos de caridade e amor ao próximo e o Inferno para os que desobedeceram em vida aos mandamentos de Deus.
Chegamos à conclusão de que o Deus do Antigo Testamento era mais rigoroso e até mesmo todo e qualquer desastre ocorrido na natureza era atribuído àquele Deus como castigo para a humanidade.
O Deus do Antigo Testamento, segundo estudiosos, era por demais egoísta e vingativo, não permitindo qualquer atitude que não fosse exclusivamente para adorá-lo.
E naquele mundo confuso no Século XVII, em plena Inquisição, nasceu na Holanda Baruch Espinosa. Veio de uma família de judeus, de origem portuguesa. Seus familiares vinham há algum tempo fugindo das garras daquele estúpido movimento do cristianismo. Era filho de um rico comerciante. Posteriormente viria a se tornar um dos maiores pensadores racionalistas do século XVII.
Pesquisador atento dos textos bíblicos e do Talmude – texto fundamental dos rabinos – e de obras essenciais da cultura hebraica, Spinoza investigava igualmente os escritos de grandes filósofos ocidentais, como Sócrates, Platão, Aristóteles, entre outros.
No contexto da sociedade holandesa imperava a intolerância. De 1654 a 1656, ele trabalhou à frente dos negócios familiares. Neste ano, porém, ele foi excomungado em Amsterdã, sob a alegação de ter cometido heresia.
Spinoza acreditava que Deus é a engrenagem que move o Universo, e que os textos bíblicos nada mais eram que símbolos, os quais dispensam qualquer abordagem racional. De acordo com sua visão, os textos ali contidos não traduzem a realidade que envolve o Criador e sua criação.
Depois de ser excomungado se fixa em Haia, trabalhando como polidor de lentes. Ele se torna conhecido pelas concepções que defende sobre a Divindade. Morreu prematuramente em 1677, com apenas 44 anos, talvez por decorrência do pó de vidro que respirava durante seu ofício.
Certa feita perguntaram ao grande gênio Einstein se ele era ateu e não acreditava em Deus. Ele respondeu: Acredito no Deus de Spinoza, o Deus que se revela por si mesmo na harmonia da vida.
Para Spinoza, Deus é o único motivo da existência das coisas. É a substância única e nenhuma outra realidade existe fora de Deus.
Deixou cristalizada a ideia, com a qual concordo plenamente, de que o Deus preconizado pelo antigo testamento e até hoje por alguns segmentos religiosos, não existe. Não existe um Deus que concede o livre arbítrio aos seus filhos e depois os castiga por infringir alguns conceitos e cultivar inúmeros preconceitos. Por acaso um pai criaria uma serpente ou um escorpião para picar seu filho? O Novo Testamento preconiza através de Mateus: Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe dará uma cobra?
Spinoza Deixou patenteado que na realidade da consciência plena, Deus não existe. Deus é, Deus está em tudo que existe. Está no movimento incessante das incontáveis galáxias de todos os astros no universo; está na lei da gravidade, nas estações do ano, cada uma com suas características próprias; no movimento da rotação e translação da Terra; está na força da atração e repulsão. Da ação e reação. Do dar e receber. Está na semente plantada que brota e alimenta e enfeita tudo que nos cerca; está no plantar e colher. Está no átomo, nas moléculas, no ar, em toda terra e elementos naturais que a compõem; na água que dá vida a tudo e a sustenta. No calor do sol e no frio da neve. Nas flores, nos frutos e no voo dos pássaros. Está nos misteriosos mares e oceanos e tudo que neles vivem. Deus está nas alegrias e nas tristezas humanas. Na coordenação, equilíbrio e interdependência de todos os órgãos que compõem uma das maiores e mais perfeitas criações: o corpo (matéria) e o ser humano (espírito). Está, também, nos sonhos e decepções que somos capazes de conceber.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com