No dia 2 próximo passado celebramos o dia de finados. A celebração naquela data aconteceu pela primeira vez há mais de um milênio, no ano de 998, de acordo com o que afirma a Igreja Católica. Segundo o Vaticano, a reunião de homenagens em apenas uma data foi uma criação do abade francês Odilo de Cluny, que viveu entre os séculos 10 e 11. É diante dessa afirmativa que digo ser um tanto controverso a criação dessa denominação de dia de finados, afinal todos os dias são dos vivos e dos mortos. A toda hora de todos os dias nascem e morrem milhares e milhares de pessoas.
Como o ser humano, em especial os seguimentos religiosos sempre tiveram a pretensão de se acharem os criadores e inventores de tudo, assim ficou denominado o dia 2 de novembro.
Mas com esse clima que se criou diante dessa celebração, sempre neste dia acordo com um misto de tristeza e de alegria. Mais de alegria do que de tristeza, pois é o dia que relembro as pessoas que passaram por minha vida desde que nasci e que agora não podemos mais revê-las neste plano que vivemos. Delas ficaram os ensinamentos e lições de vida que aprendi no meu lar paterno; a satisfação das refeições com meu avô, que também era José Cândido, sem contar a degustação da cerveja que ele fabricava; as alegrias que me proporcionaram as amizades sinceras de que desfrutei. Da infância, nenhuma tristeza guardada, somente alegrias e felicidade pelos momentos vividos na ingenuidade que ela contém, dentre os quais os cuidados dos meus pais, meus irmãos e irmãs, meus primos e amigos de brincadeiras despretensiosas, quando a pureza do Espírito superava os desejos e vontades físicas; da adolescência o despertar para vida, a explosão de hormônios configurando e transformando nosso corpo físico e descortinando os primeiros sonhos do espírito e desconhecendo ou pelo menos ignorando qualquer tristeza da vida; da juventude o complemento da adolescência, já com visão mais real da vida humana, com suas belezas e ao mesmo tempo já começando a compreender suas mazelas em tentar destruir muitos sonhos; da maturidade o conhecimento da realidade da vida humana, que não permite mais tantos sonhos mas o enfrentamento da realidade para conquistas que nos satisfazem, do valor de um abraço ou um beijo da esposa, filhos, filha, netas e neto que tanto amamos e respeitamos; da senectude a realidade sobre até onde é capaz de chegar a sabedoria humana. Ser idoso é carregar a experiência de uma vida toda, com seus acertos e erros e tentarmos transmitir aos mais jovens que nos ouvem os atalhos para minorar alguns percalços. Quando olhamos e analisamos o que passou, compreendemos que essas fases são tão rápidas e passageiras como a nossa própria existência neste planeta Terra.
Tristezas e alegrias são partes inerentes ao sublime e mais nobre sentimento humano: o amor!
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente. (nos ensina as Escrituras e a própria vivência).
O amor tudo pode, tudo suporta, tudo compreende. O amor não adota a tristeza. O amor é irmão gêmeo da alegria. Quando pudermos todos nós, analisarmos a vida sob essa visão, quando todos aprendermos a viver e conviver com as belezas e alegrias da vida que estão presentes em nosso dia a dia e são partes inerentes da própria vida; Quando aprendermos a dar valor nas mínimas coisas e momentos; Quando aprendermos a admirar e valorizar a beleza do nascer ao por do sol; os encantos dos dias e das noites; do ar que respiramos, os perfumes e as cores das flores e a beleza do voo dos pássaros; da influência da força da gravidade; dos movimentos de rotação e translação; da chuva que cai, da semente que brota, do sol que alimenta e fornece a energia necessária para todas as vida e toda natureza; o valor da audição, do tato, do paladar. Do toque sublime de um amor verdadeiro. Quando tudo isso acabar já não teremos a oportunidade de compreender o que já devíamos ter compreendido, ou seja, que fomos criados a imagem e semelhança de Deus. Do Criador Supremo. E por isso temos dentro de nós a força e energia necessárias para a superação dos embates da vida, e, acima de tudo, compreendermos que enquanto matéria somos extremamente finitos e estamos plenamente submetidos às imutáveis leis universais, aqui para nós na natureza plena: nascer, viver e morrer, sobrando, ao final, o Espírito (a Alma), esse sim, eternamente imutável e que não está atrelado ou submetido a nenhuma lei física conhecida nesta ínfima terceira dimensão em que vivemos e fazemos parte, o que nos confirma sem sombra de dúvidas sermos, cada um, um espírito vivendo uma experiência humana e não um ser humano vivendo uma experiência espiritual.
Por isso reafirmo a minha convicção na controvérsia afirmação de dia dos mortos. Afinal todos nós que vivendo esta vida humana um dia estaremos mortos e todos os mortos são e serão eternamente vivos.
“Quem tem ouvidos que ouça, que tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com