No artigo anterior, após tecermos comentários sobre os orgulhosos, agora, vamos aos vaidosos, entendendo que o momento mais propício para algumas palavras sobre o assunto, é agora, uma vez que nesta época de campanha eleitoral, grande parte dos políticos, de Norte a Sul, de Leste a Oeste em todo Brasil, se veste de cordeiros e prometem trazer o paraíso para a terra, se não bastasse compreender que a vaidade é a grande causadora dos nossos próprios infortúnios, mas ao invés de reconhecê-los, achamos mais simples, menos humilhante para nossa vaidade, acusar a sorte, a Providência, a pobreza, o acaso e assim por diante.
Vamos às suas facetas: Apresentação pessoal exuberante (no vestir, nos adornos usados, nos gestos afetados, no falar demasiadamente, nas promessas fúteis; Evidência de qualidades intelectuais, não poupando referências à sua própria pessoa ou a algo que realiza; Esforço em realçar dotes físicos, culturais ou sociais, com notória antipatia, provocando aos demais; Intolerância para com aqueles cuja condição social ou intelectual é mais humilde, não evitando sobre eles comentários desairosos; Aspiração a cargos ou posições de destaque que acentuem referências respeitosas ou elogiosas à sua pessoa; Não reconhecimento de sua própria culpabilidade nas situações de descontentamento diante de infortúnios por que passa; Obstrução mental na capacidade de se autoanalisar, não aceitando suas possíveis falhas ou erros, culpando vagamente a sorte, a infelicidade imerecida, o azar.
Quer queiramos ou não, a vaidade está sempre sorrateiramente dentro de nós. É muito sutil a sua manifestação dentro de nosso íntimo, e não deve ser pequeno o esforço que devemos desenvolver na vigilância para não sermos vítimas das influências que encontram apoio nesse nosso defeito.
A vaidade nas suas formas de apresentação, quer pela postura física, gestos estudados, retóricas ao falar, atitudes intempestivas, reações arrogantes, reflete, quase sempre, uma deformação de colocação do indivíduo face aos valores pessoais que a sociedade estabeleceu. Isto é, a aparência, os gestos, o palavreado, quanto mais artificiais e exuberantes, mais chamam a atenção, e isso agrada o intérprete, satisfaz a sua necessidade pessoal de ser observado, comentado, badalado.
No íntimo, os protagonistas refletem, naquela aparência toda, grande insegurança e acentuada carência de afeto que neles residem, oriundas de muitos fatores desencadeados na infância e na adolescência. Os vaidosos os são, muitas vezes sem perceberem e vivem desempenhando personagens que escolheram. No seu íntimo são sempre diferentes daqueles que aparentam, e de alguma forma essa dualidade lhes causa conflitos pois sofrem com tudo isso e sentem necessidade de encontrarem-se a si mesmos, embora, às vezes, sem saber como.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com