No meu tempo de criança, adolescência e juventude, não existiam tv, internet, telefones celulares, redes sociais, etc, que hoje se encarregam de afastar os próximos e aproximar os distantes, muitas vezes sem afeto, compromisso ou amor, sem contar a divulgação de notícias maliciosas, falsas ou mentirosas, na maioria das vezes, incutindo na cabeça dos mais jovens comportamentos totalmente estranhos e atitudes mais ainda.
No meu tempo era no lar que quando crianças aprendíamos a dizer bom dia, boa tarde, boa noite, por favor, com licença, desculpe-me, perdoe-me, muito obrigado, grato, errei.
Era, também, no lar, que aprendíamos a ser honestos, pontuais, ser solidários, respeitarmos todos os amigos, colegas, professores, autoridades e em especial os idosos, que um dia prepararam nosso futuro; aprendíamos, ainda, a respeitar os direitos dos vizinhos e as regras da boa convivência. Aprendíamos que nosso direito termina onde começa o do outro.
Era no lar que aprendíamos a comer de tudo, não falar de bocha cheia, a ter higiene pessoal, não jogar lixo no chão, ajudar os mais velhos nas tarefas diárias de casa, a não pegar o que não é seu; era, ainda, no lar que se aprendíamos a ser organizados, cuidar dos nossos pertences, respeitando os dos outros, respeitar regras, usos e costumes e, acima de tudo, saber que existiam os dons espirituais que estão acima dos bens materiais.
Na escola os professores ensinavam, em especial matemática e português, além de história, geografia, língua estrangeira, ciências, educação física, tudo mais que se relacionava à nossa formação como pessoa. Além de serem a extensão da formação moral iniciada em cada família.
No meu tempo, os aparelhos eletrônicos não existiam, nossas brincadeiras com os amigos e colegas se prendiam a pular cordas, jogar vôlei, ouvir boas músicas, esconde-esconde, andar de bicicleta, soltar pipa e corrermos livres leves e soltos pelas ruas da minha pequena cidade.
No tempo das procissões e dos sagrados, procissões e sagrados. No tempo das festas, festas.
No tempo do carnaval, carnaval; No tempo do entrudo, entrudo e assim por diante.
Quando muito ouvíamos um rádio que nos trazia notícias de longe. Apreciávamos ir ao aeroporto assistir os pousos e decolagens dos aviões. Sem nos esquecermos dos filmes exibidos no Cine Atanaram. Ouvir músicas clássicas no serviço de alto falante da cidade, a Maranata.
Na adolescência e juventude, os bailes em casas de famílias dominavam os finais de semana.
Os passeios nos arredores da cidade. Mergulhar e nadar em córregos e rios um pouco mais distantes, traziam uma sensação única de liberdade. Com chuva ou com sol, embrenharmos no cerrado em busca de caju do campo, côco xodó (macaúba), puçá, murici e ingá…
Depois, já com a formação moral praticamente completada, partíamos cada um para seu destino na cidade grande, onde completaríamos nossa formação intelectual, tão bem iniciada no Ginásio João D’Abreu, capitaneado pelas inesquecíveis e abnegadas freiras da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, auxiliadas pelo insubstituível mestre Padre Magalhães, que veio a se tornar Monsenhor.
E lá na infância e adolescência o tempo se consumia e consumia nosso tempo que tão rápido se passou e nem percebíamos e que só agora nos damos conta que o tempo, também nos consumiu, deixando saudades e boas recordações da formação que recebemos em nossos sagrados lares em nossa inesquecível terra natal, nossa Dianópolis, que um dia foi Goiás e hoje é Tocantins.
“Preconiza-se na atualidade do mundo uma educação pela liberdade plena dos instintos do homem, olvidando-se, pouco a pouco, os antigos ensinamentos quanto à formação do caráter no lar; a coletividade, porém, cedo ou tarde, será compelida a reajustar seus propósitos.
Os pais humanos têm que ser os primeiros mentores da criatura. De sua missão amorosa, decorre a organização do ambiente justo. Meios corrompidos significam maus pais entre os que, a peso de longos sacrifícios, conseguem manter, na invigilância coletiva, a segurança possível contra a desordem ameaçadora.
A tarefa doméstica nunca será uma válvula para gozos improdutivos, porque constitui trabalho e cooperação com Deus. O homem ou a mulher que desejam ao mesmo tempo ser pais e gozadores da vida terrestre, estão cegos e terminarão seus loucos esforços, espiritualmente falando, na vala comum da inutilidade.
Debalde se improvisarão sociólogos para substituir a educação no lar por sucedâneos abstrusos que envenenam a alma. Só o espírito que haja compreendido a paternidade de Deus, acima de tudo, consegue escapar à lei pela qual os filhos sempre imitarão os pais, ainda quando estes sejam perversos.
Ouçamos a palavra do Grande Mestre e, se tendes filhos, na Terra, guardai a declaração Dele como advertência.”
Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja! (Yashua).
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com