O tema vem a propósito do momento que vivemos e que serve para refletirmos e quebrarmos muitos paradigmas.
Humildade, a grande virtude que anda muito esquecida por quase todos nós. Com a desculpa do corre-corre do dia a dia e tantas outras que mascaram a verdade e fazem com que nos esqueçamos do exemplo maior que um Ser de Luz nos deu há 2.000 anos, que pela humildade tornou-se o Mestre dos mestres, o Sábio dos sábios, o Médico dos médicos e o Profeta dos profetas.
Foi Ele que nos ensinou que sem humildade jamais poderemos ser solidários para com os nossos semelhantes, pois esta nivela todos nós, nos ensina que somos todos iguais e nos induz a auxiliarmos uns aos outros. Sem humildade apenas nos enganamos a nós mesmos, como se vestíssemos uma roupa para ocultar os defeitos do corpo. Conveniente lembrar, também, dos exemplos que Ele deixou quando socorria dos mais humildes aos mais poderosos sem estabelecer limites ou diferenças.
E o que dizer do orgulho? Eis aqui o terrível adversário da humildade.
Quando Aquele Mestre disse: Bem-aventurados os pobres de espírito, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os defensores da paz, os que são perseguidos por causa da justiça, pois para eles existe reservado um lugar especial.
Ele não quis dizer que somente esses herdariam a vida plena de luz, apenas afirmava, nas entrelinhas, que aqueles que centralizam sua vida aqui na terra em situações transitórias, como riqueza, títulos, poder, fama e beleza e se acham grandes, imaginando que os títulos e riquezas são a eles conferidos pelos seus méritos, esquecendo-se dos mais humildes, terão dificuldades para encontrar o caminho da plena paz.
Quantos de nós, que ao conseguirmos um diploma de nível superior, pós graduação, mestrado, doutorado ou um cargo de relevo na administração pública, no meio político, ou em qualquer outro campo da atividade humana, até mesmo nos meios religiosos, sendo um padre, um bispo, um cardeal, um pastor, um médium ou apenas um pregador, nos julgamos superiores em tudo? Questiono: Seremos distinguidos pelos títulos que conseguimos? Pelos bens materiais que juntamos? Pela beleza do corpo físico que possuímos? Ledo engano. Tudo que está intrínseco no dom da vida, embora pareça simples, é muito grande e sábio e o orgulho e a soberba é que fazem com que pensemos que somos diferentes e melhores do que os nossos semelhantes.
Quantos de nós, que sob nosso teto confortável, ao abrigo do frio e das intempéries nos esquecemos dos que sofrem ao relento? Quantos de nós com a mesa farta, nos esquecemos dos que passam fome, muitas vezes tão próximos de nós, batendo em nossa porta e por preguiça ou comodidade negamos um auxílio?
Sei que muitos ao serem questionados sobre tudo isso, sentem o orgulho ferido e revoltados, achando que operarão uma mudança interior, concordam em dar esmolas aos mais necessitados, mas sem se quer tocar nas mãos daqueles a quem acha que está ajudando, esquecendo-se completamente de um gesto fraternal.
Isso nunca! Dirão muitos, ou ao menos pensarão. Eu, de sangue nobre, grande na terra, igual a esses miseráveis, cobertos de trapos e necessitados? Se fossemos iguais, por que o Senhor da Vida colocou-me tão no alto e ele tão embaixo? É certo que as nossas vestes não sejam iguais ao do maltrapilho e pobre, mas se despidos, que diferença haverá entre nós? A nobreza do sangue, dirão os orgulhosos. Porém, convém lembrar que a química e a ciência ainda não descobriram e não descobrirão, jamais, a diferença entre o sangue dos que se acham acima com os dos mais humildes.
São eternas as riquezas? Não desaparecem quando se extingue o corpo, envoltório perecível do espírito? Necessário lembrarmos sempre que somos espíritos mergulhados na matéria e não seres materiais carregando um espírito.
Ah, se pudéssemos lançar sobre nós mesmos um pouco de humildade! Se pudéssemos lembrar sempre que a morte não poupará nenhum de nós; que os nossos títulos cobertos de orgulho e vaidades, não nos preservarão da morte do corpo físico, o que poderá acontecer hoje, amanhã ou a qualquer hora. Enterremos, pois, nosso orgulho antes que seja tarde!
Na balança dos verdadeiros valores somos todos iguais. Só as virtudes nos distinguem aos olhos do Criador. Todos os Espíritos são da mesma essência e todos os corpos da mesma massa. Nossos títulos e nossos nomes não nos modificam em nada perante a Verdade Suprema. Eles permanecerão no túmulo e não contribuirão para que possamos desfrutar da evolução espiritual.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
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JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado. Membro fundador e titular da cadeira nº 12 da Academia de Letras de Dianópolis (GO/TO), sua terra natal.
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