Todo ano, quando da passagem da Semana Santa, que é o prenúncio de muita reflexão, que muitos possam aproveitar para sanar algumas dúvidas após a leitura do seguinte texto: “Para os bilhões de cristãos existentes hoje no mundo (católicos e evangélicos), Cristo foi descido do madeiro, sepultado e ressuscitou ao terceiro dia.” Mas isso é matéria de fé ou crença, que não pode satisfazer a não cristãos, aos quais se dirige, em especial, as palavras que se seguem, que embora possa parecer longo, torna-se necessário que assim seja.
Uma vez sepultado, o que poderia ter acontecido ao corpo de Cristo, excluída a alternativa da ressurreição? Teria ela apodrecido no sepulcro como qualquer um de nós? Impossível! O fato não teria permanecido oculto e os judeus, poderosíssimos e interessadíssimos em provar a pretensão de Cristo de ser Deus ou filho de Deus, o que era uma blasfêmia para eles e pela qual, segundo a sua lei, o haviam condenado à morte, não teriam deixado de explorar o fato, inclusive talvez abrindo o sepulcro à visitação pública para mostrarem a que estava sendo reduzido o homem que se proclamava Deus e matando, assim, no nascedouro o cristianismo, que jamais teria existido.
Excluída a hipótese de decomposição, poderiam os discípulos de Cristo haver transferido o seu corpo para outro lugar e falsa e hipocritamente proclamado a ressurreição? Afigura-se, também, impossível!!! O tempo disponível parecia escasso para isso. Cristo ficou sepultado por cerca de 36 horas. Das seis da tarde de uma sexta-feira ao alvorecer de um domingo e nesse período, cerca de 24 horas eram dedicadas ao shabat, durante o qual, pela lei judaica, era proibido qualquer trabalho ou esforço físico. Não era lícito durante o shabat sequer salvar uma pessoa que houvesse caído num lago ou estivesse ameaçada de afogamento. Esse fato não deixaria, igualmente, de chegar ao conhecimento dos judeus, que por certo o explorariam da mesma maneira como o teriam feito no caso do apodrecimento do cadáver no túmulo. Segundo São Mateus, quando os guardas foram comunicar aos príncipes dos sacerdotes o que havia sucedido na manhã de domingo, eles teriam dado aos guardas uma grande soma de dinheiro e lhes dito: “Dizei que os seus discípulos vieram à noite e furtaram o corpo, enquanto astáveis dormindo.”
Postas de lado as hipóteses de decomposição do cadáver e da sua remoção pelos discípulos, resta examinar uma terceira e última possibilidade: a de Cristo nem sequer haver sido sepultado e, simplesmente, sido retirado da cruz ainda com vida e recuperado mediante cuidados médicos especais e partido para o exterior para fugir de nova e certa perseguição dos judeus quando o soubessem ainda vivo. Existe, ainda, uma controvertida ideia de que Cristo viajou para a Índia em sua juventude e lá teria assimilado a filosofia budista e retornado à Palestina como líder religioso.
Após a amarga experiência do julgamento e da crucificação e havendo escapado desta com vida, teria retornado à Índia, onde teria se tornado um guru conhecido como Issa e teria morrido de morte natural em idade avançada. Apesar da literatura sobre o suplício da crucificação registrar casos de crucificados recuperados, com muito mais tempo de permanência na cruz do que Cristo, a tese parece-nos simplesmente extravagante e não merecedora de maiores considerações, entre outras razões, porque como as hipóteses de apodrecimento do cadáver ou do seu furto, essa recuperação e fuga para o exterior não poderiam, igualmente, deixar de chegar ao conhecimentos dos judeus e seriam por eles exploradas para colocar em evidência a não divindade de Cristo, pela qual eles o condenaram à morte pelo crime de blasfêmia por assim se proclamar.
As hipóteses que podem explicar “O MISTÉRIO DE CRISTO NA HISTÓRIA, baseiam-se em: a) a investigação sobre o paradeiro de seus restos mortais: b) o apodrecimento do corpo no túmulo: c) o furto deste pelos discípulos: d) a não morte de Cristo na cruz e sua posterior recuperação seguida de exílio voluntário para outro país para escapar à nova perseguição dos judeus. Mas acreditamos na ressurreição, tal como aceita pelos cristãos em geral e proclamada pela igreja e arrancar o nome de Cristo da história seria um salto no absurdo do caos ou, antes, no nada. Por fim, nem mesmo o mais empedernido incréu pode garantir, com absoluta certeza, que não haverá alguém do lado de lá, conforme ensina o cristianismo, esperando que lhe devolvamos, naturalmente, a existência que ele apenas nos confiou. Portanto prezado leitor, principalmente você com empáfia e falácia pensa exercer um poder, quer seja material, político ou qualquer um outro, achando que é eterno sobre a terra e que não acredita em nada, lembre-se que tudo é passageiro e a questão de você ser esquecido por quase todos é apenas o tempo do seu apodrecimento no túmulo, quando, então, quase ninguém mais falará sobre sua pessoa e seu efêmero poder. No entanto, o Cristo que nos ensinou amar ao próximo como a nós mesmos, continua cada vez mais lembrado, apesar da conturbação dos dias de hoje e dos dois mil anos da sua passagem pela terra.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com