Neste momento em que o mundo se debate em conflitos e guerras, nada melhor que amenizá-lo, trazendo para cada um o verdadeiro sentido da vida.
“Quando as potências do universo empolgam o homem, torna-se ele santo ou poeta.” Disse Blaise Pascal (1623-1662), físico, matemático, filósofo e teólogo francês, que teve uma boa educação, baseada em sólidos princípios morais, concomitante ao ensino da história e filosofia.
[bs-quote quote=”Interpretar o mundo do poeta é como tentar desvendar determinados sonhos que sonhamos dormindo e que, de tão belos, acordados não conseguimos transmiti-los para quem quer que seja” style=”default” align=”right” author_name=”JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA” author_job=”É poeta, escritor e advogado” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/10/JoseCandido-PovoaNova-180.png”][/bs-quote]
Essa assertiva cala fundo em mim, pois se não bastasse Deus não me querer santo, pelo menos neste plano terrestre, concedeu-me o dom de ser poeta e estar sempre tentando desvendar os intrínsecos mistérios que nos proporcionam os sentimentos humanos, em comunhão com a natureza, lídima representante e filha maior do Criador da vida.
Sim, o dom de fazer poesias, pois como afirma o ditado latino o “poeta nascitur, non fit”(o poeta nasce, não se faz). E como todos nós nascemos com algum dom e qualquer deles há de ser sempre trabalhado e aperfeiçoado, com a poesia não é diferente, pois cabe ao poeta cuidar da sublime missão de se alinhar com os detalhes que passam despercebidos por tantos e transformá-los em forma inteligível, ou seja, alinhavar os sentimentos que perpassam pelo coração e a alma e arrematá-los de forma, se não concreta, pelo menos compreensível, em forma de frases, reflexões, versos ou poemas.
Tarefa nada fácil se o poeta não tiver a consciência plena disso e não procurar aperfeiçoar e aplainar os caminhos que são muitos e tão diversos e que chegam tangidos pelos sentimentos que afloram, ou daqueles que se encontram ainda adormecidos no fundo da alma e que cabe a cada um desenvolvê-los, sem contar os que são tão transcendentais que até ele, o poeta, morre sem conseguir compreendê-los por inteiro.
Interpretar o mundo do poeta é como tentar desvendar determinados sonhos que sonhamos dormindo e que, de tão belos, acordados não conseguimos transmiti-los para quem quer que seja.
Não foi por acaso que escreveu o compositor: “…os sonhos são meus, ninguém rouba nem tira…” Corroborando com tudo isso, disse o insubstituível Carlos Drummond de Andrade: “O homem tem o dom de trazer no paladar a sua infância.”
E eu, ousadamente, acrescentaria: temos a capacidade cognitiva de carregar a infância nos cinco sentidos de que somos possuidores, indistintamente, e pelo resto da nossa vida terrena.
Tenho a impressão, ou melhor, a convicção que talvez isso se dá exatamente pelo fato da infância trazer em si tudo que há de sublime, puro e transcendental, aproximando-se tanto da vida espiritual. Basta o mínimo de sensibilidade para entender que a infância, manifesta-se a todo momento nos cinco sentidos humanos, em cada um de nós essencialmente na fase da vida adulta, repito, por mais insensível que a pessoa possa ser.
No olfato, ao sentirmos o cheiro suave de uma fruta, de uma flor, da terra molhada pelas primeiras chuvas; Na audição, ao ouvirmos o canto de determinado pássaro, uma música, uma sinfonia ou até mesmo o barulho do vento no farfalhar das folhas; Na visão, ao vermos as belezas da natureza que nos cerca, por onde andarmos ou formos, sempre ali estarão as lembranças das primeiras paisagens, os primeiros lugares que conhecemos um dia; No paladar, em tudo que nos deliciamos na infância, seja aguçado ou não o sentido; No tato, quando muitos de nós conseguimos transformar em realidade palpável algo que em contato com as mãos, a comparamos com aquilo que nos lembra e que nos foi tão grato na infância.
Enfim, a nossa infância, os primeiros sabores, os primeiros perfumes, as primeiras músicas, o primeiro toque, o primeiro beijo, o primeiro abraço, estarão em nossas vidas enquanto aqui na Terra permanecermos.
Uma vez mais o Mestre dos mestres tinha e tem razão quando tentaram impedir que as crianças Dele se aproximassem e assim se expressou: “Deixai vir a mim as criancinhas, pois delas é o reino dos céus…”
E se tudo isso não bastasse, há poucos dias retornei ao mar, a expressão maior da presença do Criador na natureza e lá, após alguns dias admirando aquela imensidão e beleza, nasceu o seguinte poema: O poeta e o mar. O poeta passou dias ouvindo o que o mar dizia…/Nas marés e nas ondas apreciou chegadas e partidas./Viu suas espumas brancas de longe pelas ondas trazidas,/Pelas alvas areias das praias sendo absorvidas…/Os mistérios do mar e da alma do poeta cresciam e se fundiam…/Juntos lamentavam, amavam, cantavam e sorriam./Falavam dos sonhos, da vida e dos seus destinos,/Descobrindo que são iguais até nos desatinos…/Agora, o poeta retornando aos mistérios do belo cerrado,/Traz consigo e deixando com o mar, incontáveis sentimentos e saudades,/Ou mesmo trazendo ou deixando um alegre ou triste fado./E o misterioso e velho mar, depois que o poeta se despediu e partiu,/Para se alegrar, ergueu-se em imensas e incontáveis ondas, /dançou, bailou e rindo,/ Cantou um canto novo, enigmático, molhado, doce e lindo…
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado. Membro fundador e titular da cadeira nº 12 da Academia de Letras de Dianópolis(Go/To), sua terra natal.
jc.povoa@uol.com.br