Aos poucos a história e o tempo encarregam-se de levar para nossa memória as pessoas que amamos e que conosco conviveram por muito tempo.
Existem pessoas que nascem para ser apenas pessoas, gente comum e se limitam a cumprir a inexorabilidade matemática da própria natureza e passam a vida, aliás, este pequeno espaço de tempo que no planeta terra que vivemos, cumprindo uma parte da missão que cabe a cada um. Chegando vazios, voltam com os espíritos vazios.
[bs-quote quote=”Existem as pessoas especiais que o Criador da vida confia uma missão maior: O de ser gente por inteiro, homem por completo” style=”default” align=”right” author_name=”JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA” author_job=”É poeta, escritor e advogado” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/03/JoseCandido-PovoaNova60.png”][/bs-quote]
Existem aqueles que vieram para ser apenas homens. Só isso. Mas existem as pessoas especiais que o Criador da vida confia uma missão maior: O de ser gente por inteiro, homem por completo, mas com um adendo a mais: Ser anjos da guardas.
Ele foi meu guru e eu nem sabia à época. Fui um seguidor incansável dos seus passos e brincadeiras na infância em nossa querida Dianópolis e depois no enfrentamento da vida, quando juntos moramos em uma república de estudantes em Goiânia. Invariavelmente, no nosso tempo de crianças, quase todas as manhãs, quando não estávamos no Ginásio João D’Abreu, para as aulas rotineiras que nos preparavam para o futuro, seguíamos para a “Biquinha”, uma espécie de banheiro público que despejava suas águas frias sobre nossos corpos quentes de meninos e depois corriam nas transparentes águas do Córrego Getúlio, que as entregava a um córrego maior, este para um rio que desaguava bem distante no horizonte ao grande mar, levando consigo sonhos e esperanças. Após aquele ritual de banho, quase diário, um delicioso almoço na casa dos Tios Aníbal e Tia Guiomar, sempre naquela mesa farta de crianças e deliciosas comidas.
Por anos a fio, quando o dia caminhava para a apoteose do entardecer, ele, Renato, Edmar e eu, andando por aquelas trilhas que o tempo constrói sob os passos de meninos felizes, rumávamos para o local denominado roça de Tio Aníbal, onde prendíamos as vacas para ordenha do dia seguinte…
Ele sempre nos guiando em tudo isso. Era meu guru e eu não sabia, repito.
Eles, os gurus são, também, raros, mas existem. E um dos exemplos maiores foi meu primo-amigo Alvimar, nosso querido Vi. Um primo que se tornou um irmão. Protetor da minha infância e dos dias felizes e alegres que em Dianópolis vivemos. Guardião e compreensivo com meus sonhos de menino já-quase-adolescente, quando eu, quase que diariamente transformava a casa dos tios Aníbal e Guiomar na extensão do meu sagrado lar.
E como se isso não bastasse, veio, antes de mim, aliás, também de Renato, Edmar e Madalena, para morar em Goiânia onde prosseguiu na sua missão de homem bom e companheiro. Continuou a ser meu anjo da guarda quando moramos na república de estudantes. Foi lá que descobri que além de primo, se transformou em muito mais, fez-se ou confirmou-se o que a vida impunha: Tornou-se um irmão mais velho que eu sempre quis ter na minha vida, mesmo porque o meu irmão Péricles, por ser muitos anos mais velho, não tinha tempo para cuidar de mim e a própria diferença de idade assim impunha. Alvimar, o Vi, para os mais íntimos, foi confidente das minhas aventuras na cidade grande. Hoje entendo, ele apenas desempenhava o papel de anjo que Deus o confiou. Ele não se apegou a bens materiais, não se envaidecia pelas conquistas alcançadas nesta vida, cordato, amigo e solidário em tudo, levou a sério e praticou, ipsis litteris uma difícil virtude: A humildade.
Ele não morreu no dia 16 de junho próximo passado, apenas voltou ao status que deixou no mundo espiritual e para cá veio para nos servir a todos que com ele conviveram. O reencontro com todos nós é apenas questão de tempo, esse tempo tão passageiro para nós humanos. Deixou Dianópolis mais triste e desfalcou o rol de pessoas boas.
Deixo aqui meu abraço espiritual através desta despedida simples, tão simples como ele foi por aqui. Obrigado por ter sido parte tão importante em nossas vidas.
Adeus, Alvimar, meu querido irmão Vi, continue a cuidar de nós, heim!
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado. Membro fundador da Academia de Letras de Dianópolis, sua terra natal
jc.povoa@uol.com.br