Quando me inseri no mundo da poesia, isso para terceiros, (pois como disse o incomparável Augusto do Anjos: “O poeta nasce, não se faz.” Ou como nos ensinava o Mestre Monsenhor Magalhães: “Poeta nascitur, orator fit.”) e de consequência na literatura, produzindo artigos e crônicas, tinha e continuo cada dia mais com a convicção de que esse sublime ofício é capaz de introduzir novas ideias, pensamento e sonhos na vida das pessoas, em especial neste momento tão conturbado para os que não estavam preparados para conviver com distanciamentos e isolamentos, embora muitos não tenham percebido o alcance da mensagem que fica e continuam e insistem em negar um abraço, um beijo ou uma palavra de carinho para com tantos que dessas atitudes e sentimentos necessitam.
Assim, ouço e vejo que tudo foi mais além do que eu imaginava sobre o assunto, ou seja, a literatura tem o dom de aproximar as pessoas, em especial no seio das famílias, que em grande número anda tão afastadas dos verdadeiros valores, em especial da educação e cultura, sem contar da essência espiritual que é a coluna mestra, o sustentáculo de qualquer estrutura familiar.
E o momento é oportuno para que eu volte a tecer alguns comentários sobre alguns fatos, em especial quando vemos a tecnologia digital “quase” superando os sentimentos.
A família, núcleo vital para a sobrevivência de uma sociedade mais justa, com certeza sente-se constrangida com muitos comportamentos atuais, constatando que as reuniões diárias em salas de suas casas, onde eram destinadas aos estudos e leituras, servem, agora, em grande parte das noites para programas de TV, vazios e desprovidos de conteúdo.
A sociedade, em primeiro plano as famílias, precisam meditar sobre isso. É urgente que retorne aos lares a premissa básica que vem sendo esquecida: O ser ao invés de ter. Premissa essa que sendo absorvida nos leva a sentir ao invés de fingir, andar ao invés de parar, ver ao invés de esconder e sentir que cada dia vale a pena ter sido vivido.
O próprio dia a dia vem fazendo com que os pais passem a maior parte do tempo fora de casa e estejam cada vez mais ausentes, em vista dos avanços tecnológicos, mais prisioneiros de um mundo sem objetivo real. Se a educação das escolas não cumpre o seu papel, necessário rever as razões e tentar retomar a primeira de todas as instituições: A FAMÍLIA.
É a partir dela que se inicia todo processo de educação. É necessário atentar-se sobre a violência que já chegou às salas de aula, quando assistimos alunos agredindo mestres. Tudo ocorrendo em consequência de uma sociedade que obriga os pais a terceirizarem a educação e cultura dos seus filhos através de berçários, creches, escolinhas, babás, avós, tias, etc., em nome do ter, quando deveriam estar juntos deles ensinando-os a ser e servindo de exemplo. As crianças são o que vivenciam.
Muitos são os que fazem com que mintam, dizendo que não estão, quando estão em casa. No automóvel, se na cidade, desrespeitando o direito do próximo, avançando sinais, sem cinto de segurança, desrespeitando as regras mais básicas de civilidade, jogando lixo na rua, poluindo; se nas estradas e a fila é longa, cortando pelos acostamentos; pagando propinas, se necessário e, assim, inconscientemente, preparando para a sociedade verdadeiros déspotas, que não conhecem limites.
É urgente que mudemos a situação em que chegou a nossa sociedade contemporânea e é preciso que sejamos mais tolerantes, sabendo elogiar, aceitar, partilhar, ser sinceros, praticar a ética e sabendo cada um colocar-se no lugar do outro. Assim teremos uma sociedade justa, conhecedora do verdadeiro sentido do respeito mútuo.
É necessário que os mestres não precisem apenas de giz e um quadro negro, a exemplo do que muitos já fazem. Que transmitam os conhecimentos científicos e tecnológicos diferentes dos métodos tradicionais, mas sem dissociar-se da parceria com as famílias, para resgatarem no menor espaço de tempo valores que estão se perdendo. É preciso mostrar que apesar da mídia pregar o que a sociedade de consumo impõe ainda vale a pena estudar e alcançar o sucesso pelos próprios esforços por meio da educação e do conhecimento.
Apesar dos avanços da tecnologia, a grande vilã, isso só será possível, repito, através da EDUCAÇÃO E CULTURA que foi, é e sempre serão insubstituíveis e continuarão a ser os norteadores da atual e futuras gerações.
Essas são as únicas e últimas saídas para que os desmandos que assistimos no nosso sofrido Brasil possam ter fim, em especial nos poderes constituídos, onde encontramos grande parte dos corruptos, incultos e cheios de interesses próprios.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com