Semana passada, em uma oficina de mediação de leitura, o professor relatou sua experiência de quando era criança na escola, com o livro Éramos Seis, da Coleção Vagalume. Ele contou sobre como a personagem Lola, a mãe de quatro filhos na história, impactou seu relacionamento com a sua própria mãe, em casa. Um episódio já superado, mas que deixou marcas que até hoje estão na memória.
E, embora o livro Éramos Seis também tenha marcado minha adolescência, quando li na escola, não causou nenhum imbróglio familiar.
Estas duas experiências acima tiveram desfechos diferentes. Porém, aconteceram a partir do mesmo livro e no mesmo ambiente, a escola. Comparando as situações, cá com meus botões, percebo que poderia ter sido bem diferente se a história do livro tivesse sido compartilhada em casa, também.
Pois bem, voltemos à pergunta que te trouxe até aqui: quem lê com a sua criança?
Mas veja bem… não é “para” a sua criança é “com” ela.
Já perceberam o quanto a literatura para infâncias está intimamente ligada à escola, relegada aos professores? Até aí, tudo bem. Só que, geralmente, a leitura trabalhada na escola possui cunho pedagógico. Isto é, tem uma finalidade, tem uma lição, tem um objetivo específico para o(a) professor(a) trabalhar em sala.
Mas será que a formação de leitores acontece somente na escola?
Espia as estatísticas: Na última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, de 2019, quando falamos especificamente do gênero literatura para leitores independentes, o(a) professor(a) desponta como maior responsável por incentivar o interesse dos alunos (52%), à frente de filmes baseados em livros (48%) e a indicação de amigos (41%). Por influência da mãe, ocupa o sexto lugar (32%) e por influência do pai, cai mais ainda, ficando em décima posição (20%).
É uma crítica à literatura na escola? Jamais. É um chamado para a importância da literatura enquanto arte, cultura, que pode acontecer fora da escola, em casa.
Como podem perceber, este é um assunto com muitas camadas, desde a famigerada ‘falta de tempo’, ao preço dos livros, a não saber onde encontrar obras com qualidade e por aí vai. Mas fico mesmo pensando em como poderíamos convencer algumas mães e, principalmente, pais de que essa pode ser uma atividade deliciosa, divertida, reveladora, capaz até de ressignificar a relação com os filhos.
Então, quero fazer um convite para você que é pai, tio, avô, amigo ou mãe, tia, avó, amiga, que não tem o hábito da leitura compartilhada. Experimente, vivencie este momento.
Leia com a criança. Experimente construir memórias prazerosas por meio da leitura, seja ela qual for. Se a criança ainda não souber ler, vai pedir para repetir dez, cinquenta, cem vezes! Se a criança souber ler, ela vai adorar ouvir você lendo uma história. Seja você o(a) responsável por este momento gostoso, que poderá marcar para sempre a vida de vocês.
Crianças e livros têm muito mais chance de começar uma bela relação quando as pessoas que elas mais amam compartilham essa leitura com prazer e disponibilidade. Ler com uma criança é uma das muitas formas de cuidá-la e amá-la.
Ah… e nunca é tarde para ler o primeiro livro!
NICEIA MENEGON
É jornalista e pós-graduanda em Literatura Infantojuvenil0