Isso não é um ataque. Nem mesmo uma ironia a comportamentos machistas e misóginos, mas uma forma de falar um pouco do absurdo que venho percebendo e vivido nas últimas semanas, meses, anos. A mulherada avançou e os homens tão recuando, seja por medo, ou para preparar o bote e matar. Parece paradoxo, não? Talvez seja, já que recuar pressupõe, também, um mecanismo de defesa. Ahh que homens medrosos! Mas tudo tem solução, meninos.
Dias atrás, numa mesa de bar comendo um espetinho de frango com bacon, ao lado de pessoas conhecidas, ouvi coisas absurdas sobre atitudes do que eles chamavam típicas de homens e de mulheres. Tipo o que cabe aos homens e às mulheres, entende? Fiquei estarrecido com o show de opiniões. Tanto que nem me atrevi a falar da cruel binaridade que inflama nossas sexualidades. Imagina se começo a falar em identidades de gênero?! Portanto, pega a visão: nunca se estresse com especialistas em opinião. Coma seu espetinho e depois vá embora, não sem antes desejar um boa noite. Educação é bom em todo lugar.
Que nojo ver duas mulheres se beijando. Eu também não gosto. Eu acho assim: se quer fazer faz tipo cada um na sua. Não gente, eu gosto de homem, mas se ele deixar eu fazer o fio-terra nele aí Deus me livre, porque sei não… esse cara é viado. Eu penso assim: o pau é o gran finale, o coroamento de tudo. E outra: do mesmo jeito que tão matando mulheres também matam os homens. Isso tem muito de mimimi. As coisas tão muito mudadas, é cada aberração hoje em dia, cara! Não vejo nenhum problema o cara querer ser o provedor da casa. Não! Aí tudo bem, ficar em casa, mas desde que ele pague uma mesada. Pra mim é assim: puta na cama e lady pra sociedade.
Todo o parágrafo acima está sem aspas porque nesse momento bizarro eu estava mastigando e engolindo meu espetinho.
Dados recentes do Monitor da Violência e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que o Brasil foi recordista, ano passado, em feminicídios. A cada 6 horas uma mulher foi morta no país. Isso não estava no papo da conversa do espetinho. Eu até tentei falar, mas eram tantas opiniões na mesa que fiquei sem direito de escuta. O aumento foi de 5% com relação a 2021. Já os assassinatos, sem o elemento gênero, tiveram uma queda de 1% comparando com 2021. Não vou entrar aqui na questão das subnotificações, porque aí já seria demais e embrulharia meu estômago, além do que lembraria de minha gastrite notificada reiteradamente em recente exame científico. A ciência é foda, né?
Homens, não tenham medo de chegar junto, e conversar, e ler, e fazer terapia. O problema tá no tamanho do seu pênis? Poxa, cada um cada um, cara! Por que tanto medo de uma vagina, heim? Por que esse ódio das mulheres e tanto amor pela virilidade, pela macheza, pela força? Freud pode ajudar. Seria muito melhor do que usar seu tempo pegando os “irmãos da hora”, também machistas e misóginos, para sessões de brotheragem (pesquisa o termo, pois você pode praticar sem ainda saber o significado); ou os gays, as travestis e trans pelas madrugadas nas marginalidades da cidade, para também matar, mas isso é uma outra conversa, já que não foi pauta do espetinho.
Minha sensação é a de que esses homens morrem de medo das mulheres e a única solução é a matança, para depois encontrar os brothers e baterem, juntos, aquela bela punheta.
Levantei da mesa e voltei pra casa. Não sem antes pagar o que consumi.
RAMIRO BAVIER
É jornalista e servidor público
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