Quando peguei minha filha do meio nos braços pela primeira vez, ela já tinha sete meses. Logo, era capaz de sentar sem apoio, ensaiava engatinhar e tentava ficar em pé segurando-se em móveis e objetos ao redor. Eu poderia tê-la ajudado a dar pequenos passos, segurando suas mãos minúsculas, mas não o fiz.
No entanto, só descobri todas as habilidades que ela tinha aos sete meses muitos anos depois, quando nasceu minha caçula. Nessa idade, minha filha mais nova já podia explorar o mundo ao seu redor, segurando e batendo em objetos para ouvir o som que produziam.
Infelizmente, com a filha intermediária, não tive a oportunidade de desfrutar de seus balbucios típicos dessa fase de desenvolvimento, nem dos seus sorrisos, expressões faciais ou imitações de gestos dos adultos. Não pude perceber quais eram seus brinquedos preferidos, se é que ela tinha algum, nem das frustrações quando suas necessidades não eram atendidas.
Dizem que a presença do pai é fundamental desde a gestação, passando pelos preparativos para a chegada do filho. Essa participação paterna ajudaria no processo de vínculo com o bebê, permitindo que o pai assuma plenamente o seu papel.
Entretanto, nem tudo é perfeito. Quando minha filha do meio nasceu, eu estava em tratamento antidepressivo, tomando ansiolíticos que causavam sonolência permanente, afetavam minha coordenação motora, causavam confusão mental e dificultavam minha concentração, enfim, me incapacitava até para as tarefas mais simples, como segurar uma bebê nos braços.
Além disso, minha primeira filha sentia ciúmes da irmã. Cada vez que eu me aproximava dela, a mais velha chorava desesperadamente, e eu desistia, incapaz de lidar com a situação.
De qualquer forma, se considerarmos a importância da figura paterna na formação, desenvolvimento e construção moral, emocional e psicológica de uma criança, minha “ausência temporária” não parece ter afetado negativamente minha filha. Além de ser uma pessoa bem resolvida, ela teve uma mãe sempre presente.
Essa história parecia estar apagada da minha memória até hoje, quando “minha bebê” completa 20 anos de idade. Ao enviar-lhe uma mensagem de “Feliz Aniversário”, eu disse também:
“Filha, eu amo você.”
Ela agradeceu, com seus tradicionais emojis bem-humorados, e questionou:
“Desde quando, pai?”
Não consegui conter as lágrimas, ao responder:
“Desde que você tinha sete meses!”
RUBENS GONÇALVES
É jornalista em Palmas
rubensgoncalvessilva@gmail.com