Os dois estiveram em campos opostos nos primeiros dez anos deste novo século e se reencontraram em palanques na década seguinte. O vice-governador Wanderlei Barbosa (sem partido) é personagem do episódio que já anunciava o final da era do siqueirismo no Tocantins, quando conseguiu se eleger presidente da Câmara de Palmas em 2002, na primeira derrota significativa da finada União do Tocantins, depois de anos de total hegemonia no Estado. No sentido contrário, o senador Eduardo Gomes (MDB) era um dos principais cruzados do ex-governador Siqueira Campos (DEM) naquela época.
Depois, Wanderlei apoiou a candidatura de Raul Filho em Palmas em 2004 e Gomes foi um dos maiores aliados de primeira hora da então prefeita e candidata à reeleição Nilmar Ruiz. Foi outra marcante derrota utista, a vitória do na época neopetista Raul.
Nas históricas eleições de 2006, mais uma vez os dois se colocaram em campos contrários. Na época ainda vereador, Wanderlei apoiou a reeleição do então governador Marcelo Miranda (MDB) contra Siqueira Campos, que tinha como um dos articuladores mais importantes o, na ocasião, deputado federal Eduardo Gomes.
Eles passaram a dividir o mesmo palanque no último governo Siqueira Campos (2011-2014), com Wanderlei já deputado estadual. Continuaram juntos nas eleições de 2014, com ambos apoiando a candidatura de Sandoval Cardoso. Mantiveram-se aliados em 2018, no palanque do governador Mauro Carlesse (DEM), com Wanderlei já ocupando a vaga de vice-governador.
O episódio envolvendo a disputa pela Câmara de Palmas pode sinalizar um novo afastamento dos dois? O contexto desta disputa pela presidência do Legislativo da Capital tem Gomes como maior aliado da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB), fundamental na reeleição dela, e o candidato do Paço para a principal cadeira da mesa diretora na sexta-feira, 1º, é o vereador Rogério Freitas, um emedebista e aliado do senador.
Os dez votos apresentados pela candidata escolhida pela oposição, a professora Janad Valcari (Podemos), só foram possíveis após um acordo com a participação direta do vice-governador Wanderlei Barbosa, que deu o aval em nome do Palácio Araguaia. Ele levou para o campo adversário de Cinthia o próprio irmão, o atual presidente da Câmara, Marilon Barbosa (DEM), e Pedro Cardoso (DEM), filho de um dos deputados estaduais mais fiéis ao governo do Estado, Cleiton Cardoso (PTC). Lembrando que o DEM trabalhou pela reeleição da prefeita da Capital.
É quando se olha para 2022 que se pode dar alguma luz sobre o que está ocorrendo neste momento. Carlesse renunciará ao mandato em abril do ano das próximas eleições estaduais para concorrer ao Senado. Com isso, Wanderlei assumirá o governo do Tocantins, claro, com todo direito à reeleição. No outro palanque estará Gomes, candidato a governador ou não — poderá apoiar o atual prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas (Podemos). O que é certo é que ambos — Wanderlei e Gomes — serão adversários em 2022.
Após antecipar a informação de que a vereadora Janad conseguiu maioria (10 dos 19 votos) para a eleição da mesa de sexta-feira, a coluna ouviu políticos de diferentes correntes e a avaliação foi a mesma: o Palácio Araguaia foi para rota de colisão com Gomes, que apoia incondicionalmente Cinthia, inclusive nesta eleição legislativa. “Quem prega a desunião, tem que estar preparado para arcar com as consequências”, avisou, contudo, uma experiente fonte ouvida pelo site, lembrando da importância no senador – líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso – no plano nacional e, claro, para o Estado.
No geral, as fontes ouvidas pela coluna avaliam que antecipar uma colisão é desnecessário, uma vez que o momento é de gestão, no que Gomes é peça estratégica para Carlesse.
Mas, como tenho dito nos vídeos que estou gravando para a Retrospectiva Política 2020, as eleições de 2022 já estão em movimento.
CT, Palmas, 30 de dezembro de 2020.