Não tenho a menor dúvida de que o Brasil passa por um genocídio imposto pela necropolítica do presidente Jair Bolsonaro, um homem com traços claros de psicopatia, o que sempre ficou evidente ao longo de sua carreira.
O que sustenta o genocídio que já ceifou a vida de quase 400 mil irmãos brasileiros é a visão meramente eleitoreira de Bolsonaro. Ele entende que o bom desempenho da economia é crucial para sua reeleição — única meta que o move desde o início do mandato. Portanto, se há risco à economia, deve ser feito o que for preciso para superar esse empecilho ao projeto maior, o de conseguir mais quatro anos de Poder.
Se um vírus letal tem como saída mais rápida a imunidade de rebanho, então, que se estimule que todos saiam às ruas para se contaminarem logo e, assim, esse pequeno organismo não será mais problema à reeleição. Se vão morrer 1 milhão, 2 milhões ou mesmo 3 milhões de brasileiros, dane-se! Afinal, “todo mundo vai morrer um dia”, por isso, temos que enfrentar esse vírus “como homem”, não podemos ser “uma nação de maricas”.
Para jogar as pessoas nas ruas, simples, planta-se fake news, pois estamos diante de uma população altamente despreparada do ponto de vista educacional e frente às novas tecnologias. O “tio do zap” vai dizer que os números de mortos e casos são irreais, inventados pela “extrema imprensa” em conluio com “a esquerdalha” que domina a saúde, com o comunismo chinês e com os globalistas, como George Soros. Nossos analfabetos funcionais não fazem ideia do que seja comunismo, globalismo nem sabem quem é George Soros. Mas como acreditam no seu presidente, um espelho de sua cultura (ignorante, analfabeto funcional, de baixíssima leitura e preconceituoso), então, isso basta para dar contornos de “ciência” às fakes news do “gabinete do ódio”.
Se as pessoas começam ver seus parentes e amigos adoecerem e morrerem, então, o vírus é realmente perigoso, não mais uma “gripezinha”. A saída é criar remédios e terapêutica eficazes. Dá-lhe cloroquina, ozonioterapia, tratamento precoce. Se a ciência prova que nada disso funciona e as pessoas continuam falecendo, então, governadores e prefeitos não compram mais uma solução que só representa gasto, sem qualquer resultado.
Aí é preciso insistir que esses medicamentos não são aceitos porque, baratos, não dão lucros exorbitantes à indústria farmacêutica. Essa é a razão de serem rejeitados por prefeitos e governadores. Deve-se manter o pedido para o cidadão continuar usando e cobrando de seus líderes essa solução mágica e, o mais importante, que tome as ruas, que vá produzir, para uma economia pujante garantir a reeleição.
Prefeitos e governadores, vendo que as mortes se avolumam, que os casos fogem ao controle, impõem medidas de restrições, porque o sistema de saúde precisa dar conta da alta demanda e, assim, se preserve a vida da população. Para o presidente da República, contudo, eles se tornam adversários terríveis de sua necropolítica. Então, é necessário desmoralizá-los, jogar a população contra eles, dizer que “todos são ladrões”. Como prova de que “todos roubam” estão aí algumas operações da Polícia Federal. Mais: prefeitos e governadores são quem geram fome, quebradeira e desemprego, não um vírus letal.
A ciência, por fim, enche a humanidade de esperança ao concluir que é possível desenvolver vacinas que devolvam a normalidade ao mundo. No entanto, leva-se tempo para o desenvolvimento dos imunizantes e mais tempo ainda para aplicá-los em toda a população. Mas aí fica muito em cima das eleições, a economia estará em colapso e isso vai comprometer a reeleição. Solução: é preciso desacreditar a vacina. Feita por chinês não pode ser confiável! Você tomaria vacina chinesa? Ouvi isso demais no segundo semestre do ano passado. Quem tomar pode virar jacaré, vão implantar um chip chinês nos brasileiros, pode-se pegar aids.
Assim, foram recusadas as ofertas de vacinas muitos meses antes de elas estarem aptas a serem aplicadas. Ainda é melhor a imunidade de rebanho, calcula o genocida. As mortes aos milhões são mero efeito colateral. Foram rejeitadas 70 milhões de doses da Pfizer e 46 milhões da Coronavac. Se não fosse isso, a vacinação poderia ter começado no final de 2020. Quantas e quantas vidas seriam salvas, mas que, por falta de imunização, foram perdidas nesta segunda onda do início de 2021?
O Brasil passa, sim, por um genocídio, que tem como fundo um projeto eleitoreiro concebido por uma mente doentia, psicopata, que, a cada dia, mostra que não está disposta a rever suas posições, mas insiste cada vez mais em mandar as pessoas às ruas, em sabotar os esforços de Estados e municípios para preservar vidas.
Com Jair Bolsonaro na Presidência da República, muitos mais milhares e milhares de vidas serão perdidas e muito mais longe estaremos de sair desta pandemia.
Que esta CPI mostre, de forma clara e cristalina, todo esse roteiro perverso, macabro, que um psicopata impôs à nação, aproveitando-se do despreparo de sua população, resultado de décadas de ensino degradado, de pouquíssima leitura e reflexões rasas.
Eu quero e torço muito para que a CPI nos leve, enfim, ao impeachment de Bolsonaro. Não dá para esperar até o final de 2022 para colocar o Brasil de volta à normalidade democrática, sanitária, ambiental e econômica. Ou seja, para que saiamos da Idade Média e retornemos ao século 21.
CT, Palmas, 27 de abril de 2021.