Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2019), o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de leite, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2019), o valor bruto da produção primária de leite atingiu quase R$ 35 bilhões, sendo o 7º maior dentre os produtos agropecuários brasileiro. O rebanho leiteiro do país é o segundo maior do mundo, ficando atrás apenas do da Índia. São cerca de 70 milhões de animais utilizados na pecuária de leite, entre vacas, novilhas, bezerras e touros.
O agronegócio do leite e derivados desempenha papel relevante no suprimento de alimentos e na geração de emprego e renda no Brasil. No País, a atividade é desenvolvida em cerca de 1,2 milhão de propriedades rurais, envolvendo, só no setor primário, quase 5,2 milhões de pessoas. Ao todo, das fazendas aos laticínios, passando pelo transporte e comercialização, a cadeia reúne em torno de 20 milhões de produtores e trabalhadores.
Para alcançar esses números, a produção brasileira cresceu substancialmente nas últimas décadas, já que em 1997, o Brasil produzia 18,7 bilhões de litros de leite, atingindo em 2018 a marca de 33.840 bilhões de litros, segundo IBGE, concentrada nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, que juntas produzem 68% do leite brasileiro.
Entre os estados da região Norte, o estado de Rondônia é o maior produtor de leite, seguido do estado do Pará, os dois representam respectivamente mais de (80%) produção leiteira da região seguido pelo Tocantins que é o 17º produtor nacional de leite e 3º da região Norte. Comparando os dados do Censo Agropecuário 2017 com o Censo Agropecuário 2006 verifica-se que houve aumento no número de estabelecimentos produzindo leite no estado do Tocantins de 15.231 para 22.498 estabelecimentos, variação de 48% e um aumento de 30% na quantidade de leite produzido, saindo de 181.726.000 litros para 236.544.000 litros é um importante aumento na produtividade.
Os municípios que mais produzem leite no Tocantins são: Araguatins, Pequizeiro, Porto Nacional, Araguaína, Bernardo Sayão, Brejinho de Nazaré, Formoso do Araguaia, Colmeia, Augustinópolis, Colinas do Tocantins e Nova Olinda que juntos produzem cerca de 70 milhões de litros por ano, cerca de 30% da produção estadual de leite.
A produção leiteira no Tocantins ainda é baixa, apresentando índices técnicos, zootécnicos e de rentabilidade abaixo da média nacional sendo este um dos motivos para os laticínios do estado estarem trabalhando abaixo da sua capacidade.
Diante deste panorama pode-se afirmar que o agronegócio do leite possui grande relevância no cenário econômico e social tocantinense, e por esta razão apresentaremos nesse artigo os principais desafios para se produzir leite economicamente viável no estado do Tocantins.
Para se produzir leite de forma viável, é necessário o produtor estar atento às imperfeições de mercado, principalmente relacionado a compra e venda de bens utilizados na produção, pois as condições de negociação de insumos e produtos dependem do volume negociado e em geral os pequenos produtores pagam mais por estes materiais e recebem menos pela sua produção. Essa condição também beneficia os grandes produtores em relação aos pequenos na adoção de tecnologias, uma vez que têm acesso facilitado pelos recursos disponíveis e avaliam melhor os benefícios e riscos da atividade.
Outros fatores que prejudicam muito a pequena produção de leite é a dificuldade de atendimento às normas, sejam elas de qualidade, código florestal, rastreabilidade e o acesso limitado a informações e tecnologias (baixa escolaridade, infraestrutura precária, acesso ruim a tecnologias de manejo sanitário, produção de alimentos, falta de assistência técnica, etc.).
Nesse contexto a gestão da propriedade surge como componente fundamental para se superar as imperfeições de mercado sendo fundamental a contratação de assistência técnica continuada e permanente que trate de todos os aspectos da produção desde o gerencial até a produção de alimentos, manejo reprodutivo, sanitário, comercialização no intuito de auxiliar o pequeno produtor a planejar o seu negócio.
É importante a assistência técnica continuada estabelecer metas de médio e longo prazos exequíveis dentro da realidade do sistema de produção de leite, que sejam executadas conforme o planejado, e avaliadas de tempo em tempo para se fazer uma análise entre a meta obtida e a pretendida e dar condições de refinar o planejamento para os anos subsequentes.
A assistência técnica é muito útil nas variadas e complexas decisões que o produtor de leite precisa tomar no seu dia a dia, e auxilia no planejamento da atividade, podendo ajudar a melhorar as condições de compra de insumos e a comercialização melhorando a margem de preço do pequeno produtor.
Portanto, a pecuária leiteira é uma atividade para profissionais que estejam dispostos a enfrentar e resolver os problemas da atividade com intuito de garantir renda, pois apesar de não ser uma atividade simples tem se mostrado rentável em todo o Brasil e no Tocantins não pode ser diferente.
CESAR HALUM
É médico veterinário (UFG), secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e apresentador do programa Mundo Agro, no SBT Tocantins.