“Patrão, enviei o artigo.” Era assim que toda quarta-feira eu recebia em meu e-mail e, quando surgiu, no WhatsApp mensagem do economista Tadeu Zerbini durante os cerca de 11 anos em que ele nos honrou com sua contribuição semanal. Infelizmente, Tadeu, um tocantinense de coração e pioneiro, nos deixou nessa terça-feira, 9. Mas suas ideias, propostas, críticas, visão de País e Estado ficarão para sempre registradas em nossas páginas. Ter esse grande brasileiro e cidadão em nossa história é motivo de muito orgulho para a Coluna do CT.
Às vezes, Tadeu ficava dois ou três meses sem enviar sua coluna. Então, era a minha vez de mandar mensagem: “Vou descontar de seu salário! Sem seus textos perco 50% da minha audiência”, avisava em tom de brincadeira. “Está bem, patrão, voltarei a escrever”, respondia ele, em meio a muitos “kkkkkk”. E os textos voltavam a chegar. Quando criei o quadro “Quadrilátero”, toda vez que o convidava como entrevistador já confirmava sua presença e sua participação sempre foi muito rica em qualidade.
A amizade nasceu quando éramos professores do Ceulp/Ulbra no início dos anos 2000. Depois que inaugurei o blog Clebertoledo.com.br, em 2005, Tadeu passou a ser minha principal fonte de economia. Qualquer matéria sobre o assunto, primeiro era a ele que recorríamos.
Sempre nos atendia com uma vontade enorme de ser útil, de contribuir com qualidade, de ser agradável e, sobretudo, de ser verdadeiramente amigo. Provoquei-o a começar a escrever uma coluna e logo começaram a surgir os textos — isso por volta de 2010 — e se tornaram uma leitura semanal obrigatória.
Como eu, Tadeu estava indignado com esses tempos de obscurantismos que nos abateram. Em seu último artigo, em 24 de novembro, afirmou que “a situação político-econômico-social-ambiental em que se encontra o Brasil somente pode ser explicada pela Síndrome de Estocolmo”. “É muito triste ver um país caminhando para o abismo. De que adianta PIB positivo, Bolsa de Valores crescendo e o dólar nas alturas, se nossos irmãos estão passando fome, desempregados e na miséria. De que adianta teto de gastos se o povo está sofrendo”, lamentou o economista progressista.
Em “Pandemia, fé e fome”, o professor e homem de fé nos deu uma aula do verdadeiro Evangelho, com o texto de Mateus 6:5-13, que começa com uma admoestação — “Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas” — e termina com o Pai Nosso. Então, Tadeu fechou o artigo novamente com sua ira santa, justificável nestes tempos de escuridão até para um homem otimista convicto como ele: “Com milhões de brasileiros passando fome, tem gente aí gritando no meio da pandemia: ‘DEUS ACIMA DE TODOS’, mas não segue os ensinamentos bíblicos, talvez porque ache que está ao lado de DEUS e não abaixo Dele”.
Sobre o Estado, Tadeu sempre trazia seu otimismo. “O Tocantins é exemplo de empreendedorismo para o Brasil e para o mundo. Temos muitos exemplos a serem seguidos”, escreveu em “Tocantins: 31 anos de empreendedorismo”, no aniversário do Estado, em 2019.
Também entrou na defesa da alegria para a nossa gente, quando também em 2019 surgiu a polêmica da proibição do carnaval em um bar, enquanto as festas de momo nas igrejas estavam liberadas pelo município: “Carnaval é alegria. Quem quiser rezar, que tenha liberdade para rezar. Quem quiser beber, pular, cantar e se fantasiar, que o faça. A prefeitura deve planejar os eventos para todos e garantir a devida segurança. #goela abaixo, não!”, protestou em “Ó abre alas, que eu quero passar – #liberaoaovarar!”
E a bondade de Tadeu com este reles operário das letras que sou era especial, pródiga e, para mim, um delicioso refrigério. Como foi em “Carta ao jornalista Cleber Toledo”, após as eleições de 2018: “Acompanhei as críticas revestidas de ódio, inveja, maldade e intolerância que foram dirigidas a você. Não se deixe intimidar por pessoas que nada acrescentam para a melhoria de vida do povo tocantinense. Existem pessoas que criticam não pelo que pensam, mas pelas moedas que recebem. Então, peço que você perdoe a todos eles, porque eles não sabem o que fazem, ou se sabem, devem estar envergonhados com os resultados da eleição. Peço perdão por não ter encaminhado os meus artigos durante o processo eleitoral. Observei que meus artigos estavam causando críticas ao CT e à sua pessoa, mas não deixei de acompanhar diariamente o excelente trabalho realizado por você e sua equipe”.
Obrigado, parceiro, amigo e irmão que o Tocantins me deu o privilégio e a honra de ter.
Descanse em paz, meu querido, e até nosso reencontro.
CT, Palmas, 10 de agosto de 2022.