Quem me acompanha há bastante tempo sabe exatamente o que penso sobre a intensificação de denúncias quando se vê eleição perdida. É o que está ocorrendo neste exato momento na sucessão do Tocantins. Com pesquisas amplamente desfavoráveis, a oposição abriu fogo cerrado contra o Palácio Araguaia, acreditando que com isso vai conseguir provocar um segundo turno. Não tem cálculo mais equivocado do que este. O que os adversários do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) precisam fazer não é ir para o desesperador “tudo ou nada”, como se dá agora, mas tentar atrair líderes da base palaciana que têm volume eleitoral.
Sei que é chato, uma tecla em que bato com muita frequência, mas que é necessário repetir porque explica exatamente como funciona o modelo eleitoral do Tocantins, cuja sustentação é sua desumana, abismal e inaceitável injustiça social. É com base na dependência de grande parcela do eleitorado das migalhas que a eles são dadas pelo poder público, através dos coronéis locais, que esse modelo se reproduz.
Repetindo o que já abordei inúmeras vezes ao longo dos últimos anos, temos cerca de 50% do eleitorado em 13 maiores colégios eleitorais e outros 50% nos demais 126 municípios tocantinenses. Ocorre que nos 13 primeiros municípios há uma economia mais forte, geradora de empregos privados, ensino universitário e até um parque industrial incipiente. Este contexto favorece a ebulição de uma consciência mais crítica, porque não há uma dependência massiva das benesses do poder público. As pessoas vivem com as próprias pernas e, em consequência disso, têm autonomia para decidir por si mesmas em quem votar.
Isso não ocorre nos menores colégios eleitorais, em sua grande maioria com elevadíssima dependência do poder público para garantia das condições mínimas de sobrevivência de seus habitantes. Assim, o “coronel” local constrói com essa base de troca de favores as condições de conduzir o eleitorado para onde deseja. Por isso que a maioria dos votos da cidade depende de sua decisão. Quem ele apoia, pode estar certo, é majoritário. E venha a denúncia que for, se esse líder não mudar sua orientação de voto, o candidato que defende vai ser o vencedor.
Ainda em relação à saraivada de tiros disparada pela oposição neste momento de desespero também não altera muita coisa nas cidades maiores, onde o eleitor, em sua grande maioria, já definiu o seu voto para o executivo. A onda de denuncismo a poucos dias da eleição vai se mostrar a esse eleitor simplesmente como um reconhecimento da derrota iminente daqueles que apertam o gatilho da metralhadora giratória.
A questão sobre se teremos ou não segundo turno passa de longe dessa estratégia kamikaze, de quem já não tem mais nada o que fazer, de sair postando tudo quanto é ponto negativo que vê no adversário. Não que não se tenha que fazer denúncias formais e até públicas de possíveis irregularidades que se vislumbre dentro do processo eleitoral, como foi o caso da Ação de Investigação Judicial Eleitoral movida pelo candidato Irajá (PSD). Reforço: se houve abuso, quem os cometeu precisa ser punido. No entanto, esperar que esse tipo de ação tenha um resultado imediato, seja em decisão judicial, seja em alteração de intenção de voto, é ser tolo ou querer fazer os outros de tolo. Ações desse tipo às vésperas de eleições não mudam nada no resultado final.
O que vemos desde a convenção é que a musculatura do Palácio Araguaia, no que diz respeito a líderes expressivos do estado, só vem aumentando. A oposição até agora tem se mostrado incapaz de atrair, seja por qual estratégia for, agentes políticos de elevado volume eleitoral. É óbvio que a força da máquina contribui muito para assegurar essa liderança na base governista. Ninguém nega isso. Mas também não muda a realidade acima descrita de que esse líder é “dono” do voto.
Nas principais candidaturas colocadas, vemos o candidato do PT, Paulo Mourão (PT), com pouquíssimos líderes ao seu lado. Mesmo os deputados de sua federação, composta também por PV e PCdoB, optaram por ficar na campanha de Wanderlei.
A candidatura de Irajá, por ser um senador da República e membro de uma família tradicional da política tocantinense, é praticamente amadora. No início, eu ouvia de importantes representantes do Palácio que eles temiam muito mais Irajá do que Ronaldo Dimas (PL). Porém, as pesquisas ao longo da campanha mostraram o senador patinando na terceira e na quarta posições.
A pouca musculatura de sua candidatura é composta por dezenas de prefeitos, mas de cidades pequenas, em sua imensa maioria, de pouquíssimos votos. Alguns estão lá parece que só para garantir a emenda prometida, porque nunca se viu uma manifestação contundente de apoio, mas algo meio que constrangido, tímido, de quem não quer aparecer muito. Mesmo a divulgação da campanha parece feita pelo próprio candidato, com postagens em suas redes sociais, sem um trabalho profissional de comunicação. Não difere em nada dos candidatos sem expressão. Tem campanha de deputado estadual muito mais aprumada, de mais volume e consistência.
No caso de Dimas, o grande problema da candidatura ainda consiste no fato de ele não conseguir atrair líderes importantes do estado para a sua campanha. A impressão que se tem é que há um verdadeiro boicote à sua candidatura por parte dos principais agentes políticos do interior. Há que se destacar o papel desempenhado pelo senador Eduardo Gomes (PL), que se manteve fiel ao seu candidato, tomando as rédeas sobretudo nessas últimas duas semanas, e indo a campo em busca de uma reação. Porém, o muro que se vê à frente de Dimas, nem mesmo Gomes com sua habilidade e fidelidade extrema a seu candidato conseguiu transpor até aqui.
Fato é que se a oposição só insistir em denuncismo e não buscar atrair essa liderança para seu lado nestes últimos dias de campanha, não tenho a menor dúvida de que a eleição para o governador do Tocantins terminará domingo com a reeleição de Wanderlei Barbosa.
É um desafio muito difícil faltando apenas seis dias para a votação, mas é a dura realidade que se impõem neste momento.
CT, Palmas, 26/09/2022.