Caro Dom Pedro,
Escrevo estas linhas para agradecê-lo pelos vídeos que passou a me enviar com suas mensagens à comunidade católica. Não pertenço à sua religião, apesar de ter nascido nela, e a nenhuma outra. No entanto, me autodeclaro cristão, mesmo sem contar com aval de qualquer doutrina oficial. Assim, sou um apreciador de mensagens edificantes, independente de onde partam, desde que tenham conexão com as palavras do Cristo e sejam um manancial de paz e amor.
É o que tenho visto em seus vídeos. A começar pela tonalidade pacificadora de sua voz, que nos acalma, ao conteúdo completamente conectado com aquilo que Jesus falava há mais de 2 mil anos. Além disso, amigo (se me permite chamá-lo dessa forma), é um discurso em completa sintonia com a modernidade, tanto do ponto de vista político, na defesa da democracia, quanto do científico.
Na verdade, Dom Pedro, a Igreja Católica me surpreendeu nestes anos de obscurantismo em que o Brasil mergulhou, sob um mar escuro de completa ignorância, de fanatismo político e religioso, de total falta de humanismo e bom senso. Muito diferente do caminho seguido pela maioria mais do que absoluta das demais denominações ditas cristãs.
Tenho dito, bom amigo, que vocês, em suma, têm sido o porto seguro para os que buscam o mínimo de racionalidade e, ao mesmo tempo, uma fé equilibrada. Quando afirmo isso, sempre há alguém que me aponta um católico ou um segmento da igreja que também aloprou como outras denominações. Porém, minha resposta é que o homem é falho, erra muito e justamente por isso precisa buscar o amparo na espiritualidade. O que não é possível é a igreja, como instituição calcada na Pedra Angular que é Jesus, se deixar ser tragada por esse tsunami da irracionalidade e estupidez dos nossos tempos. Essa é exatamente a diferença da Igreja Católica para as demais, com honrosas exceções.
Caro Dom Pedro, o que vejo é que, para a maioria das outras religiões cristãs tradicionais, Jesus não é mais o Senhor. Não é possível que seja quando vemos fiéis fazendo “arminha” com as mãos dentro de templos, oficiais de igreja atacando selvagemente as pessoas nas redes sociais por diferenças de ideias e cultos com enormes pôsteres de um político que negou vacina à sua população, que dissemina ódio e mentira o tempo todo, quer armar a sociedade, que um dia já disse que o Brasil precisa de uma guerra civil, entre tantas outras barbaridades.
Como encarar tantos parentes rompidos por diferenças políticas, justamente como resultado de uma pregação de quem fala defender a família e que Deus está acima de todos? Irmãos não conversam mais com os pais, pais não conversam mais com os filhos. Porque a adoração deles é dirigida a homens. Nesse caso, meu amigo, é impossível que Deus esteja acima de todos. O Senhor, nesses tempos de idolatria, foi trocado há muito pelo “bezerro de ouro”.
Já disse em artigo que esses novos fariseus seriam capazes de crucificar Jesus outra vez se ele voltasse hoje. E disso, meu bom amigo, não tenho a mínima dúvida. Veja o que ocorreu com seu colega, o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, no dia da Padroeira do Brasil. Foi chamado de comunista e enfrentou a fúria de uma turba de fanáticos por tão somente pregar contra o que chamou de “dragão” da fome, desemprego e da mentira. Um discurso que Jesus faria se estivesse aqui hoje, afinal, como bem afirmou o gigante ser humano que é o Papa Franciso, “estar do lado dos pobres é evangelho, não comunismo”.
O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, foi alvo dessa mesma insanidade, por causa da vestimenta, de cor vermelha, própria de sua hierarquia eclesiástica. Foi chamado de “comunista”, apontado como aliado de Lula e acusado de apoiar o aborto.
Caro Dom Pedro, é possível acreditar, diante de tanta insensatez, de tamanha insanidade, que Jesus hoje passaria incólume por essa turba de fariseus?
Por esses motivos, fico muito satisfeito em receber os seus vídeos. Procuro assisti-los nos momentos de paz e tranquilidade para “beber” de suas palavras de forma que elas possam penetrar profundamente em minha alma. Isso me tem feito um bem imenso, porque, por dever de ofício, estou mergulhado em um meio que expele muito ódio, muita negatividade, de gente de baixa espiritualidade, ainda que travestida de “cristã”.
Mesmo como um cristão desigrejado não perco a fé de que Aquele que é a água da vida nos banha por formas que na maioria das vezes não entendemos. Sei que Ele está à nossa frente, nos conduzindo para o bom caminho. E chegaremos ao nosso destino de paz e elevada espiritualidade.
Obrigado, Dom Pedro, por representar tão bem essa água de descanso e amor nesses tempos ressequidos.
Saudações democráticas,
Cleber