Neste domingo, 30, voltaremos às urnas não para meramente escolher o próximo presidente da República, mas para definir quem somos e para onde queremos rumar. Minha opção não é pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) propriamente. Ele não é quem eu queria para o comando do País. Mas do outro lado está o ódio, a ignorância e um projeto de poder que visa levar o Brasil para um regime autocrata, como estamos vendo ocorrer nos congêneres de extrema direita mundo afora, todos, como o nosso, de viés claramente neofascista.
Sou um liberal, mas que considera fundamental conjugar mercado com inclusão social. Não é possível construir um país apenas para privilegiados bem nascidos e é inaceitável que num país rico como o nosso haja pessoas passando fome. A exclusão social que impera há séculos neste país condena não apenas irmãos brasileiros à miséria, mas também retira da economia milhões e milhões de consumidores, que poderiam estar contribuindo para o fortalecimento de nossas empresas e a consequente geração de empregos e renda.
Se tem algo que o PT enxergou, e precisamos todos reconhecer isso como certeiro e benéfico ao país, foi justamente a necessidade de incluir o pobre no mercado consumidor com os projetos de distribuição de renda. Até o presidente Jair Bolsonaro (PL), que, na ignorância completa que o domina, sempre menosprezou essas políticas distributivas, passou a valorizá-las quando viu ter contribuído decisivamente para salvar a economia brasileira no auge da pandemia e ainda para a melhoria da imagem de seu governo. Tanto que agora gosta de se gabar de ter criado o auxílio de R$ 600, que, inicialmente, na verdade, ele não queria de forma alguma e o Congresso o fez engolir a contragosto.
Se o governo Dilma Rousseff (PT) foi uma tragédia para a economia, o que é verdade, o mesmo não se pode dizer dos mandatos do ex-presidente Lula. Se houve erros, houve; se houve corrupção, e houve, também é verdade que foram muitos os acertos, com resultados expressivos para o desenvolvimento do País.
Já não é verdade que no governo Bolsonaro não haja corrupção. São vários os casos, para não falar nos esquemas familiares de rachadinha e de compra de 51 imóveis com dinheiro vivo – tire um pouco a paixão cega e acéfala de lado e pense: como alguém compra essa quantidade de imóveis em espécie com dinheiro de origem lícita? Você é inteligente e sabe que só com dinheiro sujo isso é possível.
Se na economia o governo Lula foi muito, mas muito mesmo superior ao de Bolsonaro, e se em ambas gestões ocorreram casos de corrupção, o que se tem de fato contra a candidatura do petista é meramente preconceito e ignorância. Alguns que me chegam todos os dias:
“O Brasil vai voltar ao comunismo”
O Brasil já foi comunista? Já houve por aqui socialização dos meios de produção, partido único, ateísmo como política de Estado? Reafirmo o que tenho dito nas últimas semanas: quem fala isso não sabe o que é comunismo e é um completo ignorante. Nunca banqueiro ganhou tanto como na era Lula. Que comunismo é esse?
“O Lula vai fechar igrejas, aprovar a legalização do aborto e das drogas, implantar banheiro unissex nas escolas, bem como o ‘kit gay’”
Essa pauta de costumes é a característica mais marcante dos fariseus deste tempo, do cristianismo sem Cristo e do patriotismo hipócrita e raso do bolsonarismo. O Brasil elegeu no dia 2 o Congresso mais conservador de sua história, e é ele quem teria que votar a legalização do aborto e das drogas. Ainda que Lula quisesse, e ele tem dito que não quer, essas pautas jamais serão aprovadas por este Parlamento até absurdamente conservador.
Nenhum governo – federal, estadual ou municipal – conseguirá implantar qualquer coisa em escolas que contrarie a moralidade das famílias. Haveria uma gigantesca reação de parlamentos em geral (Congresso, assembleias e câmaras municipais), de igrejas e outras entidades, o que só geraria desgastes a quem se aventurasse a pautas do tipo.
Mas é preciso dizer que fechamento de igrejas, banheiros unissex nas escolas e o tal “kit gay” são peças de ficção eleitoral que se usa para jogar os públicos mais conservadores contra candidatos progressistas. Elas não existem, não estão em nenhum programa de governo, mas têm grande apelo público pela moralidade rasa, hipocrisia e pelo cristianismo sem Cristo que hoje impera nas igrejas. São como mula-sem-cabeça, saci-pererê e homem do saco da política. E, claro, acreditar nisso é de uma infantilidade tremenda.
A discussão de fundo e que realmente importa sobre a escolha de domingo não passa por essas pautas fakes. Vivemos nestes últimos anos um período de total obscurantismo, como se o Brasil tivesse recuado à idade média. Um presidente da República que rejeitou a ciência em meio a uma pandemia e pregou a imunidade de rebanho, através do incentivo da aglomeração, quando o isolamento social era o recomendado; o não uso de máscaras, remédios ineficazes e não quis comprar a vacina, a única solução eficaz contra o coronavírus. Só aceitou o imunizante por conta de uma disputa pré-eleitoral com o então governador de São Paulo, João Dória, e depois por pressão de uma CPI no Senado. O resultado foram quase 700 mil brasileiros mortos por uma doença totalmente evitável. Estudos provam que quatro de cada cinco dessas vidas perdidas poderiam ter sido salvas se o presidente da República e seu governo tivessem respeitado a ciência. Mas são ignorantes demais para isso.
Reforçando o que já havia afirmado em outro artigo: o atual presidente é uma ameaça ao meio ambiente. O Brasil tinha o compromisso com o mundo de desmatar em 2020 no máximo 3.925 km² da Amazônia, mas derrubou 10.851 km² de florestas, ou seja, 176% acima da meta. Em 2021, essa destruição subiu para 13.038 km², ou 232% acima da meta. O Observatório do Clima lembra que Bolsonaro assumiu o país com uma taxa de desmatamento de 7.500 quilômetros quadrados em 2019 e elevou para 13 mil quilômetros quadrados.
Além disso, há desmonte de políticas sociais nas mais diversas áreas. Bolsonaro cortou, por exemplo, em 90% a verba destinada ao enfrentamento da violência contra a mulher durante o seu mandato.
Ainda há o risco à democracia, com a ameaça de venezuelização através do aumento do número de ministros do STF, como fez Hugo Chávez, a ditadura militar brasileira e o autocrata da Hungria, Viktor Orbán. Com o Congresso já devidamente comprado pelo Orçamento Secreto, se Bolsonaro ampliar o número de apaniguados na Suprema Corte será o fim do curto período de democracia iniciado em 1985. Sem tanques nas ruas.
Na educação, uma tragédia: ministros bufões sem qualquer capacidade técnica; um pastor no comando da pasta se uniu a outros pastores para esquemas de corrupção.
Pela total incompetência, estamos perdendo as conquistas do Real. Como tem sido observado por especialistas, a queda da inflação foi fabricada artificialmente por estímulos e isenções, como o caso da redução do ICMS para segurar o preço dos combustíveis. Se por um lado, a inflação caiu para 4,09% ao ano com três deflações, de outro, a alta dos alimentos tem castigado as famílias e está em 10,89%. Se de forma artificiosa a gasolina registrou queda de 26% no ano, os consumidores pagam 50% a mais pelo leite longa vida.
Agora, após 15 semanas consecutivas de queda, o preço da gasolina voltou a subir no Brasil, segundo pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O valor médio do litro passou de R$ 4,79, entre os dias 2 e 8 de outubro, para R$ 4,86 na semana entre 9 e 15 deste mês, uma alta de R$ 0,07 ou quase 1,5%.
Não conseguem mais esconder a inflação e ela já voltou a subir. Passadas as eleições, as turbulências econômicas serão enormes, porque a maquiagem vai se dissolver.
Como eu trouxe dias atrás, o jornalista que cobre o mundo de Genebra (Suíça) para o UOL, Jamil Chade, um profundo conhecedor dos bastidores das Nações Unidas, contou que, para grande parte dos líderes internacionais, o presidente do Brasil “é um bufão”. “O senhor armou milhares de pessoas em três anos, com mentiras e balas. O senhor destruiu pontes e criou inimizades com alguns dos nossos principais parceiros comerciais. Há um consenso na opinião pública internacional de que o senhor faz parte de uma das aberrações do século 21 e reflexo do colapso moral de nossa geração”, afirmou Chade, numa carta aberta a Bolsonaro.
Então, é disso que estaremos tratando neste domingo. Queremos o Brasil preso na idade média, mergulhado na ignorância, na burrice, no obscurantismo e entregue à autocracia? Ou queremos o Brasil no século 21, que aposta na educação e na ciência, que promove a inclusão social, que respeita o meio ambiente, reconhecido – como foi até antes deste governo obscurantista – pela comunidade internacional como país moderno, amigo e seguro para se investir; e com uma democracia robusta e consolidada? Essa última escolha terá excelentes reflexos econômicos; a outra vai gerar mais isolamento do Brasil e desconfiança do mercado internacional.
Que todos coloquemos a mão na consciência, olhemos para os fatos que estão claramente postos para tomar essa decisão fundamental. Não tenho a menor dúvida de que o povo do Brasil e nós tocantinenses faremos a escolha de um país moderno e antenado com o mundo.
De meu lado, cumpri o que sempre afirmei desde o início, que ficaria do lado certo da história. Meus filhos e netos, quando olharem minha postura nesta encruzilhada da vida nacional vão se orgulhar do que fiz e como me portei. Morreria de vergonha de olhar nos olhos deles dentro de alguns anos para dizer que me posicionei ao lado do ódio, da estupidez, da anticiência, da deseducação, das agressões à cultura, do preconceito, do patriotismo raso e egoísta, do cristianismo sem Cristo e da idolatria de um ser que representa o que tem de pior na espécie humana, uma espécie de besta e anticristo do apocalipse, mas, graças a Deus, sem cérebro – o que é a nossa sorte.
Termino esta minha contribuição para tentar impedir o avanço da extrema direita e seu neofascismo no Brasil repetindo pela enésima vez a frase de uma das peças de Bertolt Brecht:
“Os que lavam as mãos, o fazem numa bacia de sangue”.
Manterei as minhas mãos limpas.
Viva a democracia! Viva o Brasil!
CT, Palmas, 28 de outubro de 2022.