Volto de duas semanas de férias para retomar a rotina de Redação. E já estava sentindo muita falta. É meu templo sagrado, onde entrei pela primeira vez ainda um moleque de 22 anos e onde sinto até hoje uma energia diferente. Nela me rejuvenesço. Era para reiniciar o trabalho na segunda-feira, 2, mas não poderia ficar de fora da cobertura das posses no Tocantins e em Brasília.
Por aqui, a expectativa é grande. Pela primeira vez, seremos governados por uma dupla eleita de curraleiros, Wanderlei Barbosa (Republicanos), de Porto Nacional, e seu vice, Laurez Moreira (PDT), de Dueré. Já tivemos tocantinenese nascido por aqui que comandou o Palácio, Raimundo Pires dos Santos, nosso Raimundo Boi, de Miracema. Foi vice no segundo governo Siqueira Campos e assumiu de abril a dezembro de 1998, com a primeira renúncia do titular.
Os demais governadores eleitos diretamente pela população são todos filhos adotivos do Tocantins – Siqueira é de Crato (CE), Moisés Avelino, de Santa Filomena (PI), Marcelo Miranda, de Goiânia, e Mauro Carlesse, de Terra Boa (PR), pertinho da minha Maringá (PR), uma fica 73 quilômetros da outra. Os dois tampões eleitos indiretamente também são adotivos: Carlos Gaguim é de Ceres (GO) e Sandoval Cardoso, de Goiânia.
Claro que isso, na prática, pouca diferença faz. Se o governador e o vice são do Tocantins, ou, como maioria de nós, chegaram aqui e adotaram este Estado como seu e passaram a amá-lo profundamente, não interessa. O importante é o compromisso com a coisa pública, tratar a gestão de forma séria e com competência. Mas criou-se enorme expectativa sobre um mandato com dois filhos naturais da terra. Inclusive, foi o mote do marketing da campanha de Wanderlei, que explorou a expressão “curraleiro” em discursos e jingle.
Para além dessa questão da origem dos gestores, tenho uma expectativa muito positiva para os próximos anos de gestão do Estado. Primeiro porque o governo do Tocantins já vem num processo de recuperação desde o início da administração do ex-governador Mauro Carlesse, que tinha Wanderlei como vice e, portanto, pôde acompanhar de perto as ações desenvolvidas.
Até por isso, quando iniciou o governo de transição de Wanderlei, o que me deixou mais tranquilo foi justamente não ter havido uma ruptura tão brusca em relação às outras duas mudanças de gestores. Assim, o Estado já vinha recuperando seu equilíbrio, o atual governador pôde acompanhar e, sobretudo (aí estava minha grande preocupação), Wanderlei deu continuidade e o ajuste foi aprofundado sob sua batuta.
Sem dúvida, o governador foi aprovado no maior teste, que reprovou os outros gestores tampões, o da responsabilidade fiscal. Se Wanderlei passasse a ceder tudo quanto é benefício reivindicado, a promover as gastanças eleitoreiras de sempre, o Tocantins regressaria ao período pré-2018, e hoje, provavelmente, o Estado estaria parando investimentos e pagamentos de fornecedores para priorizar folha e décimo terceiro.
Por isso tenho dito que Wanderlei foi aprovado duplamente em 2022: pelo voto popular, com a vitória histórica, e pelo teste da responsabilidade fiscal. Pode agora assumir o segundo mandato com mais tranquilidade para governar, uma vez que se reelegeu sem comprometer a saúde financeira do Estado.
No entanto, não significa que governará sob um mar de bonança. Muito pelo contrário. Porque primeiro o Estado ainda se encontra em processo de recuperação. Os tremores produzidos pelos abusos de um passado não tão distante assim se fazem sentir hoje. O Estado não pode descuidar do controle das contas.
Ao mesmo tempo precisa aumentar nossa capacidade de investir, já que as demandas sociais são crescentes por mais qualidade no atendimento à saúde, educação e segurança, por exemplo. Estradas ainda necessitam ser recuperadas – apesar da alíquota maior para o agro, o deputado estadual José Roberto (PT) contou ao quadro Conversa de Política que, mesmo com essa medida, o Tesouro Estadual terá que desembolsar mais R$ 300 milhões anuais para manter a trafegabilidade.
Para melhorar a qualidade dos serviços públicos, o Tocantins precisará realizar concursos e contar com mais servidores, o que significará uma folha de pagamentos muito maior. E nesse campo Wanderlei já tem muito pepino para descascar. Existe um passivo estimado em R$ 2 bilhões de data-bases e progressões atrasadas e tem aquela novela de terror dos 25%, que vão gerar um impacto de cerca de R$ 350 milhões ao ano.
Problemas não faltarão neste duro e espinhento caminho de retomada do Tocantins. Aí que entra a importância da dupla eleita em 2 de outubro, Wanderlei e Laurez. São dois políticos muito experientes, e o governador conta com um vice que tem no currículo uma história de muito sucesso como gestor. Laurez foi um dos melhores prefeitos que o Estado já conheceu e transformou a realidade de Gurupi em seus dois mandatos. Assim, será peça fundamental neste momento importante de consolidar o ajuste e de recolocar o Tocantins, em definitivo, no trilho do desenvolvimento.
Por isso, em larga medida, o sucesso do segundo governo Wanderlei vai depender de um profundo entrosamento dessa dupla. O dono da principal cadeira do Palácio tem dado demonstração pública de que não abre mão da presença constante do vice a seu lado. Foi o que ressaltou num encontro com a imprensa no início de dezembro.
Essa consciência do governador de que a dupla precisa funcionar junta no ataque para sua gestão vencer é um excelente sinal de que as coisas podem ir bem para todos os tocantinenses.
É a nossa torcida.
Feliz ano novo a todos! Que 2023 seja de paz, saúde e prosperidade!
CT, Palmas, 31 de dezembro de 2022.