Não é de hoje que o poeta Gilson Cavalcante vem trabalhando seu discurso poético num viés lírico, existencial e, de certa forma, metafísico. E nessa Descompássaro (Sinfonia Solitária Sobre os Abismos)não é diferente. O poeta é o próprio pássaro se jogando dos penhascos que a vida colocou em seu caminho como um desafio a ser encarado e superado.
Gilson faz desse voo um compasso de seu ritmo de estar no mundo carregado de nuvens, para fazer de sua poesia uma tempestade, recorrendo, com frequência à metalinguagem, ora afirmando, ora negando e, por vezes, questionando o próprio leitor.
O poeta brinca com as palavras, cria neologismos, aliterações e não deixa de trabalhar em seus versos a linguagem da força dos contrários. E nesse voo, ele se investiga e tenta se conhecer entrando na seara lúdica e antropofágica. “Azar de quem não sabe voar”, arrisca o poeta das alturas, das vertigens e dos subterrâneos do homem-húmus.
Estado de coisas
Com a palavra o jornalista e escritor Luiz Armando Costa; “O que se apreende já de superfície do espirito livre j poeta e jornalista Gilson Cavalcante e Descompássaro (a sinfonia solitária sobre os abismos). E que, a priori, transporia para as palavras a linguagem do seu próprio estado de coisas, suas tensões e paixões concorrendo com a diferença ou indiferença da ética de sua argamassa”.
Luiz Armando explica; “Com efeito, nas quatro dezenas de poemas (e na outra dezena de obras publicadas) – Gilson vigia (como bem o nota aquele que o lê) literária e gramaticalmente a substantivação e adjetivação de sua matéria-prima (emprego usual em obras rasas) preterindo-as à observação poética substantiva e concreta”.
Onde de adjetivado emergem constituintes tão somente, assim, as figuras de linguagem de suas paixões, tensões e estado de coisas correspondentes. Muito presente em Rascunhos definitivos: o que se apreende já de superfície do espirito livre do poeta e jornalista
Gilson Cavalcante e Descompássaro (a sinfonia solitária sobre os
abismos). E que, a priori, transporia para as palavras a linguagem do seu próprio estado de coisas, suas tensões e paixões concorrendo com a diferença ou indiferença da ética de sua argamassa.
Ou no Vai-e-vem da roda ciranda: Amar sempre o instante,/mesmo que estando ausente/a roda da vida é gigante/gira na rotação do tempo presente. Um poema que para não deixar restar dúvidas arremata: O duplo de mim/não sou eu lá fora./Dentro dos olhos do outro/ele me vigia, fingindo-se morto/Deixe-me medir as distâncias/pelo conteúdo elástico dos silêncios/e o barulho das ausências e suas esferas.