A perspectiva de segundo turno nas eleições municipais de Palmas em 2024 e o fato de a prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) não ter direito a disputar outro mandato tiram de cena a costumeira manobra de quem está no poder: torcer, e trabalhar, para dividir a oposição. Foi o que ocorreu em 2020. De um lado, os adversários achavam que seria muito fácil vencer Cinthia e, de outro, houve uma forte atuação para que alguns atores permanecessem interpretando o papel de candidato.
Diante de um cenário de 12 prefeituráveis, quem tem a máquina na mão sempre se favorece. Aí já não é mais política, é matemática. Cinthia venceu com 36,24% dos votos. Ou seja, 63,76% dos eleitores palmenses disseram não a um segundo mandato para a prefeita, mas o que vale é a maioria simples, e foi o que ela obteve, favorecida pelo excesso de candidaturas com alto potencial eleitoral, como Júnior Geo, Tiago Andrino, Eli Borges, Vanda Monteiro e Marcelo Lelis.
Esse foi o menor índice de votação deste início de século de um candidato a prefeito vencedor em Palmas. Veja só: em 2016, Carlos Amastha foi reeleito com 52,38%; em 2012, o mesmo Amastha chegou ao primeiro mandato com 49,65%; em 2008, Raul conquistou mais quatro anos com 44,52%; e em 2004, o mesmo Raul conseguiu chegar à prefeitura com incríveis 64,46%.
Assim, com segundo turno, a manobra de apostar as fichas num elevado número de candidaturas não resolverá a disputa. Isso porque os dois mais votados terão encontro marcado em uma nova eleição.
Aí então surge outro ponto fundamental nesta nova equação política: quem menos causou inimizades no primeiro turno chegará mais forte no segundo, quando o ponto decisivo será a capacidade do concorrente de aglutinar os adversários em torno de seu nome e, com isso, se robustecer com musculatura suficiente para sair vitorioso. Quem enfiou o dedo no olho do outro candidato no primeiro turno vai jogá-lo no palanque do adversário.
Há, assim, a necessidade de se fazer campanha eleitoral com contornos altamente diplomáticos. Focar nas propostas e no perfil do candidato e menos em apontar as fraquezas do adversário. O ataque ao concorrente terá que ser milimetricamente calculado, ou se estará fortalecendo a outra candidatura no segundo turno.
No Brasil tivemos a saia justa do PDT em 1989. Quando o candidato Luiz Inácio Lula da Silva começou a escalar na corrida presidencial, seu adversário Leonel Brizola passou a chamá-lo de sapo barbudo. Com Lula no segundo turno, o pedetista, fiel a seus valores políticos e humanos, claro que não apoiaria Fernando Collor de Melo. Mas como explicar para os eleitores o tal sapo barbudo? Acabaram levando pelo humor e até colocavam nas ruas das principais cidades um sujeito vestido de sapo durante as caminhadas e panfletagens.
Para não termos “sapos barbudos” em Palmas em 2024, bom que os concorrentes pensem bem antes de se atacarem.
CT, Palmas, 16 de outubro de 2023.