Em baixíssima popularidade, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, chamou o senador republicano John McCain e o avisou que decidira apoiá-lo na disputa pelo comando da Casa Branca em 2008 contra o senador democrata Barack Obama. Em seguida perguntou como poderia começar a ajudá-lo, com o que McCain respondeu: “Por favor, não conte pra ninguém”.
Claro que é uma das piadas que marcaram as eleições vencidas por Obama, mas mostra como um líder impopular não é bem visto em campanha eleitoral. Os governadores do Tocantins de 2008 a 2016 viveram essa amarga situação e eram desconvidados para os palanques de seus candidatos. Com o Estado mergulhado numa caótica crise fiscal — o que significava servidores, fornecedores e população totalmente insatisfeitos –, eles mais atrapalhariam do que ajudariam seus prefeituráveis.
Na verdade, uma importante estratégica de marketing dos adversários era justamente fazer a vinculação entre os candidatos governistas e o Palácio. O prefeiturável do governo ficava em xeque: não podia negar o apoio porque recebia disfarçado investimento palaciano em sua campanha, mas também não poderia confirmá-lo porque certamente perderia votos.
A situação só começou a mudar em 2020, sob a gestão de Mauro Carlesse. O Estado já havia recuperado boa parte de sua saúde fiscal, com salários e fornecedores já em dia e melhora nas estradas e serviços públicos. Enquanto em Palmas – uma cidade altamente administrativa – a situação do Palácio ainda era problema, por causa dos desgastes para colocar as contas em ordem (como o congelamento de data-base e progressões do funcionalismo), no interior era diferente e Carlesse foi muito bem recebido na maioria deles. Inclusive, venceu a árdua batalha de Gurupi, com Josi Nunes (UB).
O momento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), que deu continuidade e até ajustou ainda mais as contas, o que permitiu que o Estado voltasse a investir nos municípios, é muito mais confortável. Gozando de elevada popularidade, a disputa é enorme pelo apoio dele no interior e na Capital. O ônus, porém, é que a pressão é tão grande quanto.
Ai o governante é enfiado numa saia justíssima, uma vez que precisa administrar e, para isso, não pode ser tragado pelas brigas paroquianas. Fazer gestão sob mares calmos já não é fácil. Sob tormentas é ainda muito pior. Se Wanderlei se deixar levar pelas pressões de afoitos deputados, prefeitos e prefeituráveis, vai ficar só apagando incêndio pelos próximos 12 meses, o ambiente do governo será contaminado pelas disputas menores, sob risco de baixas em sua base na Assembleia e na bancada federal, de prejuízos em projetos importantes e, na esteira de ter perdido a mão, sua popularidade vai desidratar. Se isso ocorrer, sairá das eleições municipais de 2024 menor do que entrou. E em 2026 quem vai para o paredão do eleitor é ele, o governador, já pré-candidato a senador.
Cabe a pré-candidatos e seus apoiadores da base do Palácio compreenderem os riscos que colocam à mesa do governador e ao próprio Estado. Precisam demonstrar elevado espírito público e verem que os interesses do Tocantins devem estar à frente de seus projetos pessoais.
Quem vai com ferro e fogo, empurrando o governador contra a parede, exigindo uma tomada de posição neste momento tão distante das eleições, pode estar pensando em qualquer coisa, menos no que realmente importa para o Estado: o seu futuro.
CT, Palmas, 17 de outubro de 2023.