O lance do maior talento brasileiro na atualidade na vitória do Real Madrid por 2 x 0 sobre o Borussia Dortmund, da Alemanha, no dia 1º pela Liga dos Campeões da Europa – temporada 2023/2024, não é apenas mais um drible. Não, não é. Tão espetacular quanto esses movimentos, é toda a história que culmina nessa obra de arte do futebol, chamada drible. Não por acaso, coube a um filho do país do futebol (Brasil) protagonizar algo fenomenal com a bola nos pés.
A partida ainda estava 0 x 0 quando, aos 27 minutos do segundo tempo, o brasileiro recebeu lançamento na esquerda, passou o pé direito sobre a bola e deu um lindo toque com o pé esquerdo para dar uma “caneta” em Julian Ryerson, lateral do Borussia. Um lance considerado mágico que mudou a história do jogo, pois no minuto seguinte (28), Toni Kroos bateu escanteio, e Dani Carvajal cabeceou forte para fazer 1 x 0 para o time espanhol.
Mas, sobre o drible, se engana quem pensa que é fácil. Esse lance carregado de simbolismo e beleza plástica é fruto de uma trajetória que não se resume apenas em um momento de superação de mais um adversário. Para conseguir chegar ao gol, à vitória, ao título, ao sucesso, Vinicius José Paixão de Oliveira Júnior, o menino pobre e preto da cidade de São Gonçalo (RJ), de apenas 23 anos, que foi escolhido por especialistas da UEFA, entidade que organiza a Liga dos Campeões da Europa, como o melhor jogador da competição, também disputa um jogo insano, contra um adversário implacável: o preconceito racial.
No sábado (1º de junho), o astro brasileiro conquistou a maior competição de futebol do planeta, que é o sonho de milhares, mas que poucos conseguem. Entretanto, apesar da apoteótica vitória e apresentação, nosso “malvadão”, apelido que ganhou pela forma como “destrói” seus adversários em campo, usando como arma preferida o drible, o hoje, principal jogador do Real Madrid, durante a temporada europeia, quase foi vencido por um comportamento que por milênios vem corroendo as virtudes humanas, o racismo.
E nem todo o poder do maior clube de futebol do mundo, o Real Madrid, supercampeão, com imenso poder financeiro, foi capaz de proteger aquele que está sendo apontado como o próximo melhor jogador de futebol do planeta (a escolha será no fim de 2024). Durante a Liga dos Campeões, a jornada futebolística de Vini Júnior foi dupla. Dentro de campo e fora dele. Muitos desses adversários eram torcedores, dirigentes e até parte da imprensa espanhola. De forma avassaladora, tentaram normalizar, minimizar o preconceito contra o brasileiro.
Diante de um cenário tão hostil, o que fazer? Apelar, perder o controle, o foco, etc.? Não! Vini Júnior preferiu enfrentar a intolerância e ignorância com aquilo que ele sabe fazer de melhor: jogar futebol. Na verdade, não simplesmente jogar, mas dar show com a bola nos pés. E isso vale para a vida! Ser melhor nas nossas virtudes. Naquilo que é bom e que fazemos bem. No que faz bem a nós e aos outros.
E assim, o menino pobre e negro que um dia sonhou jogar na Europa, venceu a Europa. E mais que isso, goleou o preconceito. Essa é a segunda final de Liga dos Campeões que Vini Júnior marca o gol da vitória. O gol é muito importante no futebol. Porque decide. Dá título. É o momento de êxtase, mas nesse caso representa a medalha e os troféus conquistados por ele. É o ato final. O drible significa toda a trajetória do garoto para chegar lá. E ele chegou. E como no roteiro de um filme, onde o final é sempre feliz, o desejo é que Vini Júnior seja o mocinho e o preconceito o bandido. E que o bem sempre vença!
JOSÉ FILHO
É jornalista em Palmas