Quando criança não compreendíamos muito esse movimento incessante e às vezes confuso do tempo, muito menos nos atínhamos à cronologia matemática das idades. Não percebíamos muito bem como o tempo passava.
A preocupação que nos ligava a esse fenômeno era apenas a ansiedade em atingir os dezoito anos, que no conceito fático jurídico oferecia-nos o passaporte para podermos fazer muitas coisas que os homens adultos rotularam como permitidas somente para depois daquela idade.
Os anos, os meses, os dias, as horas e tudo mais, giravam tão somente em torno dos momentos tão intensos que vivíamos, talvez poucos, diga-se de passagem, os tenham vivido como aqueles que os passaram numa cidade do interior ou numa fazenda, embora cada um tenha particularidades e detalhes da infância e adolescência guardados no mais íntimo do coração e da alma.
As brincadeiras nos quintais, a lembrança dos primeiros e inéditos acontecimentos em comunhão com a natureza; as árvores se embelezando numa gestação fértil e sadia para nos fornecerem as delícias das frutas desejadas (incluindo aí as dos quintais dos vizinhos); os banhos escondidos dos pais em córregos da redondeza, onde querendo ou não, aprendíamos a nadar para não morrermos afogados, safando-nos dos empurrões de primos e amigos, que não se preocupavam se sabíamos ou não sair da situação; os locais que se transformavam em autênticas arenas para disputas de jogos de bola de gude e campeonatos de pião, e nos dias chuvosos, para disputas de jogos de finca; as praças transformadas em estádios de futebol… Esses mesmos locais, que nas noites enluaradas serviam para as brincadeiras de esconde-esconde, salto à distância e altura, queimada e tantas outras, transformando cada espaço em realização de verdadeira olimpíada de ingenuidade e felicidade.
Nas férias indo para a fazenda dos avós, dos pais ou dos tios, para num convívio saudável com irmãos ou primos, estabelecendo um contato direto com a natureza pura e bela. Sem nos esquecermos do leite tomado ainda no curral na ordenha diária matinal.
Agora, num reencontro imaginário com aquele mundo que foi tão generoso para conosco, com as pessoas que tanto amamos e continuamos a amar, constatamos que o tempo ao aliar-se com a idade, nos transforma em outras pessoas. Cada um a seu modo: alguns poetas e sonhadores, outros, criaturas que não creem muito nos sonhos e vivem por conta, exclusivamente e convencidos, do apego aos bens materiais e do dinheiro; outros, narcisistas curtindo, exaltando e venerando a própria imagem e os feitos, que por obrigação da profissão escolhida foram realizados na vida, mas que assim são felizes. Cada um seguindo a filosofia de vida que escolheu para si.
Mas de uma realidade temos certeza: todos nós temos guardados na alma e nas recordações, a terra natal, quer seja uma cidadezinha ou uma grande metrópole, a serra que a emoldurava, o córrego ou rio cristalinos que a banhavam, os locais preferidos para brincadeiras da infância, no nosso caso, as praças, os becos, os loucos ou os bobos que perambulavam pelas ruas. Muitos ao retornarem a esses locais, não observam que os córregos de águas cristalinas que banharam nossas infâncias e outros locais que nos abrigaram na pureza daquela época e idades, não existem mais.
É por isso que conclamamos os contemporâneos e os jovens de hoje, para que não deixemos passar as oportunidades que nos são oferecidas, os detalhes e reencontros que nos são oportunizados e vivamos com intensidade esse sentimento, que é a turbina que move o mundo, que independe da condição material e que só exige de cada um tão somente a grandeza de coração e do sentimento maior que o ser humano pode trazer dentro de si: O AMOR.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com