Crítica e pedagogicamente, este artigo discute alguns aspectos a respeito da nomeação dada às obras literárias publicadas por escritores que residem ou residiram (há escritores que deixaram um grande legado literário, a começar por Fidêncio Bogo e Francisco Concesso) em algum dos 139 municípios do estado do Tocantins.
As obras literárias publicadas por escritores que vivem/viveram no estado do Tocantins recebem diferentes nomeações: literatura produzida no Tocantins, manifestações literárias no Tocantins e literatura tocantinense. Nesse contexto, as obras: O quati e outros contos, de Fidêncio Bogo; As Tocantinas, de Célio Pedreira, são de leitura indispensáveis em razão do espaço que elas ocuparam, por exemplo, em exames vestibulares.
O rótulo literário, de modo algum, jamais será o enfoque da publicação de uma determinada obra, pois, segundo Antoine Campagnon, é fundamental, antes de tudo, identificar qual valor essa produção quer transmitir aos cidadãos, principalmente aqueles que são leitores de mão cheia. Convém, portanto, questionar se ela é útil à vida em todos os seus aspectos e ao lugar que ela deve ocupar na escola, desde o nível básico ou superior. Sobretudo, e segundo aponta Antonio Candido, interessa, também, observar a contribuição que a obra literária dará à formação humana em seu aspecto mais profundo da palavra.
O francês Antoine Compagnon, produziu um dos mais importantes textos, Literatura para quê, a respeito do papel que a literatura ocupara em diferentes espaços, sendo o da escola e o mais importante deles. Nesse enfoque, o título deste artigo assemelha-se, ao mesmo tempo em que parafraseia, a um trabalho que reflete o peso literário para a formação de leitores.
O recorte ao termo “literatura tocantinense” dá sentido ao grande esforço que os escritores do estado do Tocantins, considere-se para essa caracterização aqueles que publicaram alguma obra literária durante sua vivência no Estado mais quente do território nacional. Nesse sentido, a literatura tocantinense tem alcançado destaque em razão da arte literária produzida por nomes (apenas para citar alguns) como: Francisco Concesso, Isabel Dias Neves, Orestes Branquinho, Janete Santos, Luiza Helena, jjLeando, Edson Gallo, Alexandre Brito, Francisco Neto, Osmar Casagrande, Célio Pedreira, Ronaldo Teixeira, Rhoselly Xavier, Rosely Camargo, Gilson Cavalcante, Súsie Fernandes, Luciene Ribeiro, Alice Nardes, André Goveia, Arézio Soto, Carlos de Bayma, Celine Azevedo, Cleber Toledo, Fabiana Oliveira, Fortes Sobrinho, Gislene Camargos, Janaína Senem, Jèff Jácom’e, Leomar Alves, Maria da Ajuda, Orion Milhomem, Pedro Tierra, Pedro Albeirice, Raymundo Aires, Leomar Alves, Symone Elias, Tamires Iwanczuk, Vasni de Almeida, Tião Pinheiro, Zacarias Martins, Rozilda Euzebio, Martha Vieira, Lia Testa, Jonas Mendonça, Deise Raquel, Creuza Cruz.
A lista na qual consta Creuza Cruz como a última menção, representa apenas o início do registro de nomes que, de certo modo, têm contribuído para difusão da literatura tocantinense (acresce-se, quase que diariamente, novos nomes a esse rol literário).
Na vertente do que propôs Compagnon, a literatura tocantinense alcança resposta crítica e reflexiva a respeito de seu “para quê” mediante a possibilidade de percepção do potencial que ela pode oferecer ao ensino, à pesquisa e ao estudo literário desde a educação básica à superior no estado do Tocantins.
No enfoque de uma breve discussão sobre os apontamentos que norteiam a literatura tocantinense sob os termos “por que e para quê”, as primeiras notas de viés crítico-literário dizem respeito à obra Cyntia. Publicada no ano de 1989 por Creuza Cruz, do município de Rio dos Bois, a obra corresponde, segundo o professor Odi Alexander e a professora Luciene Ribeiro (autores do capítulo “Desvendando Cyntia”, publicado na obra “Caminhos históricos, sociais e pedagógicos da literatura tocantinense pela Editora Unitins”), a um dos primeiros textos literários publicados no Tocantins.
Classificada em romance, Cyntia tem o ponto mais alto do seu desfecho quando a narrativa aponta para a aprovação da própria autora para o cargo de professora. Além disso, a obra dá ênfase aos desafios que a personagem enfrentou desde o seu nascimento até os momentos de enfrentamento de obstáculos resultantes da perda de familiares e de decepções amorosas. Tal qual se apresenta, a obra corresponde a um convite à leitura de situações que marcam a realidade social. Além disso, corresponde a um romance que se desdobra entre a realização pessoal e o contentamento com as belezas naturais do estado do Tocantins.
A obra O quati e outros contos, publicada pelo escritor Fidêncio Bogo, compõe-se de contos que oferecem ao leitor, ao estudante e ao pesquisador, diversos questionamentos a respeito da fauna e da flora, da proteção ao meio ambiente, do cuidado com os espaços rurais semelhante ao urbano. É, também, uma obra que provoca a necessidade de estudo relacionado à língua portuguesa, principalmente quando esta atinge discussões atreladas a fatores sociais conhecidos, por exemplo, como preconceito linguístico.
Os professores, os estudantes e os cidadãos que têm amplo interesse pela causa animal, principalmente pela causa pet (todos os cidadãos devem cuidar dos animais), as obras O gato Dom e Saudades do meu gato Dom, do escritor Francisco Neto são as indicações de maior destaque.
A preservação da fauna corresponde a um dos mais acentuados temas discutidos desde o ensino fundamental. Nesse sentido, a obra Lara: a arara-azul do cerrado tocantinense, de Luciene Ribeiro, diz respeito a um convite a respeito da proteção aos animais silvestres, bem como aos cuidados com as queimadas, algo que marca de modo sangrento o solo tocantinense.
O investimento energético, de certo modo, representa avanços financeiros; no entanto, conforme discutido na obra O que vi (e registrei) no caminho das águas, de Súsie Fernandes, os lagos resultantes desses empreendimentos podem provocar desajustes na vida laboral dos cidadãos que sobreviviam da força do turismo.
O incentivo à leitura literária ao público infantojuvenil é o carro-chefe da produção de Rozilda Eusébio. Em Leituras fantásticas, o universo do gênero conto é explorado como formação do leitor na fase intermediária do ensino fundamental.
A literatura tocantinense, narrada a partir dos instigantes contos de jjLeandro, conduz o leitor, principalmente aquele que se dedica à pesquisa em níveis mais avançados, a um mergulho pelas obras O velório de mais de 20 anos e A morte no bordado.
O reconhecimento do lugar de voz, a valorização do respeito e o enfrentamento do racismo são temáticas pedagógicas exploradas pelos escritores Leomar Alves e Sueli Marques na obra Vidas além do racismo. Nela os autores levantam provocações necessárias à realidade social e aos aspectos mais caros da vida em sociedade, pois, segundo, Cândido, a literatura é fundamental porque tem grande contribuição na humanização dos cidadãos.
Isenta do esgotamento de novas reflexões críticas, ou de jamais cristalizar sua essência estética, a literatura tocantinense alcança a incursão explicativa de seu “por que” sob o enfoque de uma literatura que está em crescente publicação em razão do esforço financeiro de cada escritor, bem como do apoio dado pelo Ministério da Cultura a partir de seus diferentes programas de incentivo à produção literária.
Pedagogicamente, o “para quê” da literatura tocantinense pode ser percebido em razão de sua contribuição para a realização de estudos na escola, bem para a execução de pesquisas iniciadas na graduação e sequenciadas na especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado.
RUBENS MARTINS DA SILVA
É professor universitário, coordenador do grupo de pesquisa GEPLIT/CNPq/Unitins, pesquisador da literatura tocantinense e administrador do site www.literaturatocantinense.com.br