À primeira análise, Brejinho de Nazaré pode ser visto como mais um município discreto no interior do Tocantins. Com uma população de 4.725 pessoas (Censo IBGE 2022) e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado médio — 0,686, de acordo com dados de 2010 — a cidade não atinge os padrões de qualidade de vida observados em algumas pequenas localidades do Sul do Brasil. Exemplos são Coronel Pilar (RS), que possui um IDH de 0,727 e apenas 1.607 residentes; Santa Tereza (RS), que alcança 0,746 com 1.505 habitantes; e Águas de São Pedro (SP), que se destaca nacionalmente com um IDH de 0,854 e 2.780 moradores.
Todas essas cidades, reconhecidas por seus altos índices de desenvolvimento, encontram-se a distâncias relativamente próximas — entre 110 e 185 km — de suas capitais estaduais, facilitando o acesso a serviços e oportunidades. Fazer uma comparação com Brejinho vai além de ser equitativo; é fundamental. Esses municípios demonstram que o número de habitantes e a posição geográfica não representam obstáculos insuperáveis ao desenvolvimento. Pelo contrário, eles ilustram a possibilidade de despertar o potencial ainda não explorado em regiões como a nossa.
Portanto, é um erro acreditar que Brejinho de Nazaré está fadado a permanecer estagnado. O destino de uma cidade não é determinado apenas pelos dados que apresenta atualmente, mas principalmente pela habilidade de seus habitantes de sonhar, traçar planos e colocar em prática. Nesse aspecto, Brejinho se destaca como um verdadeiro gigante em desenvolvimento. Entretanto, é um equívoco pensar que Brejinho de Nazaré está destinado a permanecer inalterado.
Recentemente, encontrei um artigo intitulado “Municípios novos e pouco populosos tendem a ser menos desenvolvidos”, escrito por Katna Baran para o site Gazeta do Cerrado. Em certa medida, concordo com a avaliação apresentada, principalmente no que se refere a pequenas cidades afastadas das capitais. Contudo, essa lógica não se aplica de forma integral a Brejinho de Nazaré. Situado a apenas 110 km de Palmas e estrategicamente posicionado no mapa de Tocantins, Brejinho possui a chance única de se transformar até o final de 2028.
Análises de localidades como Coronel Pilar (RS), Santa Tereza (RS) e Águas de São Pedro (SP) evidenciam que pequenas cidades, quando adequadamente organizadas e estruturadas, têm a capacidade de aumentar seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e demonstrar que o desenvolvimento não está relacionado apenas ao seu tamanho. Brejinho é capaz — e deve — seguir por essa mesma trajetória.
O exemplo provém das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Coronel Pilar, que apresenta apenas 3% da população sem acesso à alfabetização, fundamenta sua economia em atividades do setor primário, como a agricultura, avicultura, suinocultura, vitivinicultura e o turismo rural. Santa Tereza, por outro lado, tem um índice ainda mais reduzido de analfabetismo — 2,1% — e se destaca pela produção de uvas, hortaliças e um turismo que valoriza a natureza e a cultura local. Águas de São Pedro, por sua vez, possui uma taxa de analfabetismo de apenas 1,2% e sua economia é quase que inteiramente baseada no turismo hidromineral, conhecido pela qualidade medicinal de suas águas.
Todas essas cidades apresentam população consideravelmente inferiores à de Brejinho de Nazaré, mas compartilham aspectos econômicos similares, como a expressiva atuação da agricultura familiar e o potencial para o turismo. A distinção se dá na maneira como esses recursos são aproveitados e transformados em progresso.
Com base no Censo de 2022, Brejinho ainda lida com problemas prementes: aproximadamente 14% dos habitantes, totalizando mais de 500 indivíduos, são analfabetos. A economia local continua sem crescimento, mesmo com a disponibilidade de ricos recursos naturais, como o Lago do Rio Tocantins, o Rio Crixás e vários riachos, além de um potencial significativo em agricultura familiar e criação de peixes.
É fundamental entender que Brejinho de Nazaré não está fadado a permanecer estagnado. Ao contrário, possui os instrumentos necessários para progredir. O que se necessita é uma abordagem definida, integrada e comprometida com o desenvolvimento sustentável das pessoas. Aposta em educação de excelência, aprimoramento da produção rural, valorização dos recursos naturais e incentivo ao turismo ecológico são opções viáveis e promissoras para tornar o município uma referência no Norte do Brasil. E quanto a Brejinho? Ainda dá para tomar uma atitude.
O primeiro passo é perceber que a evolução do IDH envolve, de forma imprescindível, três aspectos: educação, saúde e renda. A situação atual da educação demanda uma transformação significativa: é essencial aumentar os recursos para a capacitação de professores, implementar programas para reduzir a evasão escolar e estabelecer colaborações com instituições técnicas visando os jovens. É imprescindível fortalecer a atenção primária à saúde, aprimorar o suporte a famílias em condições de vulnerabilidade e investir em iniciativas de saúde preventiva, assim como os modelos implementados nas regiões do Sul do país.
A geração de renda demanda inovação. Brejinho deve superar os métodos convencionais de produção agrícola e pecuária. O desenvolvimento de agroindústrias, o turismo sustentável e a formação de pequenas cooperativas podem ser fundamentais para impulsionar a economia da região. Sua proximidade com Palmas oferece oportunidades para otimizar a logística e o comércio, facilitando a distribuição de produtos e a atração de novos investimentos.
Certamente, a trajetória será desafiadora. A cidade lida com riscos evidentes, como a saída de jovens e a alta dependência de transferências dos governos estadual e federal. Além disso, em um cenário de alterações climáticas e instabilidade econômica, a inação representa, na realidade, um retrocesso.
Portanto, até 2028, Brejinho de Nazaré deve decidir: assumir o papel de protagonista de sua trajetória ou continuar à deriva dos progressos que Tocantins e Brasil demandam de seus municípios menores. Ao aplicar de forma estratégica recursos em educação, saúde e na diversificação da economia, Brejinho tem a possibilidade, em um breve período, de alcançar — e até mesmo ultrapassar — os padrões de qualidade de vida das cidades do Sul.
O tempo é precioso e não pode ser desperdiçado. O futuro já se iniciou — e Brejinho tem o potencial de se tornar, no Tocantins, uma cidade pequena que serve como um excelente modelo.
FERNANDO LIMA
É Natural de Brejinho de Nazaré. Possui graduação em Ciências Contábeis e especialização em Gestão e Auditoria na Administração Pública. Mestre profissional pelo Centro Universitário Alves Faria e doutor em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). É professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão.