Desde os tempos mais antigos da história da humanidade, o nome dado a um indivíduo sempre foi revelador de sua natureza, de sua essência mais íntima. O nome é tradução do sentido da vida.
Na cultura hebraica, nome é portador de um projeto, de uma missão inscrita na carne do tempo. Os nomes bíblicos carregam significados que se entrelaçam com o fluxo da existência. Assim, Abrão tornou-se Abraão. O nome dos personagens bíblicos guarda em si o dom de ser aquilo para o qual nasceram. O nome é força vital. Quando não se tem nome – seja ele identidade construída ou memória a honrar, diz-se: “um Zé Ninguém”.
Em nossa cultura, damos nome aos seres humanos como quem deposita sobre eles um desejo, uma direção. Nomeamos também os animais, as coisas, os lugares. Nome é vocação. É chamado ao ser.
Vivemos hoje um contexto internacional decisivo, no qual a escolha de um nome para o novo pontífice revelará muito do horizonte de sua missão, da eclesiologia que o anima e dos ventos que soprarão sobre a Igreja nos tempos vindouros.
Importa dizer: um nome não se escolhe ao acaso. Não é folha levada pelo vento. Um nome pode ser sopro que abre caminhos, que anuncia novos ares. A escolha de um nome, mais do que gesto simbólico, pode indicar a estação que se aproxima.
Francisco foi um nome improvável para um Papa. E, no entanto, sua identidade fez florir a roseira em meio ao deserto. Em tempos de polarização, ódio e guerras, o nome Francisco traduziu um modo novo de existir no mundo.
Nomes falam da vida, mesmo quando ela é tumultuada, desordenada, conflituosa. Falam da esperança de um recomeço.
Qual será o nome do novo Papa?
Em tempos de sede por justiça, seria bem-vindo um nome que fizesse correr o direito como torrente no deserto. Um nome que revelasse a força da Palavra de Deus e não apenas surpreendesse pelo inusitado ou perpetuasse uma lógica numérica. O nome há de iluminar o sentido da missão.
É sempre motivo de inquietação quando pais atribuem a uma criança um nome que não a abraça, que não a acolhe, que não conversa com sua existência. Nomes assim ferem. Provocam desconforto, preconceitos, exclusões.
Que, neste tempo de “eleição papal”, o Espírito sopre impetuosamente e inspire o nome do novo Papa. Que, à maneira de Abrão, que teve seu nome transformado, o cardeal eleito tenha também o seu nome transfigurado. E que esse nome venha a inspirar a humanidade a cultivar uma nova primavera eclesial.
JAIRO BARBOSA MOREIRA
É filósofo e doutor em Educação pela Universidade Federal de Goiás. Atua como padre na paróquia São Pedro – Novo Planalto, da diocese de Cristalândia.