O ex-juiz e advogado Márlon Reis (Rede) começou 2018 como a principal novidade política num Estado marcado apenas por notícias ruins nesse campo e sem muita perspectiva positiva no horizonte. Seu desempenho na suplementar mostrou ao Tocantins que existe demanda de parte significativa do eleitorado por um modelo mais puro de candidatura, descomprometido com a política tradicional e seus vícios. Márlon, entretanto, precipitou-se nestas eleições gerais e parece não conseguir o desempenho do primeiro turno, por todos os erros cometidos que a coluna volta e meia repete.
[bs-quote quote=”Claro que não passa na cabeça de quem o conhece que Márlon Reis se submeteria a papel tão vil. Contudo, como comunicação não é o que se diz mas o que o outro entende, o candidato da Rede precisa tomar o cuidado, ao andar no limiar do kamikaze e do ‘laranja’ para não ser confundido” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Restando menos de duas semanas para o final da disputa, uma série de pesquisas coloca o ex-juiz na faixa de 7% a 8% das intenções de voto. A campanha também entrou numa crise financeira, o que levou o candidato a ter que enxugar os custos, dispensando a equipe de comunicação, ainda que seja dono do segundo maior tempo de rádio e TV. Mas, sem recursos, todo esse patrimônio eleitoral não passa de latifúndio improdutivo.
Assim, Márlon parece que decidiu ir para o tudo ou nada, e ligou toda a sua artilharia contra o governador Mauro Carlesse (PHS). Dessa forma, o candidato da Rede incorporou o papel de kamikaze, os pilotos japoneses que, nos momentos finais da Segunda Guerra Mundial, carregavam seus aviões de explosivos e realizavam ataques suicidas contra navios dos Aliados no Oceano Pacífico.
Parece que foi a opção de Márlon nesta reta final das eleições de 2018. No entanto, além do governador, ele deveria mirar seu avião cheio de bombas também para o candidato do PSB, Carlos Amastha. Afinal, tem que dizer ao eleitor do ex-prefeito de Palmas porque o candidato da Rede pode ser o nome para encarar o Palácio num cada dia mais remoto segundo turno, e não o pessebista. Ambos têm um eleitorado muito parecido — os descontentes e que desejam a mudança da política tocantinense —, mas Márlon está sendo preterido. Por que que preferem Amastha? Essa era a indagação que deveria preocupar o ex-juiz neste momento e nortear suas ações kamikazes nos últimos dias de campanha.
É uma questão importante pela atual conjuntura das eleições e pela história eleitoral do Tocantins. O Estado, desde sua criação, acumula casos de “laranjas” que se prestaram ao papel de bater em um só dos adversários mais fortes. É uma espécie de pistoleiro sem armas. A ele cabe atacar com toda fúria, na TV e no rádio, o adversário de seu contratante e, nos debates, a vítima será alvo das perguntas mais inoportunas, constrangedoras, infames e agressivas, enquanto o candidato que paga a conta posa de estadista.
Ao longo das eleições estaduais e municipais, sobretudo em Palmas, teve personagem que se tornou até folclórico na política regional por se evidenciar no cumprimento desse papel. Sem a menor chance de vencer, candidatava-se para faturar um bom dinheiro como pistoleiro eleitoral.
Claro que não passa na cabeça de quem o conhece que Márlon Reis se submeteria a papel tão vil. Contudo, como comunicação não é o que se diz mas o que o outro entende, o candidato da Rede precisa tomar o cuidado, ao andar no limiar do kamikaze e do “laranja” para não ser confundido.
Afinal, depois de comprometer o próprio discurso com as composições mal feitas na convenção, seria uma total tragédia para o histórico pessoal levar essa fama indevidamente.
Não teria nada pior para alguém que começou este longo processo eleitoral como a maior novidade da política tocantinense.
CT, Palmas, 25 de setembro de 2018.