A leitura e a escrita são consideradas os dois pilares da educação e, consequentemente, da formação do indivíduo. Mas em que consiste essas dimensões tão fundamentais para a formação da pessoa? A leitura é o ato de ler tanto na dimensão física quanto a leitura de mundo. A leitura física parte da relação direta entre o livro e seu leitor, quem apreende verdadeiramente o que leu ressignifica aquilo que leu. O entendimento consolidado é que a boa leitura gera novas leituras, não só o desejo de ler mais, mas a apreensão de novas leituras, diga-se, novos posicionamentos, novos pontos de vista.
[bs-quote quote=”O hábito de escrever é ‘filho primogênito’ do hábito de ler. O mesmo hábito que proporciona a leitura proporcionará a escrita. Ou seja, é impossível quem ler não se sentir atraído para escrever” style=”default” align=”right” author_name=”RAYLINN BARROS DA SILVA” author_job=”É doutorando e mestre em História” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/01/raylinn-barros60.jpg”][/bs-quote]
A importância do hábito da leitura é o que proporciona a existência de bons leitores. Esse hábito, deve surgir na infância, no seio familiar. A criança adquire o hábito de ler se o próprio exemplo começar de casa, a partir do incentivo da família. Pais leitores influenciarão filhos leitores. E nesse hábito de leitura, a família proporcionará à escola um aluno leitor, que compreende que sua formação escolar passará pela leitura como instrumento indispensável à formação dele como indivíduo.
Mas o que resulta de um indivíduo leitor? Primeiramente, ele conseguirá emitir opinião sobre os mais diversificados temas, do cotidiano aos assuntos mais complexos. Segundo, contará com arcabouço argumentativo para se fazer ouvir e, na medida do possível, fazer valer a sua opinião, antes, não mais embasada em vagas interpretações, mas em sólidas argumentações. Não é exagero afirmar que tudo no mundo parte da leitura. Ela está presente em todas as situações inerentes à nossa existência.
Dominick LaCapra, historiador norte-americano da chamada história intelectual, defende que tudo o que existe em nossa volta é texto. Para ele, todas as definições da realidade estão comprometidas em processos textuais. Para LaCapra, é urgente a necessidade de se repensar os processos de interação entre linguagem e o mundo. Podemos extrair do pensamento desse estudioso que, se tudo em nossa volta é texto, a leitura se impõe não mais como uma necessidade, mas como uma condição obrigatória para a existência humana. É essa a necessidade do estabelecimento de uma nova interação entre linguagem e o mundo, tendo como ator nesse processo, o leitor.
O outro lado do processo de leitura e que dele resulta é a escrita. A escrita está muito além do simples gesto de escrever. Primeiro, é correto dizer que a escrita é indissociada da leitura. Arrisco afirmar que ela é, para ser bem exercida, totalmente dependente da leitura. São dimensões inseparáveis. Ou seja, somente escreverá bem quem ler bem. A dependência da escrita em relação à leitura consiste na formação de um arsenal argumentativo que se fará presente de forma criativa no texto escrito.
O hábito de escrever é “filho primogênito” do hábito de ler. O mesmo hábito que proporciona a leitura proporcionará a escrita. Ou seja, é impossível quem ler não se sentir atraído para escrever. É como se, a partir da leitura e do mundo que se abre ao leitor, a escrita se impusesse como uma obrigação, um resultado natural desse processo. A escrita é, portanto, totalmente dependente da leitura.
Para Michel Foucault, filósofo francês, existe dois tipos de escrita: a hipomnemata, espécie de cadernos, anotações, documentos antigos que se relidos possibilitariam a meditação e, as correspondências que, para ele, estabeleciam a existência de um interlocutor. Podemos dizer que a escrita, em qualquer das suas dimensões, revela os movimentos do pensamento. Por que? Porque no ato de escrever, quem o faz escreve para si, mas também para os outros. Nesse sentido, a escrita seria um exercício racional, ela recolhe a leitura antes feita e, o autor, se recolhe nela.
Como sugerido no título desta reflexão, por que leitura e escrita são hábitos que libertam? Porque só elas proporcionam uma outra visão de mundo, leitura própria de cada indivíduo, a escrita também é particular de cada ser humano. Leituras e escritas são acima de tudo muito particulares de cada pessoa. Elas possuem um caráter libertador, primeiro, proporcionam o autoconhecimento de si mesmo, segundo, libertam, a partir desse conhecimento adquirido, os grilhões que nos amarram no senso comum que aprisionam muitos na “caverna” da ignorância como dizia o filósofo Platão.
Finalmente, não é exagero dizer que a leitura e a escrita proporcionam respostas a tudo que precisamos entender. Ambas transformam as coisas lidas, ouvidas e vistas. A partir delas, constrói-se sentidos para a nossa existência, nesse sentido insisto, ambas são um exercício de ação racional, pois através delas, compreendemos o mundo em nossa volta, sob todos os ângulos. Ou seja, quem ler e escreve, interpreta e instrui, tanto a si mesmo, como os demais.
RAYLINN BARROS DA SILVA
É doutorando e mestre em História pela Universidade Federal de Goiás
raylinn_barros@hotmail.com